O Treinador de Guarda-Redes na “Era da Estratégia”

O Treinador Específico dos Guarda-Redes, como o nome indica à partida, é aquele elemento de uma equipa técnica a quem está predestinada a organização, planeamento e execução da tarefa específica de trabalhar com os Guarda-Redes de um plantel. Esta tarefa, em muitos casos e nunca generalizando, acaba por se cingir a isso mesmo: potencializar quem está na baliza para estar no “summit” das suas capacidades, assim como gerir a equipa de Guarda-Redes à sua disposição. Com a entrada do Futebol na já apelidada  “Era da Estratégia”, torna-se urgente uma mudança, leia-se adaptação, àquilo que acabam por ser as funções de quem prepara quem acaba por ser visto como o último reduto para quem assiste a um jogo de Futebol.

Gianluca Spinelli, actual Treinador de Guarda-Redes do Paris Saint-Germain é o responsável pela evolução de Guarda-Redes como Mattia Perin no Genoa (agora na Juventus para continuar o seu crescimento com Filippi), assim como a valorização de Courtois no Chelsea, paralelo ao seu trabalho na Selecção Italiana.

Mantendo a tradicional e essencial potenciação do atleta em termos físicos, técnico-tácticos e psicológicos, surge um ênfase maior na parte da táctica e da interpretação do Jogo, das suas formas mais simples ás mais complexas. Quem trabalha os Guarda-Redes deve, de uma forma constante e construtiva, observar e saber interpretar as formas de jogar daqueles que são os nossos adversários, identificando as diferentes abordagens ao Jogo, lacunas ofensivas que possamos explorar para evitar inferioridades numéricas e desequilíbrios posicionais da nossa parte, quando a bola estiver perto de chegar ao nosso último terço, assim como saber conjugar as características dos Guarda-Redes ao nosso dispor com o que irão enfrentar, enriquecendo-os. Isto é um trabalho que exige um conhecimento profundo, passando para lá daquilo que se deve esperar contra adversário A, B ou C e indo ao encontro de uma hierarquização concreta daquilo que se deve procurar de forma a identificar os pontos mais fortes e mais fracos da equipa com quem jogaremos no futuro. A existência ou não de intencionalidade em determinados momentos e fases do jogo, saber partir e descodificar os princípios, sub-princípios e sub-sub-princípios de forma a recuperar a posse da bola e facilitar o trabalho dos restantes elementos da equipa, ao mesmo tempo que aperfeiçoamos os aspectos técnicos inerentes ás acções a ser executadas.

César Gomes, astuto Treinador de Guarda Redes do Nantes de Miguel Cardoso, foi uma peça fundamental no desenvolvimento da ideia de jogo do surpreendente Rio Ave da época 2017/2018, no que respeitava ás acções envolvendo Cassio, resultando numa exponencial valorização do atleta, já com 37 anos de idade.

Muitos de vós pensarão: “então mas isso não é o trabalho do analista e/ou do observador de adversários?!”…é, mas não somente dele. A valorização dos activos que trabalham directamente connosco – os Guarda-Redes – é nossa responsabilidade  mas também acaba por ser (até de uma forma mais ampla e de acordo com o tipo de treinador principal com quem se trabalha) a preparação e a adaptação a todas as situações ofensivas, por parte de todos os envolvidos no processo defensivo. Em suma, a busca pela constante valorização, não só dos Guarda-Redes mas também nossa – de quem trabalha com eles – enquanto agentes do Jogo, com responsabilidades na sua evolução.

É a nossa magna responsabilidade como Treinadores de Guarda-Redes (e sobretudo como Catalisadores de Vivências) a constante procura da melhor forma de negar ao adversário a possibilidade de marcar um golo, ao mesmo tempo que dotamos os nossos jogadores de ferramentas e conceitos essenciais para conseguirmos a recuperação mais eficaz possível da posse da bola e facilitar o aparecimento de oportunidades colectivas para chegar com sucesso à baliza contrária ao mesmo tempo que nos preparamos para a eventualidade de perder a bola novamente. Sem um conhecimento prévio, profundo e pratico daquilo que se pode esperar dos nossos adversários, das suas dinâmicas colectivas e das suas formas e métodos de execução, nada feito. Não podemos esquecer que na nomenclatura da nossa tarefa, está lá também Treinador.

Sobre Pedro Espinha 5 artigos
Coordenador do Departamento de Treino de Guarda-Redes e Treinador de Guarda-Redes do Lyn Toppfotball, e da NFF (Federação Norueguesa) nos escalões de formação. Passagem pelo Stabæk Fotball (Treinador de Guarda-Redes e Treinador de Formação), Bergsøy IL (Treinador de Guarda-Redes, Analista, Treinador de Formação e Coordenador de Children Football) na Noruega, e pela formação do SL Benfica, onde foi treinador e exerceu funções de Técnico Auxiliar de Coordenação. Apaixonado pelo treino, desenvolvimento e pelo Jogo, e sobretudo pela posição específica do Guarda-Redes, possui o curso UEFA B e A de Treinador de Guarda Redes.

2 Comentários

  1. E eu que começava achar que só os tipos bonitos e a cheirar bem é que podiam ser treinadores de guarda redes já estou mais tranquilo.

  2. O que na minha opinião às vezes acontece, não são valorizados,mas se calhar um treinador de guarda redes treina uma equipa,e se calhar ao contrário não acontece

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