Portugal na noite de mais uma decepção

Com a Espanha sem conseguir desbloquear a organização defensiva marroquina (tantas vezes num 6x4x0, 6x3x1, ao contrário do pressing constante que levou aos inúmeros erros dos jogadores portugueses), Portugal teve, perante um opositor fraquíssimo uma oportunidade de ouro para voltar a cair numa posição vantajosa no quadro de emparelhamento até à final do Campeonato do Mundo.

Se colectivamente a selecção nacional não está pronta ou preparada para assumir os jogos com bola, e a falta de ideias é bem visível logo na forma como não liga o jogo desde a sua rectaguarda, mesmo quando não há pressão. E ao contrário do jogo com Marrocos, o Irão possibilitava esse tipo de jogo, por isso referi num dos textos que não haveriam desculpas perante a equipa de Carlos Queiroz! Individualmente, esta selecção está a anos luz de outras bem mais aprazíveis.

Também sobre isso me tenho vindo a referir nos últimos textos.

Independentemente do que são os mecanismos colectivos, a percepção do espaço, qualidade técnica e de decisão, é algo que se nota a cada instante sempre que alguém recebe a bola, e tal depende sobretudo do indivíduo. Num contexto Mundial, nas zonas de construção e criação, o nível individual da selecção lusa não é mais do que banal. Vários jogadores que são ou foram de nível elevado na nossa Liga, não conseguem disfarçar nos contextos altos, todas as suas limitações.

Todas as esperanças portuguesas concentram-se portanto, no defender bem, e sonhar com o golo de Ronaldo, porque mais do que isso, já se percebeu que não sucederá.

 

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

16 Comentários

  1. Maldini, como avalias a nossa transição defensiva e organização defensiva?

    Pergunto para perceber se podemos, a teu ver, ter a dita esperança de defender bem.

  2. Mas já não os vimos fazer melhor contra adversários de muito maior qualidade? Estamos a falar do Irão. Será que é isto que têm demonstrado é o que realmente valem? Será que não está a qualidade condicionada emocionalmente, não só pelo palco que é, mas por tudo o que os envolve naquela equipa, com aqueles processos?

    Vamos individualizar então. Qual é o nível de:
    João Mário
    Bernardo Silva
    Gonçalo Guedes
    Bruno Fernandes
    William
    Adrien
    Andre Silva
    Rui Patricio
    R.Guerreiro

    Guedes e Bernardo, não têm potencial para top-100 geral? Bruno Fernandes e João Mário não têm qualidade para um dia serem titulares da segunda linha de grandes clubes europeus? Não temos laterais direitos no top30 mundial? (só que não jogam…). Não temos ninguém que possa apresentar maior qualidade de construção que Fonte, sem com isso perdermos defensivamente? Rui Patricio não será tb ele top30 na posição?
    Apesar das dificuldades de William, não é ele tambem um jogador bastante razoável, com nível para titular de clubes de segunda linha das grandes ligas?
    Quanto a Andre Silva, temo que seja aquele que mais estagnou a todos os níveis. Uma incógnita sobre a qual não deposito muita esperança. E Ronny Lopes? Até onde pode chegar?

    Agora comparem com todas as seleções, um a um, e digam-me quem tem mais qualidade individual?

    Brasil, Alemanha, França, Espanha nem conseguimos ver no horizonte. Mas não me recordo (à excepção do período 2004-2008), de não termos sempre umas 4 ou 5 selecções muito à frente no que a talento individual diz respeito. Romantizamos muito a geração de 1996-2000…quanto a mim, comparativamente às outras seleções, o patamar não era muito diferente do actual, embora tivessem carateristicas diferentes que tornavam inevitavelmente o futebol mais atraente.

    Mas e depois?
    Bélgica talvez.
    E depois?
    Inglaterra, Argentina, Uruguai, Croácia? Não me parece que levem vantagem. Itália e Holanda tb não. México idem. Estamos onde quase sempre estivemos nos ultimos 20 anos. Um pouco pior que aquele período que referi, ligeiramente melhor que em 2012-16.

    • Vou entrar no teu jogo e lembrar-te que Bélgica e Croácia têm claramente melhores individualidades que nós… tirando o Ronaldo ou temos acabados ou miudos a começar… e uma cambada de jogadores que ou ainda nao renderam fora de Portugal. Ou simplesmente sao craques no tugāo, a gente esquece-se é que o tugāo não tem a competitividade das big 5… não confundas potencial com a atualidade de cada jogador.

      E refiro isto sabendo que temos individualidade para melhor futebol.

      • Belgica, Croacia, Inglaterra, Argentina… nem nos melhores sonhos há uma possivel comparação… com México… Sérvia… a coisa fica mais nivelada…

        • Percebem incomparavelmente mais de futebol do que eu…isso é factual. Mas acho que este tipo de comparações só provam como algo de muito errado se passa na nossa selecção.
          Nivelados com o México em termos de qualidade individual? Onde? O Layun era terceira opção do nosso lateral suplente; o Lozano não tem mais qualidade que o Guedes (e até têm características muito semelhantes); vamos mesmo comparar o Herrera ao Moutinho…ou o Bernardo ao Vela? O Guardado é superior ao Bruno Fernandes ou até mesmo ao Adrien? O Reyes (que seria titular) é terceira opção no campeonato onde Ruben Dias foi top 5 na posição. E entre Chicharito e Ronaldo…
          A Croácia e a Argentina nem nos melhores sonhos? Tudo bem que a Croácia tem dois super craques, mas nós temos Bernardo e Ronaldo…e os restantes não me parecem estar acima dos nossos: Vida, Strinic, Brozovic e Rebic, algum destes seria titular de Portugal?
          A Argentina tem Messi, Dybala, Higuain, Aguero, Di Maria…mas destes quantos jogam ao mesmo tempo? Tirando as estrelas da frente têm Banega, Otamendi e pouco mais… Caballero, Mercado, Tagliafico, Rojo, Salvio, Enzo, Acuna, Mascherano (no estado em que está) duvido que a maior parte deles tivessem lugar nos nossos convocados, quanto mais no 11…
          Belgica e Inglaterra de acordo, mais qualidade em todos os sectores.
          Mas tirando estas duas acho que só Alemanha, Espanha, Brasil e França têm uma qualidade individual com que nem sequer nos podemos comparar. Mas jogamos tão mal, os jogadores produzem tão pouco, são tão banalizados que parece que não têm nível para estas andanças. Ver o Bernardo jogar no City e vê-lo a jogar em Portugal e acreditar que se trata do mesmo jogador é quase impossível, o Guedes idem aspas, o Bruno Fernandes idem aspas. Todos estes jogadores têm sido obrigados a ter todos os comportamentos em que têm mais dificuldade e praticamente não tiveram situações para adoptar os comportamentos em que são mais fortes. Sacrifica-se isso para que o Pepe, o Cedric, o Fonte ou o Quaresma possam estar mais confortáveis e isto para mim é incompreensível. E os maiores prejudicados com isto são os jogadores, basta ver a percepção do seu valor a cair em flecha. Mesmo que tenham sucesso no final nunca vai haver uma percepção de valor muito elevada.

          • Ora aí está, bom comentário. Também me parece que se está a cair num exagero desencantado. Como F.Santos nos “deu” um título europeu às 3 pancadas, entra-se quase em dissonância cognitiva para justificar a impossibilidade desta seleção fazer muito melhor, atirando a falta de qualidade individual como fator determinante.

            Mantenho esta minha ideia: se o publico em geral tende a sobrevalorizar os jogadores nacionais, por desconhecimento profundo da realidade fora de portas, o viciado em futebol tende a fazer precisamente o oposto! E tende também a esquecer que o jogador inglês/italiano sempre foi e sempre será sobrevalorizado. Basta ir ao histórico do transfermarkt de seleções sub-21 por exemplo, ao longo dos anos, destas seleções e da portuguesa, e comparar depois as carreiras que cada jogador realmente teve, para confirmar este desfasamento factual. Pode-se dizer o mesmo, embora em menor grau, em relação a nações que exportam cedo TODOS os seus melhores valores (Croácia, Bélgica são exemplos nos ultimos anos).

            Para mim, fora aquelas 4 inalcançáveis…neste momento, admito que sim, a Bélgica melhor individualmente (embora a grande representatividade na Premier os sobrevalorize), mas quanto à Croácia parece-me inconcebível achar que “nem nos melhores sonhos”…e se pedirmos a estrangeiros para fazerem o exercicio comparativo um a um, chegaremos a essa conclusão.

            Quanto à Argentina, se falarmos de 23, sem dúvida. Mas jogam onze. Há grandes assimetrias de qualidade nessa seleção para diferentes posições. Aliás, a Marca, para os seus insuspeitos leitores(quanto a esta questão) lançou esse desafio. O resultado foi acharem que em geral, Portugal leva vantagem (embora pequena).
            http://www.marca.com/futbol/mundial/2018/06/18/5b27915646163f25688b4625.html

            Claro que se a mesma poll fosse feita hoje, já nem sei. Porque todos os jogadores portugueses nas mãos de F.Santos desvalorizam, dando cada vez mais a ideia de estarmos perante uma Letónia abençoada com a presença de Cristiano Ronaldo.

            Mantenho a ideia de que grande parte dos erros daqueles de quem esperamos mais, decorrem principalmente da instabilidade provocada por não se sentirem confortáveis com a forma como jogamos. Os níveis de ansiedade disparam e levam ao acumular de erros individuais.

            O que mais quero é a queda de F.Santos. Se soubesse que para isso suceder, teríamos que levar 5 do Uruguai, com posterior entrada de Rui Jorge (que privilegia talento e futebol positivo), esse seria o resultado que eu desejaria.

    • Bélgica tem muito melhores individualidades que nós. Hazard, De Bruyne, Lukaku, Carrasso, Dembelé, Vertonghen, Alderweireld, etc
      Argentina não tem uma seleção pior do que a nossa, não aproveitam é o talento que têm.
      Inglaterra apesar da sobrevalorização de alguns jogadores tem neste momento uma equipa forte e está a jogar bem. Walker, Stones, Kane, Sterling, Trippier, Dele Alli são dos melhores jogadores nas suas posições e depois tem outros bons jogadores a completar o onze.
      Quanto à Croácia, têm um bom onze mas faltou algumas soluções no banco.

    • E outra coisa: uma equipa é (ou deve ser) mais do que a soma das individualidades.
      No caso português (e de outros, sejamos justos) parece que uma equipa é a subtracção das individualidades.

  3. Comparando a geração do Euro2000 com esta, focando-nos mais no que os jogadores representavam qualitativamente à epoca no futebol mundial:
    Podemos fintar a nostalgia?

    Vitor Baia-Rui Patricio
    -Dificil. A carreira do Baía foi e será muito superior. Mas era um GR que havia falhado em Barcelona, estava de volta ao FCP para uma segunda vida. Patricio, há muito que já poderia estar num outro patamar. Mais equilibrado do que parece, mas ainda assim voto Baia 1-0

    Abel Xavier-Cedric(Ricardo, Cancelo)-aqui está tudo inquinado pela escolha de F.Santos. O outro LD era Secretário. Abel Xavier vinha de epocas no Bari, Oviedo, Everton. Não era um lateral de grande qualidade no contexto europeu. Nível um pouco acima de Cedric, nivel abaixo de Cancelo(e na minha opinião de Ricardo). 1-1

    Dimas vs R.Guerreiro- o Dimas tinha passado pela Juve nunca sendo obviamente um indiscutivel. Estava no Fener. Acho que aqui dá empate.

    F.Couto-Pepe- Para mim Pepe. Mesmo olhando Pepe de 2018 contra o Couto de 2000. 1-2

    J.Costa-Fonte- Jorge Costa.2-2

    Vidigal-William- William 2-3 (Paulo Sousa em 2000 e 2002, não estava em boas condições fisicas, caso contrário, obviamente o voto seria no outro sentido)

    Costinha ou P.Bento vs Moutinho ou Adrien- estamos a falar do Costinha de 2000. Aqui o meu voto vai para os atuais. 2-4

    Rui Costa vs Bernardo (para a votação ser justa, coloco os numero 2 em qualidade individual lado a lado)- R.Costa 3-4

    S.Conceição/Capucho vs B.Fernandes/Joao Mario S.Conceição, mas mais uma vez, não por uma diferença abissal. 4-4

    Figo vs C.Ronaldo (mais uma vez, para ser justo, os numero 1 lado a lado)- C.Ronaldo
    4-5

    Nuno Gomes/JV Pinto/Sa pinto vs Guedes/Andre Silva- muito equilibrado. Guedes pode vir a ser mas ainda não é, superior a qualquer um destes. JV Pinto nem sempre jogava a titular, mas era um fora de série. Voto nos de 2000. 5-5

    Claro que tudo isto é um exercício um pouco infantil. Claro que as dinâmicas da equipa eram outras e que ter Figo-Rui Costa-JVPinto a trocar bola, eram garante por si só, de um nível estético muito muito acima do que esta pode produzir. Mas esta atual, é mais incomparavelmente mais competente na zona de finalização. Ainda assim, serve só para mostrar que a qualidade individual desta geração não está a anos luz daquela que nos encheu os sonhos de infância/adolescência.

  4. Eu vi com estes olhinhos que a terra há de comer o Cristian Rodríguez (!!!!!!!!!!!!!) entrar para jogar contra a Rússia na segunda feira. O CEBOLA!!!! Em 2018!!!

    Não me lixem, depois com os tubarões falamos, mas para o Uruguai temos mais do que qualidade suficiente para mandar no jogo e dominar a eliminatória… tivesse o FS mais jeito para a coisa. Oremos irmãos.

  5. Continuo a achar que se acumulam demasiados erros técnicos. Erros que não são normais em jogadores deste nível, ainda para mais quando se joga com o Irão.
    Será o peso da consciência que sabe que podemos (e devemos) fazer mais?

  6. Eu acho que isto está pouco relacionado com a qualidade individual dos jogadores.

    Há uma cultura de pânico na selecção. Pânico de ter a bola! Num jogo de futebol!

    O jogo foi embaraçoso, jogadores que não confiam uns nos outros, que entregam a medo, com excepção de William e Ronaldo.

    Quando os jogadores entregam já com a mente direcionada para a própria baliza.

    Falta tudo, falta algum sentido de organização (epa qualquer coisinha), falta escolher os melhores (Rúben, Ricardo, podemos começar por aí), mas falta realmente acabar com esta cultura.

    O Irão, porra. O Irão! Até os meus amigos ingleses gozaram comigo, e eles não fazem nada de jeito há 3 décadas.

    Um abraço

  7. O argumento do “são bons cá dentro, mas a este nível fica curto” é legítimo, mas parece-me que não colhe quando o adversário é o Irão. Já todos vimos o William, o João Mário, a render muito mais contra adversários de nível francamente superior, há um trabalho colectivo que não está a ser bem feito.

    • mas o Irão também foi uma miséria. Por isso é que foi muito mau.. porque pelo menos nos outros 2j houve dificuldades impostas pelo adversário. No futebol X ter sido mau nao implica que o seu adversário tenha sido bom

      • Sim, de acordo, só não acho que se possa explicar a baixa qualidade exibicional da nossa seleção exclusivamente pela falta de qualidade dos jogadores. Compreendo que não consigamos dominar, por exemplo, o meio-campo espanhol, mas o que vimos contra Marrocos e (principalmente) Irão foi confrangedor, e não corresponde ao nível real de jogadores como o Bernardo, o William, etc.

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