Procurar espaço onde não há espaço e encontrá-lo

“El reglamento dice que los campos son más anchos que largos, porque hay una regla que dice que el espacio en profundidad se puede regular hasta la mitad del campo. Esa distancia es modificable a través de una regla. Lo que no se puede modificar es el ancho. Me dicen ‘es que a ustedes les gusta jugar con wines (extremos)’ y les digo que no, que yo no, que es el reglamento quien me dice que tengo que jugar con wines. Si me ponen la portería en el centro y tengo un espacio (a lo ancho) que es invariable, y la densidad va a estar aquí (en el centro del campo), pues el estilo de juego lo marca el reglamento, el mejor libro de táctica jamás escrito”. Juan Manuel Lillo

Com a significante melhoria das organizações defensivas, têm surgido novos problemas para quem procura atacar. A forma como grande parte das equipas se posicionam no momento defensivo, faz com que a procura de espaços se torne uma missão mais complexa.

Juan Manuel Lillo fala-nos, e bem, da importância da largura para evitar o congestionamento que encontramos, tendencialmente, no corredor central. Mesmo para aqueles que priveligiam o jogo interior, a largura surge como arma fundamental, no sentido de alargar o bloco adversário. No entanto, aqueles que têm optado por um posicionamento mais baixo, têm respondido com marcações individuais, de forma a contrariar a esse aumento de opções em largura.

Existirão muitas formas de contrariar este alargar da linha defensiva, no entanto, mudar a forma como se procura o espaço, poderá ajudar.

No primeiro jogo da época passada, o Manchester City de Guardiola, encontrou muitas dificuldades face ao acompanhamento que os médios ala do Brighton faziam aos jogadores do City que se colocavam em zonas mais exteriores. A linha defensiva passou muitas vezes a ser composta por 5 ou 6 jogadores. As variações diretas de centro de jogo, de um corredor para o corredor oposto, deixaram de ser tão proveitosas, porque a linha média do adversário se desdobrava para alargar a última linha. Teoricamente, abria-se espaço ao lado dos médios do Brighton.

Mas esse “espaço” só seria vantajoso, se o jogador que aí recebesse, conseguisse enquadrar. O que, contra estas equipas, fruto das marcações individuais, raramente acontece.

A questão é que a procura de espaço não se pode cingir à procura de um determinado pedaço de relva que não esteja ocupado. Muitas vezes, existem vantagens na procura de espaço, em locais onde a presença de jogadores adversários é maior. Sobrepor jogadores na mesma zona do terreno, sobrelotar determinada área, poderá ajudar na descoberta de determinados espaços. Ainda que sejam mais reduzidos, esses espaços, poderão trazer vantagens numéricas ou mesmo espaciais, que permitem a quem ataca, associações que complicam quem defende de forma individual nos corredores laterais.

Reparem no City: a derivação de De Bruyne (interior esquerdo) para a mesma zona de Silva (interior direito), juntamente com o deslocamento de Agüero e Gabriel Jesus para a zona da bola, traz para dentro da zona mais povoada do adversário, vantagens enormes para quem procura o golo. O lateral do Brighton, que na maioria das situações, se encarregou de marcar De Bruyne, não o perseguiu para o corredor oposto.

Em termos de número, o City construiu uma igualdade numérica naquele espaço (5×5). Mas não será só isso que conta. Um 5×5 onde residem Agüero, Gabriel Jesus, Silva, De Bruyne e Walker, raramente será um 5×5 onde existe igualdade qualitativa. Ou seja, não é só número que conta. Os nomes de quem lá está também são relevantes.

Também por isto, é importante perceber que jogar dentro da pressão pode ser um caminho para encontrar o espaço necessário para criar. As condições para criar situações de finalização, não dependem só do posicionamento dos nossos adversários.

No final da jogada, o Gabriel Jesus vai finalizar no meio de dois defesas, em inferioridade numérica mas com uma vantagem espacial que lhe permite cabecear na cara do guarda redes. Esta, é outra situação que espelha a mais valia que pode ter um correto posicionamento, mesmo em situações de inferioridade numérica.

O espaço que procuramos não está só relacionado com o número de pernas que não queremos ter pela frente. Assim como não é sempre mau cruzar quando estamos em inferioridade, também não será sempre mau insistir no corredor mais povoado, mesmo que das bancadas só se oiça o “tira daí a bola”.

 

 

Sobre Bruno Fidalgo 83 artigos
Licenciado em Ciências do Desporto. Criador e autor do blog Código Futebolístico. À função de treinador tem aliado alguns trabalhos como observador.

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