O futebol que vence nos dias de hoje

A França é de longe a melhor equipa deste (e para este) Mundial

A frase foi escrita num texto recente (aqui), e coloco a ênfase sobretudo no “para este”.

Vivemos a era de um Mundial em que a boa organização defensiva em cada um dos três momentos sem bola, e os bons traços atléticos de quem fecha os espaços, que lhes permite chegar rápido e vencer os duelos, combinado com velocidade e capacidade para definir dos jogadores mais adiantados faz a diferença.

Não é necessariamente um retrocesso à era antes de Pep na Catalunha, pois jogadores como Pogba e Kanté, mesmo que sejam do ponto de vista físico autênticos “monstros”, são jogadores com uma qualidade técnica extremamente elevada. Não é portanto um regresso ao tempo em que uns jogavam e outros corriam, mas não é também o tipo de futebol que se idealiza como o do futuro, e que o Barcelona e a selecção de Espanha trouxeram para o mundo.

É menos espectacular e menos aprazível, mas é um futebol vencedor nos dias que correm. Sobretudo em competições a eliminar, onde tudo parece depender da capacidade para fechar espaços e esperar o timing de investir no momento em que mais golos se marcam, isto é, na transição ofensiva.

A França, para além das armas em ataque rápido e em contra ataque, tem uma competência e armas nas bolas paradas só comparável em qualidade com a selecção inglesa.

A selecção de Deschamps está longe de nos encantar e não creio sequer que se possa pensar que venha a ser o futebol que marque uma era. Mas, isso não lhe retira competência, nem a torna uma não excelente equipa.

Pogba – Kanté – Matuidi garantiram capacidade de basculação rápida, algo absolutamente decisivo para fechar um meio campo com apenas três em largura. Garantiram reactividade na Transição Defensiva, permitindo fechar de forma muito veloz os pontos de saída. E porque os traços individuais de cada um dos três lhes permite comer metros a grande velocidade no espaço defensivo, Deschamps pôde deixar Mbappé mais projectado mesmo a defender, aumentando condições para o sucesso francês nos momentos após recuperar. Precisamente porque tem sempre Giroud, Griezmann e Mbappé mais adiantados e com menos metros para fazer até chegar ao último terço de forma rápida.

 

 

Não é o futebol do futuro, mas é o futebol que vence nos dias de hoje. E vence não por acaso, mas porque assenta numa competência total nos momentos sem bola e no investir com qualidade ofensivamente, nos segundos onde se marcam mais golos na actualidade. E ainda há as armas nas bolas paradas, que são demasiadas vezes situações mais aleatórias, mas não para quem reúne um conjunto de jogadores exímios no ataque às bolas aéreas.

A bola paga o bilhete, mas é muito o que cada jogador faz sem ela que traz as vitórias. E não apenas, a defender, naturalmente.

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

10 Comentários

  1. Então e este artigo não reacende a discussão de melhor de sempre?

    Será errado dizer que neste tipo de equipas os traços do Ronaldo não são mais decisivos que os do Messi?

    • para mim não reacende. Nem lá perto! Messi continua a ser melhor em todos os momentos do jogo. Se falamos de Transição Of, alguém com espaço acelera e conduz como ele para depois definir assertivamente? não creio…

    • Acho que isso traz de volta um dos argumentos mais equivocados nesse debate, aquele em que Messi nunca iria triunfar fora do FC Barcelona. Mas a dúvida devia ser outra: que FC Barcelona é que se está a falar, exactamente? Porque aquele Barcelona de Guardiola, Xavi e Iniesta já deixou de existir há algum tempo, e nesse era Messi a principal figura. Este Barcelona mais recente tem um estilo de jogo completamente diferente, e também neste o argentino continua a ser a principal figura.

      (repare-se, nada disto retira o mérito do Ronaldo continuar a prolongar o debate, mas nisso já tenho a resposta como certa: em termos do que é jogar o jogo, o Messi está simplesmente noutro patamar)

  2. Será que o Mourinho vai “começar” a ganhar titulos? Visto que isto me parece a algo que ele ja fazia este ano que passou…

    Abraço

  3. Vai dar Croácia. Percebo o que dizes mas a arrogância dos jogadores franceses, não estrutura como outrora, e mentalidade dos croatas vai resolver isto. Em qualquer parte final do jogo, prolongamento ou penalties… a mente e a vontade são lixados e continuam a fazer a diferença. Just a guess of course… http://www.epluribusunum.pt

  4. Reacender a discussão de quem é melhor? Jogadores tao diferentes nem sequer se podem comparar… o Ronaldo é o melhor finalizador do mundo pois é completo e fisicamente apto…enquanto que o Messi é o melhor construtor/definidor de jogo do mundo… o que faz com que eles ganhem o trofeu de melhor sao os titulos colectivos… facil.. abraço

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*