Já percebíamos todos os momentos do jogo e o que ele te podia dar, onde o nosso colega ia pôr a bola e tudo o mais. São as tais dinâmicas que não acontecem de um dia para o outro. São muito trabalhadas ao longo da época. Aliado a essa boa dinâmica de grupo que é fundamental para as vitórias, todos nós individualmente chegámos a essa fase final em que nos sentíamos muito confortáveis nos jogos.
Paulinho, Sporting de Braga ao Jornal Record
A grande parte do sucesso / insucesso e do trabalho do treinador ocorre durante a semana. É durante a semana que se prepara a competição, e ai chegado, nem sempre o bom trabalho se traduz no resultado. Mas, com a certeza que no longo médio / longo prazo, tal se reflectirá. A época do Desportivo de Chaves que à quinta jornada somava apenas um ponto é um claro exemplo de que a avaliação do treinador não pode ser feita por um ou dois jogos, mas antes pela qualidade do que vai desenhando no seu modelo, a forma como gere o grupo, e como no processo de treino aproxima a equipa das ideias que defende. Mas, também o próprio Braga de Abel que partiu para a época com algumas dificuldades exibicionais, e alguns acertos por introduzir ao modelo, e termina a época a bater todos os seus próprios recordes.
No médio / longo prazo, tende a esbater-se o “azar” ou “sorte” da bola que bate no poste. Cada troca de treinador implica muitas vezes o quase regresso ao zero. Que naturalmente poderá ser vantajoso, quando se caminha ainda para menos que zero. Mas, tantas vezes não é esse o caso. Na presente edição da Liga, a curiosidade de ter sido o Feirense e o Vitória de Setúbal a assegurarem a manutenção. As duas equipas que não trocaram de treinador ao longo da Liga!
A forma como o Braga jogava e o bonito futebol que apresentou acabou por chamar muita atenção. Houve uma fase da época em que toda a gente admitia que o Braga era a melhor equipa a jogar em Portugal, e isso ajudou-me claramente a estar nessa lista [pré convocatória para o Mundial]. Só é possível quando há um grupo com qualidade e acabei por ser um dos beneficiados. Claro que tive o meu mérito, o de marcar de 17 golos, e sem isso, se calhar nem estava aqui a dar esta entrevista… mas há aqui um trabalho do colectivo que não posso esquecer e reconhecer, sem falsa humildade
Paulinho, Jornal Record
São várias as possibilidades para se construir um bom modelo de jogo, que aproxime a equipa das vitórias. Tudo dependerá das características e qualidade dos jogadores. Equipas como o Atletico de Simeone, o treinador mais titulado da história do Atletico, ainda que tenha perdido de forma inglória duas finais da Liga dos Campeões não vencem por acaso, ou por sorte, como os aprisionados de um estilo pensam ser verdade. Vencem porque são ultra competentes dentro da forma como idealizam vencer os seus jogos.
Assumir o jogo, querer ter mais bola, se bem trabalhado e com jogadores capazes e disponíveis para tal, não somente servirá para aproximar da vitória, mas traz também a visibilidade. Ninguém se valoriza a correr, embora tal também seja necessário e obrigatório! Mas, é a tocar na bola, é nas acções ofensivas, que o jogador cresce e exponencia o seu valor. Paulinho chegou da segunda Liga aos pré convocados para o Mundial, e o ponta de lança do Braga sabe exactamente o que mais importou no seu trajecto. A sua competência, acima de tudo, mas também a forma como um jogar certo lhe permitiu ter mais bola, ter mais lances para finalizar e para se mostrar.
No futebol existe concorrência, e as pessoas têm de perceber isso. Se houver uma liga com as 10 melhores equipas do Mundo, uma delas vai ficar em último!
Paulinho, Jornal Record
Paulinho toca no ponto em que os adeptos em Portugal estão mais atrasados. Por cá, os agentes fora do jogo são todos incapazes de entender que há duas equipas, e que o jogo não se faz e desenha apenas por uma delas. Dizia Luís Castro recentemente que a competência táctica em que os portugueses sempre foram pioneiros, cresceu bastante a nível mundial. Em Portugal continua a crer-se que o “nosso” clube joga sempre sozinho. Se não ganha é porque esteve mal, se ganha é porque esteve bem. Ignora-se sempre que há um outro lado no jogo, e com o mesmo número de jogadores! No último programa do Lateral Esquerdo, reforcei essa imagem quando me referi sobre a grande diferença que foi ver um jogo em Inglaterra (Final da FA) dos jogos da realidade nacional. A cultura desportiva, o perceber que há sempre duas forças em confronto e que ambas influenciam o jogo, e que portanto é passível de se perder sem que todos sejam uns nabos, mas porque do outro lado houve mais competência, ou que até porque a “aleatoriedade” própria de um jogo que por mais que tentes controlar, nunca o consegues na totalidade, assim o ditou.
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