O jogo dos dias de hoje, mesmo com Sarri

Só aqueles que são verdadeiramente marcantes mudam paradigmas. Foi assim com Rinus Michels, Arrigo Sachi, José Mourinho ou Johan Cruyff. Também a fenomenal equipa de Pep Guardiola mudou o paradigma do futebol e a evolução ofensiva foi notória nos anos seguintes. O jogo coletivo, o chegar juntos, o toque curto, o tentar penetrar e criar através de combinações, a colocação de muitos jogadores a jogar por dentro do bloco adversário, o ligar fases, o virtuosismo (técnico, decisional e criativo) em detrimento da capacidade física e condicional e principalmente o domínio do jogo através da monopolização quase total da bola foram algumas das mudanças que surgiram. A verdade é que a diferença no futebol pré e pós Barça de Pep é assustadora!

Nos anos seguintes todas as equipas tentaram replicar muito do que se fazia na Catalunha. E bem, era esse o futuro do futebol. Ainda assim, para todas as respostas existem contra-respostas. O aumento da qualidade em organização ofensiva trouxe também uma tamanha qualidade defensiva, que apesar de todo esse poderio ofensivo hoje os golos nesse momento são diminutos. No entanto, muitos são os que pensam ainda que esse é o único caminho para se ser bem sucedido e que só quem o faz tem inegável qualidade, daí treinadores como Simeone, por exemplo, sejam tão “mal amados”.

Depois de Pep, muitos são os que consideram Sarri o grande treinador do futebol atual e o seu “sucessor” como acérrimo defensor desse “bom futebol”. Apesar de ter um modelo de jogo bastante equilibrado e de grande competência em todos os momentos do jogo, é a brilhante organização ofensiva que fascina todos os adeptos. E também nós, neste blog, nos deliciamos a ver as suas equipas atacar. Ainda assim o jogo mudou! Hoje não basta ser o melhor em ataque posicional, nem mesmo para Pep, Sarri, Tuchel ou Pochettino.

O Chelsea – Newcastle no passado fim-de-semana é (mais) um exemplo brutal e inequívoco de tal premissa. Nos dias que correm não basta ser-se bom num momento ou num capítulo do jogo, nem jogadores, nem equipas, nem treinadores sobrevivem se assim for. Estamos na era da competência, da competência em tudo e em todos os momentos do jogo e só assim, actualmente, se consegue ganhar com regularidade suficiente para se conquistar títulos. Num encontro em que o Chelsea teve 82% de posse de bola e onde jogou sempre no meio-campo do adversário, não existiu um único golo em ataque posicional. 2 golos após livre e 1 de penalti (sendo que a falta para este surgiu num ataque rápido após recuperação de bola baixa).

O blog sempre defendeu “a predominância do cérebro sobre o físico” e é urgente focarmos-nos na ideia do cérebro, utilizando-o para perceber que não existem receitas no futebol e muito menos não existe um só caminho. O futebol hoje é isto, goste-se mais ou menos, concorde-se ou não. E quem não está preparado para tudo, vai perder muito mais que ganhar.

 

6 Comentários

  1. Ia jurar que estávamos na era da estratégia. Mas afinal estou desactualizado. A era da estratégia já acabou. E deu lugar à “era da competência”. Noutros sítios, diz-se que estamos na era das “fake news”, que é basicamente a era em que uns malucos quaisquer pegam num facto, distorcem-no, e concluem cenas absurdas. O Chelsea marcou dois golos, não três. O Newcastle do Benitez renuncia ao ataque posicional, por isso nem fazia sentido usar o golo do Newcastle para mostrar que não foi em ataque posicional. Depois, uma das consequências de ter 80% de posse de bola, de jogar em ataque posicional, de tentar penetrar entre o bloco adversário em combinações, é justamente o número de faltas que se ganham perto da área adversária. Achar que um golo de bola parada não tem nada a ver com a maneira como Sarri quer que a sua equipa jogue, enfim… Depois, pegar num jogo para fazer uma afirmação geral, enfim… O Chelsea venceu o Huddersfield, num jogo de feição semelhante, por 3-0. Tirando o terceiro golo, já no final, os outros foram consequência de um jogo em ataque posicional. Contra o Arsenal, o mesmo aconteceu no primeiro e no terceiro golo do Chelsea. Incluindo estes dois jogos, o argumento mantém-se? Ou é melhor não falar disso?

    O LE já foi mais criterioso. Em tempos, sabia resistir à argumentação fácil, ao simplismo e à banalidade. Hoje em dia, parece que quer agradar a todos, e fica mal dizer mal de alguns e bem de outros. E por isso aderiu à tese, muito anterior à era da competência, de que se pode ganhar de qualquer maneira, que todas as estratégias são válidas, e que todas as ideias são interessantes até prova em contrário e potencialmente vencedoras. É pena!

    • Com a nova página entraram novos escrivas com ideias antítese do que o LE representava, e nenhuma mais perniciosa que a noção de “ganha = qualidade”. Foi o LE original que mostrou exactamente o oposto, que uma equipa podia ganhar mesmo sendo má. Alguns dos novos autores merecem mais desconfiança por parte de quem os lê, e isso é mesmo desagradável.

  2. Perder por perder – será esta a sina do Newcastle mais ponto menos ponto – mais vale tentar jogar um bocadinho. Sabes, é que para mim, hedonista me confesso, o prazer é algo importante até quando vou almoçar. Vê uma coisa: isto que eu disse não é um argumento “certo” ou “errado”. É a minha visão filosófica sobre o que é, para que serve, e porque é que gostamos tanto de futebol. Não quero ter razão nem deixar de ter. Quero apenas ser o Edson Arantes do Nascimento e pensar pela minha cabeça. O Newcastle podia até ter vencido por 5 a zero que isto não me faria mudar de opinião. Nem de achar que o Newcastle e o seu treinador são uma merda completa. Portanto, não percebo onde o autor desta coisa quer chegar com esta argumentação. Queres continuar a comparar pilinhas? A minha é a mais pequena, sem dúvida. Já ganhaste… Next!

  3. O que vcs têm a dizer do aleijado dizer outra vez que a equipa do Bielsa marca ao homem a campo todo e falar em linhas afastadas? ????

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