Defender bem para atacar melhor – O Boavista de Jorge Simão

Não tenho acompanhado muito ao pormenor o trajecto de Jorge Simão no Boavista. No entanto, os bons resultados são prova de um bom trabalho e a classificação dos axadrezados assim mesmo o dita. Na passada sexta feira, tive oportunidade de observar a primeira parte do jogo de Braga e achei muito interessantes alguns comportamentos da equipa de Jorge Simão, perante um adversário altamente valioso e uma das melhores equipas portuguesas, como é o Braga de Abel.

Defensivamente, muito bem organizada a equipa do Bessa. Em 4x4x2 clássico vão variando o momento de mudar de velocidade para pressionar, após já terem condicionado a construção do adversário. Após recuperação, variabilidade de comportamentos. Primeira opção é a saída de forma vertical, usando a profundidade de Yusupha ou os movimentos de Fábio Espinho em zonas de criação, para logo se potenciar os ataques à profundidade, principalmente de Yusupha ou à largura com Renato ou Rochinha. Se não der para sair de forma vertical e rápida, aproveitando a desorganização do adversário, ficam com bola e entram em ataque posicional. Aí, processos simples e eficazes com dinâmicas interessantes nos corredores laterais e proximidade de opções ao portador da bola. Ao meio campo assimétrico, com Idris sempre mais posicional e mais preparado para as tarefas defensivas, juntam-se David Simão (anteriormente falado aqui) em zonas de segunda fase de construção e de ligação com a criação, onde se encontram já Fábio Espinho no apoio ao seu avançado centro Yussupha, movendo-se nas costas da linha média adversária e Rochinha e Renato Santos nos corredores laterais, embora com liberdade total para se moverem em terrenos interiores, contando com a ajuda dos seus laterais, Carraça e Talocha, a oferecerem largura.

Todavia, como referi acima, é a forma como bem defende e orienta a pressão que define a equipa de Jorge Simão. A capacidade de alternar o posicionamento do bloco, a forma como se movem em conjunto, a capacidade com que percebem o momento para mudar de velocidade e saltar na pressão à construção do adversário e sobretudo, o aproveitar dos momentos após a recuperação para sair de forma vertical, é algo de muito valioso na equipa do Boavista. Em Braga, pelo menos até à expulsão de Yusupha, que complicou e muito a estratégia posterior dos axadrezados, viu-se um Boavista personalizado, com capacidade para condicionar a construção do Braga, controlando primeiro e pressionando depois nos momentos certos e em bloco, obrigando os bracarenses a cometer erros na sua construção ou a bater longo e com isso, criando desconforto no adversário por não estar tão habituado a ter que jogar desta forma, aproveitando esse desconforto para causar muitos problemas na última linha bracarense.

 

Sobre José Carlos Monteiro 47 artigos
Treinador de Futebol, Uefa B, com percurso e experiência em campeonatos nacionais nos escalões de formação. Colaborador como observador e analista em equipas técnicas na Primeira Liga. Alia a paixão pelo treino e pelo jogo à analise de jogo.

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