O condicionamento estratégico do México e as debilidades na transição defensiva da Alemanha

O jogo de ontem entre Alemanha e México, foi um jogo extremamente intenso, diabólico e rico em termos tácticos e estratégicos. O México levou de vencida a sempre fortíssima selecção alemã com muito mérito e beneficiando também de alguns problemas da equipa alemã na sua transição defensiva e no equilíbrio da equipa no momento da perda da bola.

A estratégia de Juan Carlos Osorio foi bem patente no início do encontro. Colocando-se em 4x4x2 no seu processo defensivo, procurou condicionar a saída alemã pelos seus centrais, fechando a opção de saída por Toni Kroos, que normalmente gosta de pegar no jogo pela esquerda numa linha diagonal ao central Hummels e foi marcado individualmente quase sempre por Carlos Vela,  e marcando também individualmente os restantes dois médios alemães Khedira e Ozil, obrigando os centrais a ter que decidir por caminhos pelos quais não estariam suficientemente preparados. Assim, aos três médios alemães, Khedira, Kroos e Ozil, juntou-se a respectiva marcação individual de Guardado, Vela e Herrera. Quase sempre para onde se movessem, teriam sempre a sua marcação em cima e a verdade é que em ataque posicional, a Alemanha foi uma sombra do que normalmente é capaz de fazer, apesar de ter tido as suas oportunidades de finalização, mas nunca conviveu bem com as marcações individuais mexicanas e mostrou-se pouco preparada (aliás, são muito poucas as equipas preparadas para este momento) para contrariar essas mesmas marcações.

O México a cada recuperação em zonas intermédias ou baixas foi sempre uma equipa extremamente vertical, tendo sempre Chicharito como primeira referência vertical, ou Carlos Vela nas costas dos dois médios centro. Não deixou de ter bola e tentar jogar de forma mais posicional quando o jogo o pedia, mas foi sobretudo através das suas saídas em transição que causou muitos problemas. Aqui, destaque para o fenomenal jogo de Herrera. O que cresceu na temporada que terminou, o mexicano com Sérgio Conceição. Com espaço após recuperação, a abrir a passada e chegando a zonas de finalização quer para finalizar, quer para assistir, jogo estrondoso do capitão portista. A verdade é que durante todo o jogo, foram inúmeras as saídas para contra ataque ou ataque rápido da equipa mexicana, nem sempre bem definidas é certo, o que a acontecer poderia trazer o score para outros números, mas sobretudo a forma como chega ao golo é digna de se ver e rever. Recuperação, passe vertical, apoio frontal de Chicharito que a um toque coloca de frente em Herrera que volta a devolver a bola ao avançado mexicano, colocando este na diagonal em Lozano que perante um Ozil que entra à queima, o retira do caminho e faz o golo da vitória. Foi um jogo de grande competência táctica e de intensidade mexicana, assente na estratégia delineada pelo seu treinador Juan Carlos Osorio e que criou inúmeras dificuldades à Alemanha.

Se falamos de mérito da selecção mexicana, também temos que falar no muito demérito da equipa alemã, sobretudo quando estava no seu processo ofensivo e não tinha a equipa equilibrada nem preparada na perda da bola. Os dois laterais extremamente abertos e profundos à largura, a cada perda tiveram inúmeras dificuldades na recuperação defensiva e foi muitas vezes pela sua ausência nos corredores que o México explorou o espaço à largura. A cada ataque posicional, a equipa alemã tinha 4 jogadores no máximo e 3 no minímo atrás da linha da bola, os dois centrais Boateng e Hummels e os dois médios centro Kroos e Khedira, sendo que este último subia sempre um pouco mais e aproximava-se das zonas do último terço. Ao condicionamento mexicano pelas marcações individuais, a Alemanha nunca esteve confortável em ataque posicional no jogo, principalmente na primeira parte onde somou perdas atrás de perdas e com isso sofreu transições atrás de transições. Para além do referenciado, a cada perda, os médios demoravam a chegar e a reagir à perda no corredor central, porque a equipa não tinha consistência na posse e os centrais não se preocupavam individualmente com Chicharito, deixando-o sem marcação individual e que a cada recuperação da sua equipa baixava em apoio frontal e conseguia ligar com a restante equipa de forma relativamente fácil. Para além disso, também Vela beneficiou dessa ausência de trabalho da equipa alemã na transição defensiva e aparecia nas costas dos dois médios alemães e entre linha média e defensiva para conduzir as transições.

Muito mérito na forma como o México preparou estrategicamente este jogo e muito demérito e alguma sobranceria na forma como a Alemanha se apresentou para este jogo, com notórias preocupações em ter qualidade em ataque posicional, mas sofrendo e tendo muita dificuldade em travar as transições ofensivas mexicanas, muito devido ao facto de não estar equilibrada no momento da perda e sobretudo de não ter preocupações individuais no preparar da perda enquanto se encontrava em ataque posicional. Tudo isso fez claramente a diferença a favor do México.

 

Sobre José Carlos Monteiro 47 artigos
Treinador de Futebol, Uefa B, com percurso e experiência em campeonatos nacionais nos escalões de formação. Colaborador como observador e analista em equipas técnicas na Primeira Liga. Alia a paixão pelo treino e pelo jogo à analise de jogo.

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