Planeamento e Estratégia – Como Jesus preparou o Sporting para bater o Rio Ave

Ontem em Alvalade, assistiu-se a um jogo do ponto de vista táctico e estratégico extremamente rico. Duas organizações colectivas bem vincadas pelos seus treinadores, com o factor da estratégia a assumir grande relevância no desenrolar do jogo. O Sporting venceu e esse triunfo teve muito do dedo e do trabalho do seu treinador na preparação estratégica para este jogo. Mas já lá vamos…

Surpreendeu Miguel Cardoso, ao apresentar em Alvalade uma estrutura diferente da que tem habitualmente apresentado, apresentando-se em 3x4x3 ou 3x4x2x1 em organização ofensiva e em 5x4x1 em organização defensiva. Mudou a estrutura, mudou a dinâmica em termos de organização defensiva, com a inclusão de mais um homem na sua última linha e o retirar de um jogador da sua primeira linha de pressão, mas ofensivamente, creio que não mudou absolutamente nada. As ideias desde a fase de construção até zonas de criação, mantiveram-se intactas, assim como os posicionamentos. Foi um Rio Ave absolutamente fiel a si próprio, saindo a jogar, tentando atrair e partir o adversário, chamando-o a pressionar em zonas de construção para depois explorar os espaços entre linhas, tentando sempre ligar as fases ofensivas de pé para pé, como o faz habitualmente. Apesar das boas intenções, sentiu muitas dificuldades em criar mossa ao último reduto leonino, mais por mérito dos comandados de Jorge Jesus, do que por demérito da equipa vilacondense e sentiu particulares dificuldades, no momento em que perdia a bola e o Sporting saía em velocidade para ataque rápido ou contra ataque.

Do outro lado, um jogo extremamente competente do Sporting em todas as fases do jogo. Jorge Jesus preparou muito bem este jogo. Sabendo das dificuldades que o Rio Ave poderia criar com bola, montou uma estratégia que impediu que a equipa vilacondense tivesse fluidez e capacidade para sair com critério. Desde logo, a pressão alta a todo o instante, sobretudo na primeira parte. Foi uma primeira parte intensa e de alta pedalada para a equipa leonina. À saída a três do Rio Ave, respondia o Sporting com três jogadores sobre os três centrais vilacondenses e quem pressionava no corredor central tinha ordens para sair a Cássio também, com os dois médios centro Battaglia e William a sair a apertar pelas costas o duplo pivot do Rio Ave, os laterais Fábio Coentrão e Piccini muitas vezes a saltar alto com os alas (Nadjack e Yuri) conforme o lado da bola e quando não o faziam, preocupavam-se individualmente com os falsos extremos que o Rio Ave colocava entre linhas (Novais e Diego). Se os Piccini ou Coentrão saíssem a apertar os alas, o Sporting assumia o risco com Mathieu e Coates sobre Novais ou Diego.

 

A cada recuperação, se possível a saída em transição para ataque rápido ou contra ataque, explorando o espaço para correr. Menos elementos do Rio Ave para enfrentar, aproveitando o facto da equipa vilacondense estar desequilibrada e espaço para acelerar. Em ataque posicional, por fora e pelo corredor direito, aproveitando a dinãmica imposta por Gélson, ou pelo corredor esquerdo, com Rúben Ribeiro a combinar bem com um Fábio Coentrão que ofensivamente fez relembrar outros tempos, tempos esses que o levaram a chegar ao Real Madrid. Para além dos corredores laterais, creio que em ataque posicional, foi também a aproveitar muitas vezes o corredor central por Bruno Fernandes (não sabe jogar mal), quer entre sectores do Rio Ave, quer em movimentos circulares entre central e lateral, quer aparecendo detrás para a frente, ou por Gélson, vindo do corredor direito para o meio para explorar a ruptura e aproveitar o espaço entre Cássio e a alta linha defensiva vilacondense que o Sporting criou perigo.

 

Destaques individuais para o excelente jogo de William, patrão de toda a manobra ofensiva leonina, quer a ligar as saídas, quer a ligar as fases em ataque posicional, para Fábio Coentrão, extremamente dinâmico e a combinar bem pelo corredor esquerdo, para Gélson, que nem sempre decidindo bem, esteve para lá dos dois golos leoninos, em todos os lances de perigo dos leões e para Bruno Fernandes e Bas Dost. O primeiro, pela sua mobilidade entre linhas, pela capacidade a atacar a profundidade e a ligar a última fase ofensiva e o segundo, pela forma como se mostra e liga com a equipa em apoios frontais e pela capacidade de finalização que possui e que voltou a fazer a diferença.

Sobre José Carlos Monteiro 47 artigos
Treinador de Futebol, Uefa B, com percurso e experiência em campeonatos nacionais nos escalões de formação. Colaborador como observador e analista em equipas técnicas na Primeira Liga. Alia a paixão pelo treino e pelo jogo à analise de jogo.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*