A era da intuição

Imaginem: o ano é 1918, e dois marretas discutem acesamente numa espécie de bar. Tudo começou porque um deles garantiu ao outro que, dali a 100 anos, as equipas de futebol iriam proceder da seguinte maneira: meter um tanganhão entre centrais que abrem perigosamente para evitar pressão; laterais profundos e extremos por dentro à procura do espaço entre-linhas.

Ora, o lunático até poderia prosseguir com as suas divagações, mas essas só encontrariam razão de ser no século seguinte. Pois bem, podemos intuir daqui várias coisas: uma delas é que caso este lunático tivesse realmente existido, seria provavelmente uma das pessoas que mais perceberia de futebol. Alguém com uma visão periférica com um raio aproximado a 100 anos seria seguramente um génio ou um visionário.

Este é um cenário fictício que servirá para nos colocarmos no lugar certo. Sim, é verdade, há quem esteja muito mais evoluído no que toca ao assunto do jogo da bola. Mas isso não impedirá alguém, daqui a 100 anos, de olhar para o nosso futebol e considerá-lo totalmente rudimentar – mesmo o de Pep, mesmo o de Simeone, mesmo aquele que mais defendemos.

E em defesa do futebol surgem, como sempre, duas facções. A dualidade está sempre presente desde que alguém se apaixone por uma ideia e tente que o Mundo gire à volta da mesma. Contudo, o Universo está cá para nos demonstrar as nossas limitações. E o futebol, como parte integrante desse Universo (Luís Freitas Lobo dixit), não precisa da nossa estóica e fanática defesa. Isto porque o mesmo nunca vai aceitar um só lado. Seguindo o mesmo desígnio de uma corrida às armas, haverá sempre uma ‘contra’ que não deixará a outra impôr-se totalmente.

 

Isto porque a única coisa certa em futebol é a de que não ganharás sempre. Poderás criar hegemonias, poderás marcar uma era. Mas mesmo quem as criou vai deixando morrer aos poucos as ideias iniciais, para criar outras mais adequadas a uma realidade sempre em mutação. Outros são apanhados pela corrente, e mudam demais, perdendo totalmente a identidade. Podemos dizer, por exemplo, que Wenger nunca mais foi o mesmo depois de Mourinho; e que Mourinho nunca mais foi o mesmo depois de Guardiola. O novo surpreendeu-os tanto que nunca mais se conseguiram encontrar realmente.

Como seguir então a corrente sem nos afogarmos? Gostaria obviamente de dar uma resposta com um alcance de um século, mas as coisas não são lineares, não são pretas, nem brancas. Porém este é um desafio para todos aqueles que vêem a sua atenção e energia presas pelo futebol. Se os vossos exercícios, se as vossas convicções, se as vossas ideias, vão valer zero daqui a 30 anos (vocês próprios o vão dizer) porquê gastar tempo a defendê-las intensamente quuando podemos usar esse tempo para trazer algo DEFINITIVAMENTE novo? E esse é o melhor treinador: aquele que deixa o futebol melhor do que estava, que o ajudou a transcender. E isso não se faz perdendo tempo a defender o existente, mas sim com a atenção virada para o todo e para o totalmente novo. Cada situação é nova e terá um número infinito de respostas para dar. Já alguém dizia: de que adianta sair a jogar com três, se eles só vêm com um?

PS: este é o meu primeiro texto num sítio que me diz muito. O Lateral Esquerdo foi e é pioneiro nesta transcendência da qual falo no texto. É com um enorme orgulho, e uma ponta de vaidade, que aceitei o convite do Pedro, e tudo farei para não defraudar as expectativas. O meu nome é Marco Morais e responderei aqui pelo nick Brian Laudrup.

2 Comentários

  1. “mentes pequenas discutem pessoas.
    mentes medias discutem eventos.
    mentes brilhantes discutem ideias.”
    atribuido ao Einstein.

  2. Infelizmente há certos treinadores que não se modernizaram. Como por exemplo;o Jorge jesus;Mourinho ou wenger. Quando é assim os treinadores n vão mt longe pois todos já conhecemos o futebol deles.

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