
Entrámos para a última jornada da Liga NOS com uma série de indefinições. O Sporting estava a uma vitória de terminar no segundo lugar, mas perder na Madeira, tal como veio a suceder, poderia atirar os leões para fora do pódio. Para tal era preciso que o Braga vencesse em Vila do Conde.
Venceu Miguel Cardoso. E venceu fruto da excelente leitura do adversário, e da qualidade da estratégia que delineou e treinou!
Já havíamos trazido (texto do José Carlos aqui) o lado estratégico do jogo que garantiu a vitória ao Rio Ave:
No último jogo da temporada, o Rio Ave demonstrou extrema competência na sua preparação em termos estratégicos, sobretudo a forma como estudou o Braga de Abel e se preparou para lhes anular alguns pontos fortes, o que só prova a flexibilidade do seu treinador na estratégia a adoptar para o jogo.
….neste jogo foi sobretudo a forma como se organizou defensivamente e como condicionou a sempre valiosa equipa bracarense na sua primeira fase de construção, que lhe levou para além de ter o controlo do jogo habitual pela competência com bola em ataque posicional, a retirar conforto e a retirar capacidade de ligar o jogo em ataque posicional à equipa bracarense…
À saída habitual a três do Braga, com o seu lateral direito e os seus dois centrais, o Rio Ave decidiu pressionar alto. Mas não o fez de uma forma qualquer. A forma como orientou a pressão, como os seus jogadores orientavam o corpo na altura de pressionar, o convite que essa pressão fazia à equipa do Braga para ir por caminhos pelos quais não esperava, demonstrou planeamento e estudo por parte da equipa técnica vilacondense. De facto, o Braga de Abel é uma equipa que tem uma forte envolvência pelos corredores laterais, quer seja para atrair e ligar dentro, quer seja para combinar no corredor lateral. A pressão do Rio Ave retirou conforto e bola aos comandados de Abel, fechou as linhas de passe exteriores pela pressão de fora para dentro, e abafava as opções interiores, quer seja em quem poderia receber de frente, mas sobretudo quem se mostrava em apoio frontal,
Fundamental também o papel de Guedes, a fechar o central do meio Bruno Viana, criando paredes entre a linha de três e retirando facilidade ao Braga na circulação entre a sua linha de três, sendo sempre obrigada a usar o seu guarda redes e com isso a dar tempo à equipa vilacondense de se reajustar para voltar a pressionar…
Mas, como preparou o Rio Ave para que a muito bem pensada estratégia pudesse surtir efeito?
No futebol, tudo o que é colectivo, ou seja, que exige coordenação de um leque de jogadores, para que se movam e actuem de forma conjunta, maximizando possibilidades de se ser bem sucedido, requer uma qualidade muito grande no processo de treino.
Da observação, à definição de como surpreender o opositor, até ao treino, e daí colocar em prática no jogo.
Para aqueles que gostam de conhecer o jogo, e o que lhe está por trás. Para os que querem entender o futebol nos dias de hoje, trazemos mais um exclusivo.
Porque nada vem do acaso, mas antes da inteligência e do treino, e só assim resultará na competição, eis Miguel Cardoso a preparar o engano ao Braga. A aprendizagem, posteriormente o exercício de treino, e mais à frente no mesmo video, a forma como tão bem resultou:
Notas para ver o video:
– Coletes brancos simulam construção para criação do Sporting de Braga;
– Comportamentos dos laranja em função do plano estratégico, que viria a resultar na partida;
- Em traços gerais, uma das estratégias definidas (bem descrita anteriormente) passava por tapar linhas de passe para os corredores laterais, convidar a jogar por dentro, onde o Rio Ave aguardava chegada bracarense em superioridade numérica
– Coordenação incrível de movimentos do colectivo, no exercício. Só assim resulta na competição!
Em Fevereiro trouxe-vos o novo jogo. A era da Estratégia. (Vale muito a pena ler aqui)
…depois do “boom” gigantesco do modelo de jogo, que veio mudar completamente o lado táctico do jogo, a forma como as equipas se apresentam dispostas no campo, e como se comportam, está a chegar a era da estratégia.
Como em tudo na vida, é nas dificuldades que se cresce, que se procuram soluções para ultrapassar as barreiras. Nos dias de hoje todos têm o seu modelo, e o passo seguinte já está a ser dado pelos mais inteligentes. Estamos na era da estratégia. Na era em que os vídeos correm à velocidade da luz, vencer vai muito para além do modelar, tão típico da década passada.
Hoje, o próprio processo de treino tem de ser virado para a competição seguinte, para o jogo que virá. Sobretudo quando se fala em forças de valores equivalentes, mas não apenas, é no perceber os comportamentos chave do adversário, e preparar o seu antídoto durante a semana, que está o passo seguinte. Na análise dos comportamentos e no desmontar dos mesmos. Na estratégia provocar constrangimentos ao adversário, que nos aumentem as possibilidades de vencer.
Ainda são alguns os treinadores demasiado presos ao seu modelo, e ao caminho até à morte com o seu modelo. E até à morte irão, quando no jogo o importante não é morrer com ideias imutáveis. É adaptar e não morrer. Vencer!
…
Cada vez mais o sucesso chega do constrangimento que colocas no adversário, partindo da análise do seu comportamento. E somente desníveis brutais em termos individuais poderão fazer alguém ganhar centrando-se unicamente no que são os seus comportamentos.
A era do modelo foi uma evolução tremenda no jogo. Todavia, quem continua a pensar que ainda ai estamos, está cada vez mais a ficar para trás…
De Miguel Cardoso, um treinador sobejamente apreciado por cá, por tudo o que dá ao jogo, em tempos terei ficado com a sensação de que demasiado fundamentalismo no centrar-se unicamente nos seus comportamentos lhe coarctaria possibilidades. Enganei-me, profundamente. E hoje está na hora de dar o passo seguinte, porque o seu valor é incomensurável.
Teve um professor chamado Paulo Fonseca…
O modelo do jogo quis influençar a tactica, que é o que você faz quando hà uma coisa a fazer ao invês da estrategia que é o que você faz quando nao hà nada a fazer. O modelo do jogo atribui-se a tactica que pertencia aos jogadores mas quando se modela para reproduzir ao identico os processos do treino, a previsibilidade do jogo é tanta que os novos treinadores vencedores somente usaram a estrategia para contrariar facilmente esses modelos tao visiveis e aproveitaram os jogadores dotados da arte da finta e criadores de imprevisibilidade graças a uma leitura notavél do jogo sempre regenerado pelas suas fintas. O canto do cisne do JJ cruza-se com a ascensao do Tite que està prestes a vir!