O adeus do PSG ao sonho europeu

O jogo de Paris, apelidado por muitos como uma possível final antecipada, trouxe a obrigatoriedade da equipa local, por estar em desvantagem na eliminatória, de arranjar argumentos ofensivos que pudessem colocar problemas à organização defensiva do Real Madrid. E se individualmente esses argumentos existiam, colectivamente a equipa de Unai Emery ficou muito aquém do que podia fazer. Mas já lá vamos…

Zidane optou por uma estrutura de 4x4x2 clássico, acabando por deixar os cérebros Kroos e Modric no banco e optando por um corredor central apenas com Casemiro e Kovacic, ficando os corredores laterais entregues a Asensio e Lucas Vasquez, com Cristiano Ronaldo e Benzema na frente. Esta disposição estrutural do Real creio que surpreendeu um pouco a equipa parisiense que teve muitas dificuldades em criar situações “limpas” de golo, não pela enorme competência táctica dos de Madrid, mas sobretudo pela dinâmica muito conservadora que a equipa parisiense apresentou no seu ataque posicional, o que lhe retirou profundidade, dificuldades nas ligações entre as fases ofensivas e possibilidade de explorar os melhores espaços, sobretudo o espaço entre sectores da equipa de Zidane.

Em construção, o PSG baixava os seus médios interiores Rabiot e Verratti para próximo do seu médio mais defensivo Thiago Motta e dos centrais, estes praticamente sem qualquer protagonismo no que a este momento diz respeito, basicamente só a tocar nos laterais ou nos médios que baixavam para pegar. Este posicionamento na zona intermédia, atráía a linha média de quatro do Real Madrid a subir e a pressionar, ao passo que a sua linha defensiva não acompanhava esse movimento, abrindo uma cratera entre sector defensivo e intermédio. Aí, poucas vezes Di Maria, Cavani ou Mbappé apareceram a oferecer solução entre linhas e quando o fizeram, poucas vezes foram solicitados. Para além disso, foi um jogo muito pouco pensado. Muita pressa, pouca criatividade, pouca inteligência. E se contra o Real Madrid não houver competência em ataque posicional, muito possivelmente perde-se o jogo, dadas as mais valias individuais da equipa madridista quando recupera a bola. E foi o que aconteceu.

Olhando ao que foi o jogo, creio que a equipa parisiense poderia ter optado por outra dinâmica na sua primeira fase de construção e se o fizesse, criaria muitos mais problemas ao seu adversário.

  • Maior paciência na sua primeira e segunda fase de construção. Trabalhar a bola de forma a mover o adversário e a criar espaços para entrar por fora da primeira linha de pressão do Real Madrid ou nas suas costas;
  • Não havia necessidade de colocar tantos jogadores na sua primeira fase de construção, bastaria os centrais, o seu médio defensivo e o Guarda Redes (e se quisessem até poderiam colocar o médio defensivo nas costas da primeira linha de pressão do Real), que com maior ou menor dificuldade e dado o pouco rigor defensivo quer de Cristiano Ronaldo quer de Benzema, teriam condições para circular com paciência até haver espaço para um dos centrais progredir em condução, para posteriormente ligar;
  • Os seus interiores Rabiot e Verratti, em vez de baixar tanto, poderiam colocar-se entre sectores onde receberiam com alguma facilidade e potenciariam situações apenas com a linha defensiva do Real pela frente. Se baixassem, atraíam linha média do Real a subir a pressionar e com isso abriam-se espaços entre linhas que os três da frente poderiam explorar. Quando aconteceu, os caminhos escolhidos foram outros.

 

 

Sobre José Carlos Monteiro 47 artigos
Treinador de Futebol, Uefa B, com percurso e experiência em campeonatos nacionais nos escalões de formação. Colaborador como observador e analista em equipas técnicas na Primeira Liga. Alia a paixão pelo treino e pelo jogo à analise de jogo.

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