O Brasil de Tite – Problemas em ataque posicional

O Brasil é, quanto a mim, um dos principais candidatos a vencer o Mundial. Não estou a dar novidade nenhuma, mas a forma como Tite tem organizada a sua equipa, e num contexto de torneio em que as próximas fases são a eliminar, poderá ser suficiente para os brasileiros chegarem longe. Porquê? Porque reconhecidamente e porque também não seria muito difícil, Tite é possivelmente o melhor seleccionador brasileiro dos últimos anos e o trabalho que tem feito com esta equipa, apesar de estar longe do brilhantismo pelas dificuldades em organização ofensiva, é de competência. O Brasil em termos de organização defensiva, é uma equipa extremamente competente e muito bem preparada pelo seu treinador, na minha opinião. A amostra destes dois jogos assim o diz e por isso refiro que na fase seguinte, nos jogos a eliminar, esta forma de estar lhe poderá acabar por trazer mais alegrias do que tristezas, porque a juntar à qualidade colectiva em organização defensiva, existe a qualidade e criatividade individual que pode resolver problemas por si só, quando o colectivo tem dificuldades em resolver os problemas que aparecem.

É a este ponto a que quero chegar. Se defensivamente o Brasil apresenta comportamentos muito capazes, ofensivamente creio estar muito longe do ideal e talvez por isso, nesta fase esteja a ter dificuldades em criar situações limpas de golo, sobretudo em ataque posicional. Estes dois últimos jogos do Brasil, trouxeram uma equipa que vive quase exclusivamente dos desequilíbrios nos corredores laterais em situações de 1×1, 2×1 com relação entre lateral e extremo e por vezes (mais no corredor esquerdo), situações de 3×2 com relação entre lateral, interior e extremo. O jogo interior é pouco explorado e trabalhado e há tanto potencial para explorar. Na primeira fase de construção, o Brasil tem um padrão de circulação em U, de um lateral ao outro até ligar com o seu extremo à largura ou no ataque à profundidade por parte do médio interior. Os seus defesas centrais não progridem em condução quando têm espaço para tal e tantas vezes é ver o Brasil com a equipa partida, com sete jogadores por fora do bloco adversário (quatro defesas + 3 médios) e os três jogadores mais avançados à frente. Na questão da condução por parte dos centrais, creio que o Brasil teria muito a ganhar se à capacidade de serem pacientes a desmontar a primeira linha de pressão adversária, os centrais tivessem qualidade para carregar em condução e ligar posteriormente por dentro ou por fora. Isso obrigaria alguém do adversário a sair na contenção e libertaria espaço nas costas onde sobretudo na meia esquerda, com Coutinho e Neymar dentro e entre sectores, o Brasil teria muitos benefícios pela superior qualidade individual de ambos e pela associação que ambos têm, a equipa mais profunda e mais próxima do último terço colectivamente. O grande padrão de construção brasileiro acontece pela circulação a quatro pela linha defensiva à largura ou pelo baixar de Coutinho para pegar no jogo e tentar ligar a equipa. Aqui, também as dinâmicas têm que melhorar, não só pela capacidade que Coutinho tem em ligar, mas sobretudo pela capacidade que Neymar tem de frente para o jogo e que pode ser melhor potenciada, sobretudo com variabilidade de movimentos.

No jogo inaugural com uma Suíça organizada em 4x4x2, as grandes ocasiões de golo brasileiras surgiram quando a equipa suíça decidia pressionar de forma mais alta, partindo a equipa, e o Brasil conseguia ligar a equipa de forma fácil, saindo da pressão pela superior qualidade individual dos jogadores. Quando a pressão era mais baixa e a equipa Suíça ficava numa fase inicial mais expectante, claras dificuldades para os de Tite criar. O mesmo cenário no jogo de hoje frente a uma Costa Rica organizada em 5x4x1 em termos defensivos. O mesmo padrão de circulação e as mesmas dificuldades de criação. Durante grande parte do jogo e apesar de algumas situações de golo do Brasil, as linhas de 5 defensiva e 4 intermédia da Costa Rica mantiveram-se quase sempre confortáveis, a fazer diversos exercícios de basculação de um corredor ao outro, porque raramente foram “agredidas” por dentro, porque poucas vezes tiveram que se desarticular. O Brasil acabou por vencer, de forma justa, mas acredito que com outro tipo de dinâmicas, poderia ter tido mais conforto no jogo.

Veremos como o Brasil evoluirá ao longo da prova, sendo certo que se melhorar algumas das suas dinâmicas em organização ofensiva, para lá da competência que tem em termos defensivos, o Brasil poderá comprovar na prática a primeira frase que dá início a este artigo. Continuaremos a acompanhar com muita atenção.

 

 

Sobre José Carlos Monteiro 47 artigos
Treinador de Futebol, Uefa B, com percurso e experiência em campeonatos nacionais nos escalões de formação. Colaborador como observador e analista em equipas técnicas na Primeira Liga. Alia a paixão pelo treino e pelo jogo à analise de jogo.

8 Comentários

  1. Excelente trabalho, José Carlos.
    Vai de encontro a tudo aquilo que fui identificando nos primeiros dois jogos. Acredito que tem capacidade para crescer ao longo da prova, sendo que possui alguns jogadores que poderiam acrescentar mais qualidade ao ataque posicional da equipa sem descurar o processo defensivo. Refiro-me a Marquinhos e sobretudo Fred.

  2. Parabéns pela excelente análise ! Realmente acredito que zagueiros construtores são o grande segredo para furar os bloqueios defensivos. Não há necessidade de jogadores das linhas da frente voltarem para buscar o jogo, é preciso que esses jogadores se posicionem para receber a bola e ferra dúvidas nos defensores e não deixá-los em zona de conforto posicionados.

  3. Lateral esquerdo consulto várias vezes o site e confesso que fiquei triste este ano por não haver um post sobre a nova forma de jogar do James Rodriguez em Munique, que se tornou um autêntico cérebro daquela equipa, mas depois da exibição ontem dele pela Colômbia venho aqui vos pedir por tudo que façam um post sobre a mesma, porque acho que ele merecia.

    • Não houve uma análise específica sobre o James, mas procura uma sobre o Bayer de Jupp que eu fiz e que fala lá do novo papel do James. Grande abraço.

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