O lado táctico e aleatório para lá da vitória do Benfica na Grécia

O Benfica voltou a vencer na Liga dos Campeões, e os cinco golos da partida ficam marcados por uma série de curiosidades tão próprias do jogo.

O primeiro golo encarnado, surge de uma série de fortunas / infortúnios, tão próprios da aleatoriedade de cada um dos lances. Um lance pouco trabalhado, em termos de definição com bola, mas com o padrão sem bola dos encarnados muito vincado. Desde os movimentos e posicionamentos habituais no ataque às zonas de finalização, que guarda o primeiro espaço para quem vem do último em deslocamento (Salvio) e o último para o interior do lado oposto. Enquanto interior do lado da bola (Gedson, no caso) se posiciona na entrada da área, e Fejsa e lateral do lado oposto (Almeida) preparam já o momento seguinte, o da perda, pela forma como controlam referências adversárias.

 

O segundo golo tem novamente a particularidade dos posicionamentos dos elementos do corredor lateral oposto. Rafa, o elemento do espaço mais longe (bola em Salvio) ataca zona de finalização para lá do penalty para o primeiro poste, e Grimaldo posiciona-se no seu espaço interior à entrada da área. O adormecimento do lateral que ficou sem a referência Rafa, e do adversário directo de Grimaldo, possibilitaram a entrada do lateral espanhol no espaço vazio para finalizar o lance.

 

 

O terceiro golo encarnado surge unica e exclusivamente por obra da aleatoriedade do lance, que após uma série de ressaltos chegou ao erro técnico de um médio grego, e da inspiração individual de Alfa, que chegou mais rápido para ficar com a posse e disparou no sentido da baliza adversária. Nem tomada de decisão nem posicionamentos tiveram o que quer que fosse a ver com ideias comuns.

 

 

A tentativa de adivinhar o lance na sua fase inicial, por parte de Pizzi, abriu a linha média dos encarnados e permitiu ao AEK explorar em primeira instância a profundidade no corredor do transmontano. Conseguiria anular a primeira investida, mas uma vez mais, o mau posicionamento de Pizzi que nem fechou espaço interior para que Almeida se pudesse concentrar maioritariamente no que poderia acontecer com o elemento colocado à largura, nem acompanhou o tal elemento à largura, deu origem a tudo o que se seguiria. A inépcia sem bola do médio encarnado, torna-o praticamente sempre um jogador a menos no processo defensivo, e numa competição de maior nível que a nacional, é muito raro tal não se fazer notar.

No golo do empate, em inferioridade numérica na zona de finalização defensiva, a opção de Almeida e Lema por procurarem o duelo HxH permitiu espaço, tempo e homens livres para concluir o lance.

 

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

9 Comentários

  1. Face a esses comportamentos de Pizzi que é o responsável? Será RV ou Pizzi que simplesmente não assimila o que RV quer?

    Outra coisa, se Pizzi tem sempre esses comportamentos erráticos não será perigoso colocá-lo a jogar a partir de tão de trás? Não será melhor colocá-lo como terceiro médio? Ou será melhor nas ala direita?

    • A dimensão tática curta do Pizzi é a principal razão pela qual ele não está a jogar noutros palcos (como é o caso de Bernardo Silva). A capacidade de leitura, movimentação e passe nos processo ofensivos é de grande nível, e como na maioria dos jogos em Portugal o Benfica está em processo ofensivo, ele é um titular de elevado nível. O problema surge quando existem equipas capazes de ter posse e controle de bola mais dentro do meio campo do Benfica (como aconteceu em muitos momentos contra o Chaves e contra o AEK quando jogava com 10), porque aí o trabalho de posicionamento, movimentação e pressão defensiva é fundamental e nesse aspeto Pizzi (e outros) são muito fracos.
      Rui Vitória tem razão quando afirma que com 11 em situações normais o jogo seria de controle fácil, mas o equipa com o orçamento do Benfica tem de ter capacidade e rotinas de jogo para jogar em defensivamente em bloco com recuperação e contenção de bola.

      • Um outro treinador, que por acaso antecedeu este treinador, jogou algum tempo com menos 1 jogador em Turim e consegui não sofrer golos. Mas lá está, defender com poucos é uma arte que não está ao alcance de todos.

  2. O que dizer do 4-4-1? Sabendo que o AEK iria vir para cima, ter a bola, procurar demonstar a organização…Que utilidade teve Seferovic na 1º linha de pressão?

    No meu ponto de vista, pouca ou nenhuma utilidade. Era apenas mais um em campo no processo defensivo, numa altura que venciam por 2-0, com menos um em campo.

    Porque não uma linha média de 5? Ou quem sabe uma linha de 5 na defesa? Maior controlo de espaços e garantia de superioridade? Fica a ideia…

    • É sempre mais fácil fazer “prognósticos no final do jogo”, mas fica a sensação de que, após a expulsão do Ruben, a retirada dum jogador com processo defensivos mais definidos (basta pensar que ele joga como uma espécie de defesa direito na seleção) em prole dum jogador com graves lacunas nos processos defensivos foi um erro de casting.
      Julgo que um dos fatores que poderá ter pesado nessa decisão será o fato do Salvio ter vindo duma pequena lesão, o que poderia significar que o esforço a que seria submetido envolvia um risco elevado especialmente em função do próximo jogo contra o Porto.

  3. Nunca fui jogador de futebol e como tal não sei entender a despesa física necessária para se jogar um jogo de 90min, contudo ao comparar com outros jogadores é possível tirar uma conclusão. O Pizzi é um jogador preguiçoso a defender. Quando comparo o volume de jogo nas duas dimensões (ofensiva e defensiva) de Pizzi com, por exemplo, Herrera custa a crer que o Pizzi não possa fazer mais.
    Um dos grandes defeitos do Benfica de Rui Vitória é a incapacidade de jogar em contenção e posse de bola. Há jogos e momentos em que isso é necessário (e contra o Porto vai ser fundamental essa capacidade). Na segunda parte do AEK (após a expulsão) e final de jogo de Chaves (após expulsão de Conti, acumulada com lesão de Jardel e Gabriel) o Benfica precisava de jogar em contenção e posse, mas existem demasiados jogadores neste plantel incapazes de o fazer. Se retirarmos o Pizzi, Seferovic e Rafa, (Jonas na segunda parte em Chaves) do trabalho defensivo o Benfica jogou em muitos momentos com 6 jogadores contra 8 (e com a agravante de que o eixo defensivo era completamente novo (nas duas segundas partes) e isso notou-se no 1º golo sofrido.
    Perante isto questiono-me se esta falha é falta de rotinas de treino (só um treinador poderá dizer), falta de jogadores com essa capacidade (a entrada de jogadores como Alfa Semedo é a resposta) ou incapacidade dos jogadores de mudarem o chip tático?

  4. Sem querer esquecer o desempenho táctico colectivo, o mau comportamento defensivo do Pizzi é por demais evidente. É incrível como um jogador experiente como ele comete os mesmos erros época após época – e como o treinador não parece estar preocupado. O Pizzi posiciona-se mal demasiadas vezes é por demasiadas vezes alheia-de das jogadas do adversário e tendo em conta a posição onde joga condiciona a equipa. Sou capitão numa equipa de futebol – bom, é a equipa do nosso escritório,jogamos numa liga mas é o mais amador possível. Um dos nossos melhores jogadores é como o Pizzi. Com a bola nos pés é um craque. As vezes até parece o Messi a fintar. Segundo melhor jogador da liga em golos marcados e citações para melhor em campo. No entanto a defender…como o Pizzi tantas vezes nos vídeos é vê-lo a vir a passo quando há um 1×3 na defesa. É talvez por isso vamos descer de divisão!

  5. Creio que a linha de 5 acabou por se concretizar com o Gelson mais encostado à direita a cobrir as dúvidas que lateral do aek que andou 20 minutos de jogo a parecer o Marcelo por incompetência.

  6. Incomoda-me o constante visar de personagens ao invés de se analisar a floresta. Não estou a falar para os autores dos artigos sobre o Benfica na Grécia, que são dois belíssimos artigos. Falo da maioria dos comentadores.

    Como acontece várias vezes no futebol, e com este Benfica do Vitórias especialmente, o jogo teve duas caras, na minha opinião:

    – Uma primeira cara que foi de domínio quase total do Benfica. Que aos 30 minutos não chegou aos 3-0 pelo Pizzi porque não calhou (e mesmo antes e depois disso foram o redes e muita inépcia que foram salvando os gregos, que estavam em campo de forma lamentável). Nesta fase, o Pizzi que todos gostam de bater (sabe-se lá porquê, as pessoas metem uma coisa na cabeça e depois marram até rebentar), foi talvez o jogador mais decisivo;

    – Mesmo assim, durante esta primeira cara, aconteceram alguns eventos que eu registo e que me parecem importantes: o primeiro cartão do R. Dias resulta de uma série de parvoíces na saída de bola e num erro crasso do central na recepção, que foi (bem) resolvido com uma falta para cartão; o segundo resulta de uma abordagem patética do A. Almeida tanto na saída de bola num primeiro momento (sem pressão, aos 46 e qualquer coisa, a ganhar 2-0, tenta cruzar uma bola pelo campo todo para a saída do Rafa – será que ele pensa ser o Messi?) como depois num segundo momento, quando a bola vem pelo ar para a sua zona de acção é indeciso e ainda por cima afasta-se da disputa, deixando o Ruben sozinho com adversários a pressionar e quase a ficarem isolados ou perto disso;

    – Ainda na primeira parte e apesar do domínio, aconteceram várias jogadas sem contenção da parte do Benfica que não correram mal por incompetência – e não, não foi apenas o Pizzi. Foi a equipa toda. Aliás, é algo que se repete no Benfica do Vitórias, em determinadas situações;

    – O jogo foi para o intervalo com o Benfica a ganhar quase nas calmas e aqui tem de haver algum mérito do treinador, é ele que prepara o jogo, apesar das falhas colectivas que todos conhecemos. As falhas individuais, neste caso, são responsabilidade dos jogadores, até porque julgo que o Rui Vitória não calça chuteiras;

    – Na segunda parte o filme foi outro, completamente outro. Com erros crassos em termos de posicionamento e estratégia. Parecia que não havia um plano trabalhado para aquela eventualidade (jogar com menos um). Demoraram 30 minutos a perceber o que era preciso. Para além disso, como já referiram outras pessoas, estas equipas do Benfica no pós-JJ jogam bastante by the book: quando se alteram as referências por algum motivo, a equipa desfaz-se toda, todos os sectores ficam desligados ou quase. Foi patético ver o Benfica a jogar com menos um, com uma linha bastante subida mas sem fazer contenção! Eles metiam a bola onde e como queriam, espaço, espaço, espaço, espaço por todo o lado;

    Conclusão: foi um jogo muito agitado, giro de ver (mas sem grande qualidade), onde o Benfica mostrou pela enésima vez os problemas colectivos que tem na vida. Se o Pizzi defende pouco, tem outras valências que são muito interessantes, na minha opinião. Para ser uma análise justa devemos colocá-las na balança. Por outro lado, é o treinador que deve trabalhar o colectivo para disfarçar estes problemas individuais. O Vitórias não é um mau treinador mas também não é um bom treinador. O Benfica tem jogadores que não têm classe para fazer grandes LC – e muito provavelmente também não tem capacidade para contratar jogadores de outra categoria em determinadas posições.

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