Pragmatismo e eficácia no meio da turbulência – A vitória do Sporting sobre o Paços de Ferreira

FUTEBOL - Bruno Fernandes e Bas Dost, durante o jogo Sporting CP X P Ferreira, para 29 jornada da Liga NOS 2017/18, realizado no Estadio de Alvalade, em Lisboa. Domingo, 8 de Abril de 2018. (ALEXANDRE PONA/ASF)

No meio de dois dias de turbulência interna, o Sporting recebeu e venceu o Paços de Ferreira. Não foi um jogo de qualidade máxima, foi um jogo em que o Sporting cumpriu aquela que era a sua obrigação, sem deslumbrar mas sendo competente, perante um Paços de Ferreira que se apresentou em Alvalade com uma postura muito positiva, abrindo a equipa para querer jogar o jogo pelo jogo e não se remetendo apenas aos momentos defensivos do jogo.

Foi um Sporting que revelou algumas dificuldades no seu ataque posicional, sobretudo na ligação entre todas as suas fases ofensivas. O Paços até entrou melhor, procurando ter bola e tentando chegar sempre com critério a zonas de finalização. Acabou sempre por esbarrar na competente organização defensiva leonina que impedia a equipa pacense de criar. Ou seja, por vezes tinham facilidade em construir, depois em zonas mais altas tinham dificuldades em criar situações de finalização. Com bola e em ataque posicional, notei uma clara tendência da equipa pacense de tentar atrair o Sporting a um corredor lateral, para depois explorar o outro aproveitando a basculação da equipa leonina. Procuraram também abrir a equipa para jogar desde trás, tendo sido condicionados pelo Sporting que pressionou alto, partindo por vezes a equipa e condicionando a equipa pacense muitas vezes ao jogo directo.

Defensivamente, o Paços organizou-se em 4x4x2 tentando tapar os caminhos interiores do Sporting, obrigando a equipa leonina a jogar por fora com combinações exteriores e a verdade é que durante todo o jogo, teve muito sucesso no condicionar do jogo interior leonino, sobretudo quando o Sporting se encontrava em ataque posicional. Notou-se evidentes preocupações da três linhas pacenses em fechar os espaços interiores à equipa leonina, dando os corredores laterais “de borla”, para depois mudar a velocidade da pressão e acelerar sobre o portador no corredor lateral.

Quanto ao Sporting, como referi acima, teve dificuldades na ligação entre as suas fases ofensivas e notou-se alguma desarticulação de movimentos em ataque posicional na equipa leonina, fruto também da ausência dos dois habituais laterais e também da ausência de William, que permitiu a Jorge Jesus estrear Wendel, o jovem brasileiro com muito potencial e que mostrou personalidade mas ainda um pouco “fora dela” em termos tácticos, tanto ofensivamente como defensivamente, como costuma referir o treinador leonino. O Sporting com os caminhos interiores de ligação da construção com a criação tapados, não foi uma equipa demasiado paciente na procura desses espaços e quando o foi, a velocidade da circulação não era a mais indicada como poderemos comprovar no vídeo abaixo. Com Battaglia e Wendel na segunda fase de construção, sendo ambos jogadores mais capazes em condução e não tanto no passe vertical como é William Carvalho, o Sporting teve dificuldade em ligar por dentro em zonas de criação.

 

Optando pelo jogo exterior, contou muitas vezes com a desarticulação de movimentos dos laterais com os extremos. Aos movimentos interiores destes últimos, nem sempre Ristovski e Acuna davam a profundidade e largura suficiente no corredor lateral, tendo a equipa perdendo alguma ligação e consistência no seu jogo. Por isso, foi sempre mais em transições rápidas para contra ataque ou ataque rápido e com menos gente atrás da linha da bola, que o Sporting foi mais perigoso. Todavia, nas características dos jogadores leoninos, apenas Gélson e Bruno Fernandes oferecem esse tipo de verticalidade, o que torna por vezes a definição dos lances muito mais complicada de decidir, por haver poucos jogadores a aparecer vindos detrás para a frente e pelas dificuldades técnicas conhecidas de Bas Dost no que a este momento do jogo diz respeito.

Destaque ainda para as movimentações de Bruno Fernandes nas costas da linha média do Paços e a toda a largura, ou com movimentos detrás para a frente como é sintomático o primeiro golo do jogo, ou muito forte e competente a aproveitar a profundidade e rupturas entre central e lateral, quando havia espaço para entrar, dado o aclaramento dado pelo extremo do lado da bola. Está nos dois golos e de forma meritória foi talvez o melhor em campo, porque nunca sabe jogar mal e porque dá qualidade à equipa em todas as suas acções.

O Sporting venceu, cumpriu a sua obrigação de forma meritória até pelos últimos dias que se passaram, perante um Paços de Ferreira com comportamentos defensivos e ofensivos muito interessantes e que teve sempre vontade de querer jogar e discutir o resultado.

 

 

Sobre José Carlos Monteiro 47 artigos
Treinador de Futebol, Uefa B, com percurso e experiência em campeonatos nacionais nos escalões de formação. Colaborador como observador e analista em equipas técnicas na Primeira Liga. Alia a paixão pelo treino e pelo jogo à analise de jogo.

1 Comentário

  1. As características físicas são importantes.
    Os atletas do Sporting não têm velocidade.
    Gelson, Podence e Lumor são os únicos atletas com velocidade num plantel de 20 e tal jogadores.
    Bruno Fernandes apesar de não ser muito rápido, faz grandes movimentos na profundidade.
    Mas num plantel de 23 atletas… que a velocidade desmonta defesas… é preocupante, e reflete-se na forma de jogar.

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