O jogar que promove o jogador

Miguel Cardoso, treinador do Rio Ave, dá indicações aos jogadores durante o jogo da Primeira Liga de Futebol com o Boavista disputado no Estádio do Bessa, Porto, 12 de agosto de 2017. FERNANDO VELUDO / LUSA

Ao longo da temporada que agora teve o seu término, fui um fortíssimo seguidor do Rio Ave. Quando o processo se iniciou com Miguel Cardoso e porque fui sempre alguém que seguiu o seu trajecto já desde que era adjunto de Domingos Paciência, tive curiosidade em perceber o que poderia vir por aí. Felizmente, não me equivoquei. Gosto de bom futebol, de boas ideias e por isso diverti-me sempre que via o Rio Ave jogar. Tenho trazido ao longo das últimas semanas, artigos que ajudam a desmontar toda a ideia de jogo do Rio Ave na época que agora terminou e não ficará por aqui. É uma questão de gostos e eu não tenho particularmente problema algum em evidenciar os meus.

Durante a época, Miguel Cardoso viveu uma montanha russa de opiniões sobre a sua competência. Normal, diria eu. O futebol é assim, vivido pelas massas e por diferentes formas de pensar e por gostos distintos. Afinal, trouxe algo de novo ao futebol português neste seu regresso, trouxe a coragem, a ousadia e o divertimento que referi em artigos anteriores e que por vezes faz tanta falta no futebol português, ávido de polémicas e sem valorizar o que é belo e apaixonante no jogo, como é o próprio jogo e a forma como o mesmo se joga. Com isso, mexeu um pouco até na forma de pensar no adepto comum. Mas no fundo, o que quis Miguel Cardoso e a sua equipa técnica nesta sua passagem pelo Rio Ave? Vale a pena ouvi-lo no primeiro vídeo para perceber a sua mensagem e também ouvir um treinador adversário, neste caso João Henriques, na forma como analisou a equipa vilacondense e o quão difícil foi defrontar o Rio Ave (ver último vídeo), sobretudo pela qualidade das ideias.

 

Rúben Ribeiro, Marcelo, Yuri Ribeiro, João Novais, Guedes, Francisco Geraldes, Pelé e outros mais se seguirão, foram alguns dos jogadores que saíram mais valorizados pela temporada passada ao leme de Miguel Cardoso, pelos mais variados motivos. A ideia de jogo, assente pelo gosto em ter a bola, apaixona qualquer jogador. Nenhum jogador se valoriza tanto, se passar grande parte do tempo atrás da bola (embora haja contextos diferentes e todas as ideias são obviamente respeitáveis), os jogadores promovem-se mais pelo contacto com a bola, por aquilo que são capazes de fazer com a mesma em sua posse, pelo prazer e divertimento que têm com a mesma. Foi este caminho que levou à valorização dos próprios jogadores. Não foram só os resultados finais que interessaram, embora seja sempre o mais visível, foi todo o processo, um processo global assente em compromissos muito próprios e que foram todos cumpridos. Um caminho construído com alicerces muito pessoais, com uma identidade extremamente bem vincada e que no fim, fizeram toda a diferença com um jogo de muita qualidade, com a concretização dos objectivos delineados em termos de colectivo e entidade e com a consequente valorização de jogadores, que permitirá aos mesmos melhorar as suas vidas e ao próprio clube em ter encaixes interessantes e poder crescer. Quanto ao treinador propriamente dito, não tenho muitas dúvidas que o melhor ainda estará para vir.

 

 

 

 

 

Sobre José Carlos Monteiro 47 artigos
Treinador de Futebol, Uefa B, com percurso e experiência em campeonatos nacionais nos escalões de formação. Colaborador como observador e analista em equipas técnicas na Primeira Liga. Alia a paixão pelo treino e pelo jogo à analise de jogo.

4 Comentários

  1. Um dos melhores treinadores que vi em Portugal desde 2004, a par de Leonardo Jardim, Marco Silva e Paulo Fonseca.

    Seria sem dúvida a melhor opção para o meu Sporting CP, tem modelo de jogo de clube grande, bloco sempre alto, pressão a campo inteiro, muita diversidade de jogo no plano ofensivo, seja pelo corredor central ou pelos corredores, muitos apoios ao portador de bola, um controlo de profundidade na transição defensiva globalmente bom, os últimos meses o rendimento individual dos jogadores baixou e por isso coletivamente a equipa pareceu-me mais desorganizada.

    E os resultados falam por si, tem provas dadas em todos os clubes em que orientou, seja como adjunto ou agora como treinador Principal, foi graças a ele que Domingos fez os trabalhos que fez no Leiria, Académica, Braga e Sporting, desde que saiu, o Domingos caiu a pique na carreira.

    Foi coordenado técnico no Shaktar, depois treinou a equipa b 2 ou 3 anos e na época passada foi adjunto de Fonseca e mais um grande trabalho e agora no Rio Ave faz a melhor classificação da história do clube com um dos piores Planteis dos últimos anos, perdeu Roderick, Krovinovick, Gil Dias e Ruben a meio desta época e mesmo assim apresentou esta qualidade de jogo e estes resultados.

    Tem provas dadas, está habituado a fazer pouco com muito, é o que precisa o Sporting, dum treinador que potencialize um plantel em claro sub-rendimento, que volte a apostar na formação, que tem imensos talentos e outros emprestados com qualidade para figurar no Plantel.

  2. Raphinha, Geraldes, Rúben Ribeiro, Mané, Podence, Gelson, Matheus, B.Fernandes…. o que seria estes intérpretes cm esta ideia de jogo..

    • Espero bem que seja o escolhido, se não for, apenas aceitaria Bielsa que para mim é um treinador Top a nível tático, embora tenha uma Personalidade muito vincada, gosta de mandar na pasta de trasnferências, é alguém muito exigente, muito dedicado no dia-a-dia, fazia os meninos correrem, mas tem uma liderança algo agressiva, podia resultar no imediato, mas tenho dúvidas sobre um 2º ano, prefiro o Miguel por esse aspeto.

      Tenho receio que a direcção invente com um Bosz ou Berizzo, que são bem inferiores aos nossos treinadores, aceitaria um Sá Pinto ou Daniel Ramos em detrimento do Jorge, mas longe de serem as melhores soluções.

      Veremos o que acontece, eu não acho que o Sporting precise de muitas contratações, manter a base, reforça-la com os emprestados e jogadores da formação e contratar 4,5 jogadores de forma cirúrgica e com um treinador, que é coisa que este clube não tem há 3 anos e podemos ser campeões.

      Reparem que nas outras modalidades o Sporting vence porque além dos jogadores, tem treinadores muito competentes, no Futebol temos grandes jogadores, mas coletivamente a equipa está sempre em sub-rendimento, porque será?

      Eu que não me revejo no estilo de liderança do Bruno e acho que não tem condições para continuar, porque abriu uma guerra com os jogadores e perderá sempre esse combate, com prejuízo ao clube, reconheço que tornou o clube bem mais competitivo do ponto de vista financeiro, desportivo e social.

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