Tratado de Tordesilhas v.CR7

Dividir o Mundo para reinar. É essa a impressão com a qual fica o planeta do futebol quando, no torneio mais encantador do jogo da bola (ainda), surge um jogo com golos, reviravoltas, oportunidades, frangos, um bis e um hat-trick. E depois do vasto entretenimento que a Ibéria deu ‘perto’ (lol) de uma Sibéria com calor tropical, não demorará a haver quem ache que estas duas possam fazer a sua vida de forma separada e chegar à Final para, de novo, nos entreter (ou matar do coração). Contudo, aquilo que uma e outra têm para corrigir deverá – caso essa realidade seja possível – impedir que vejamos outro festival de golos.

Pois bem, se assim for, que se mantenha uma Espanha ainda capaz de controlar o jogo com bola, mas com muito menos apetência para o fazer totalmente como em 2008 ou 2010. Sim, a Espanha é ainda uma fonte de combinações interessante. Mas o que este duelo ibérico mostrou foi que essas combinações estão longe de ser intermináveis – oferecendo ao adversário muito tempo e bola para fazer algo de interessante no jogo.

Que o diga um Portugal que queria “roubar a bola” mas que acabou a “deixar jogar demais” (Fernando Santos) mas que ainda assim, pela inspiração, confiança, talento e crença do seu Mais que Tudo, conseguiu equilibrar um jogo que a falta de nível Mundial noutras acções não permitia. Leiam-se organização ofensiva, defensiva, transições e bolas paradas. Todas? Sim, todas!

Não queremos mentir e dizer que Portugal não teve bons momentos (aquela entrada forte e autoritária deixou água na boca; aquele forcing final podia ter dado a vitória), mas para não mentirmos não poderemos escamotear que à identidade portuguesa, muito forte nos aspectos emocionais, falta criar caminhos para marcar, controlar e não sofrer. Ver William jogar sempre para o lado de fora do bloco, ver Fonte e Pepe aliviarem com algum espaço para fazerem melhor, ver a falta de definição na transição ofensiva (que devido ao fraco poder de decisão de Gonçalo não nos permitiu criar uma vantagem maior que um golo), ver muito espaço entre-linhas lusas, e ver Pepe e Fonte serem batidos no duelo, assim como aquela marcação H-H escabrosa nas bolas-paradas (que nos pode custar um jogo), ver tudo isto, dizia, faz-nos lamentar que na parte mais fácil (estratégia) não se encontre algo para oferecer àquele monstro que, juntamente com Messi, é o melhor jogador de futebol do planeta terra.

E que o diga De Gea. Teve coragem o David, ao enfrentar cara a cara o nosso Golias. Lá lhe tentou dizer algo para o demover da sua cruzada universal mas isso, rapidamente se virou contra ele. E este é o poder de Cristiano Ronaldo – o de fazer com que o Mundo o leve para as decisões, o de ser o jogador que todos sonhámos deitados na cama, ou jogando no recreio, aquele que decide, que tem (sempre) os holofotes virados para si. E a capacidade que ele tem de atrair para si esses momentos, faz com que De Geas e Hierros (obrigado por ires tirando todos os que estavam a fazer a diferença do teu lado) levem chicotadas do Universo. Oh captain, my captain, tens sido o melhor capitão do Mundo! Se eu pudesse te daria uma estratégia à tua altura (uma que envolva mais Bruno, Bernardo, Mário…) – ainda que contigo a sorrir daquela maneira nos possas dar qualquer taça.

 

Portugal-Espanha, 3-3 (Ronaldo 4 g.p., 44′ e 88′; Diego Costa 24′ e 55′, Nacho 58′)

3 Comentários

  1. Tudo dito.
    Ontem só mesmo Ronaldo teve nota positiva e ele já merecia uma equipa que o acompanhasse.
    FS em quase 3 anos ainda não meteu esta equipa a jogar algo que se aproveite e não acho que é por falta de talento.
    Se as coisas não melhorarem deveria colocar o lugar à disposição.

  2. Sem entrar em nacionalismos bacocos, o CR7 tem de ser o jogador de futebol maior da história. E explico. Não ganha a nível técnico a alguns como Messi. Acho o Argentino numa análise individual superior como acho alguns outros. Oferece mais ao jogo de uma equipa em termos técnicos como foi tão amplamente já mostrado neste site. Mas onde não encontro paralelo e que é um verdadeiro fenômeno é a capacidade do CR7 de performance em contextos adversos e em certa medida carregando nos ombros equipas em muitos casos bastantes degraus abaixo do seu nível. Isso se passou este ano na Champions, no Campeonato da Europa e neste início com a Espanha. Ver o Messi hoje caminhando de cabeça baixa para marcar o penalty foi ver algo muito contrastante com o jogo de sexta-feira

  3. Dá mesmo pena ver o talento/potencial ofensivo da nossa seleçao a ser desperdiçado pelo Mister FS, e entao ver o Bernardo Silva na ala ainda pior, continuo a achar que ele no meio renderia 10x mais do que alguma vez rendera na faixa.

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