A estratégia de Klopp para travar o City

Há uns anos circulava na internet um video de Klopp ainda no Dortmund a trabalhar uma linha de 4, com rápidas saídas sob o portador e posteriores ajustamentos. Um dos vários exercícios, simples, básico e que todos os que pisam a relva/pelado liderando um processo o fazem, certamente.

No jogo de quarta feira, esse trabalho, esse acordeão de jogadores que ora saem, ora recuam para dar cobertura, esteve presente em Anfield uma grande parte do tempo. O City de Guardiola adora ter bola, adora mandar com bola, adora defender com bola e tem no seu plantel jogadores que executam, que se movimentam e que põem em prática a ideia do seu líder de uma forma brilhante fazendo lembrar o Barça sob a batuta do mesmo maestro. Uma ideia apaixonante, um futebol de posse, de toque de controlo de quase ganância por não deixar mais ninguém jogar!

Klopp fez o que em tempos Mourinho tentou fazer em Madrid quando numa das muitas vezes defrontou Guardiola e o que Rui Vitória fez aquando da eliminatória com o Bayern, não tentou ter a bola mais que ele, não tentou controlar o jogo com bola, mas sim, retirar espaço e tempo para que façam o seu jogo. Os golos ajudaram a cimentar a exibição, mas desde o inicio da partida que se percebeu a ideia. Equipa curta, pouco espaço entre linhas, principalmente no corredor central, rápida e forte pressão sobre o portador da bola, para que não tivesse espaço para receber, enquadrar e progredir. Nos corredores sempre equilibrados, prevendo o 1×1 muito forte do City importava aproximar jogadores o mais rápido possível para que a qualidade individual não saísse em vantagem do corredor.

Sem jogadores para tocar, para ter bola e sabendo que não estão preparados para isso, nunca estiveram na verdade e não seria agora contra uma das melhores equipas do mundo que iam estar, a estratégia foi a mais acertada. A inteligência é fundamental com e sem bola…Após o 3-0 foi gerir, nunca muito baixos e sempre a ocupar os espaços de forma inteligente.

Podemos concordar que algumas das peças mais influentes da equipa de Manchester não estiveram nos seus melhores dias, o individual não apareceu, a posse foi lenta e o plano B raramente surtiu efeito, no entanto Klopp e os bravos operários dos Reds tiveram muito mérito na estratégia utilizada, tendo inclusive evitado qualquer remate enquadrado à sua baliza. Terão eles rotação para uma segunda mão ao mesmo nível?

 

Sobre Dejan Savicevic 91 artigos
Ricardo Galeiras Treinador, apaixonado por desporto, futebol e treino. Experiência em campeonatos nacionais na formação e atualmente ativo no futebol sénior. Colaborador na área de scouting e análise de jogo, com vários treinadores e equipas do campeonato nacional da Primeira Liga. Contacto: galeiras@gmail.com

4 Comentários

  1. Não interessa a segunda mão, se o City é espectáculo ou Liverpool também é espectáculo! Não jogam como eu gosto mas isso não vale nada, o que vale é que têm uma personalidade fantástica, vão para cima de qualquer um, com alguns grandes jogadores (poucos) e muitas ideias no lugar. Rock n’Roll!

    • Gosto da faculdade do futebol – o Barça -, do City do Guardiola (o meu treinador preferido, sem dúvida nenhuma), do Sarri, adorava o Francescoli, um uruguaio que todos pensam ser argentino. 🙂 Olha gosto muito do Rio Ave, do Shakthar do P. Fonseca, de algumas coisas das equipas do Jesus (muita coerência, muitas vezes demasiada coerência que se transforma em rigidez e parvoíce), gosto da forma como o Real Madrid quer controlar a bola e o ritmo em todos os jogos que faz. Gosto de quem se adapta pouco e/ou de quem não tem rodeios para meter em campo aquilo que pensa para a equipa.

      Resumir o Liverpool do Klopp apenas à rapidez parece-me um erro, não tenho dúvidas nenhumas que essa é uma característica essencial do que apresentam em campo, mas são bem organizados (como refere o texto) e têm três ou quatro jogadores que lhes permitem jogar diferente se o jogo pedir. E depois têm uma coragem fantástica, querem dominar todos, sufocar todos, pressionar os 90 minutos, carregar no acelerador e isso para mim é empolgante.

      Eu acho que o City é a melhor equipa da época europeia e de muito longe. Não fiquei contente pelo resultado, pode parecer isso, mas o que achei fantástico foram os tomates do Liverpool. É o City do Guardiola? Caguei. É pra cima deles…

  2. Gracias Edson, partilho da grande parte dos teus gostos…. no entanto para mim, a melhor equipa este ano, ainda se mantem o Barça, apesar de achar que quem vai papar a LC vai ser o RM, até porque ando aqui com uma teoria que a História se vai repetir :), e o Real faria o Tri :)….Gosto imenso do Sarri, Fonseca, Rio Ave…e o Braga, me encanta, e gosto muito da postura do Abel, e é também essa condição humana que me faz detestar o Pavão JJ, não lhe tenho consideração nenhuma, nem como treinador, porque como Rei Sol, que tem a mania que é, só gosta de jogadores telecomandados, e o seu futebol espelha isso…
    …ando também agora a seguir com muito gosto, a Roma de Monchi, com o Di Francesco (não mereciam o resultado pesado desta terça), a Lázio de Inzaghi…
    e o futebol espanhol, que tem muito sumo, até uma entrevista de um jogador se torna de um artigo de Manual….
    …Obrigado por me elucidares um pouco sobre o Real Madrid, uma equipa que eu gostava de conseguir gostar mais (a minha parceira é madridista :)) mas não consigo, tem grandes jogadores, mas depois aquilo no colectivo há ali algo que não me pega, não sei se são os Bale’s que por lá andam :), mas adoro os modric’s, Kovacic’s, Isco’s, Kroos, AScensio, Velasquez….
    Obrigado e desculpa a seca 🙂

    http://www.proscout.pt/os-competitivos-silenciosos-de-di-francesco/
    https://elpais.com/deportes/2018/01/08/actualidad/1515368650_150263.html
    https://elpais.com/deportes/2018/03/22/actualidad/1521754218_525403.html

  3. Acho que acima de tudo foram as péssimas exibições e desequilíbrios individuais do city, daí que o colectivo do Liverpool tenha sobressaído. Contudo, não sei se o city ganha por 4 em casa! Tenho muito expectativa de ver a nível tactico (ofensivo e defensivo) um City – Barcelona apenas a uma mão, um único jogo. De ver como tacticamente irão encontrar espaços para os desequilíbrios individuais dos talentos do city e barça.

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