Sei o que fizeste nas noites passadas, Fatih

Ninguém imagina Fatih Terim a sorrir. Mas talvez, em alguma das noites que antecedeu o Porto-Galatasaray desta quarta-feira, ele o tenha feito. Talvez tenha, até, dado um dois passos de uma dança alegre, contagiosa. Isto porque depois de ter visto e revisto o Schalke-Porto, o Porto-Tondela e, talvez, o Porto-Vitória, aquela sensação de vazio não o largasse. Ele sabia que as arrancadas de Rodrigues podiam fazer mossa, e sabia que o Polvo Fernando poderia ajudar a dividir os duelos onde a equipa de Conceição é (ainda?) forte. Mas faltava algo. E é então que o turco tem o seu primeiro momento eureka da noite: a chave poderá estar no Porto-Besiktas da época passada, descobre. E, depois de dois goles de brandy e, acto contínuo, a inserção do DVD do jogo que deu a vitória à equipa de Quaresma, a luz parece mais perto, mas o vazio permanece.

É então que Fatih ouve dois passos. E em seguida outros dois. A porta entreabre-se e Fatih vê a luz. Abraça furiosamente a mulher que espreita à entrada do escritório (sim, furiosamente, porque ele não sabe de outra maneira) e dá com ela os dois passos de valsa citados acima. A chave estava encontrada, despertada que foi pelos dois passos da sua esposa Fulya, sua companheira desde há 36 anos. “De pé para pé!!! de pé para pé!!!“, bradou durante 20 segundos. Foi assim que o Besiktas ali venceu e seria assim, na sua cabeça, que o Galatasaray ali venceria também.

Esta era a visão, era a perspectiva do campeão turco, pela mente do seu timoneiro. Fazer o FC Porto correr atrás da bola era possível. E foi-o. Mas faltou a Fatih Terim o terceiro momento eureka da sua noite. Oportunidades atrás de oportunidades, com um FC Porto muito mais lento do que a bola girava. Chegava tarde ao duelo. Mas, como já dito, faltaria aos turcos algo que é fulcral em futebol. E, talvez, o terceiro momento pelo qual Terim não esperou tivesse intimamente ligado com tranquilidade. Ou confiança. Algo das duas. Pois com ela do lado dos turcos, talvez o Dragão não tivesse festejado uma vitória na 2.ª jornada da fase-de-grupos da Liga dos Campeões.

Olá e adeus, 4x3x3

Foi nele que se montaram conquistas épicas. Os dois extremos, o ponta-de-lança e os três médios com características diferentes, Foi assim a 1.ª versão da máquina de Mourinho, foi assim a espingarda de transições de Jesualdo, como também a trituradora de André. Partia daí também, para se transformar depois num 4x4x2 com as incursões centrais de James, a berlina cheia de segurança de Vítor Pereira. Por isso, ver Danilo, Herrera e Otávio, com Brahimi e Corona ora encostados à linha ora a mentirem a esse mesmo traçado lateral, invocava coisa boa. Contudo, a estranheza de correr atrás da bola e de chegar atrás aos duelos, não deixou a experiência de Sérgio passar de uns fugazes espirros de criatividade. E na 1.ª metade vieram de Corona – que aos 26′ acordou o Dragão depois de sentar ‘meia’ defesa do Gala, pedindo um volley ainda mais magistral a Brahimi. Muslera negou aquele que seria um golo digno das melhores versões do 4x3x3 portista. Mas talvez o universo, pela mão do uruguaio, o tenha negado porque pouco fizeram para isso os azuis-e-brancos.

Porto’s Malian forward Moussa Marega celebrates a goal during the UEFA Champions League group D match against Galatasaray

E se a prestação de uma equipa se analisar pelas oportunidades que concede e não pelos golos que marca, muito terão, os campeões nacionais, de ouvir de Sérgio. E se calhar até já ouviram, visto que na 2.ª metade o filme, de alguma maneira, se inverteu. Era o Porto quem fazia correr o Galatasaray, era o Porto quem lançava menos bolas venenosas aos colegas, saindo de trás e fazendo os espaços parecerem melhor ocupados. Mais juntos e com decisão mais fácil, o Dragão cuspiu um golo que pode valer ouro. Da traição de Telles ao seu antigo clube (não queriam traições não concedessem cantos!) ao cabeceamento de um Marega tão sozinho como aquele nerd no refeitório do Secundário, foi um déjà vu do golo que deu ‘meio’ campeonato ao Porto nos Barreiros. E ficará a recordação, porque dessa equipa, desse conjunto sedento, pouco, mas mesmo pouco, neste jogo, fez crescer sentimentos parecidos aos da época transacta. Ficou mesmo a sensação que se Fatih Terim tivesse sonhado com a tranquilidade, e a confiança, que a sua equipa necessitava para finalizar (ao invés de fecharem os olhos antes de rematarem) talvez três psicólogos, contratados à pressão, tivessem viajado até ao Porto com a comitiva turca. Mas não. A 2.ª parte foi azul-e-branca, com excepção ao momento em que se partiu. O Gala queria e criava oportunidades e o FC Porto encontrou em André Pereira alguém que conseguiu desviar Marega para onde ele é mais perigoso. De Pereira já sabemos, grita 4x3x3 e ‘deixem-me sozinho’ e de Moussa sabemos também: espaço, diagonais, velocidade. E sem Soares, sem Aboubakar e com um Marega que rejeita bola no pé, talvez um miúdo que segura, procura, lê e entrega, seja o que se pede. É rever o minuto 90 por entre uns goles de Brandy, Sérgio. Goles esses que servirão para atenuar as sensações causadas pelas milhentas oportunidades concedidas.

Porto-Galatasaray, 1-0 (Marega 49′)

2 Comentários

  1. O Porto venceu mas deixou no ar aquela sensação de que não é, ou não está, muito mais forte do que a concorrência. A organização ofensiva continua a ser uma miséria e o único plano de jogo são os disparos do Marega em profundidade. A este nível esta limitação resultou que dos últimos 17 golos marcados na champions, 10 foram de, ou na sequência, de bolas paradas.

  2. Na vossa opinião aquilo que o Sergio Conceição propõe não é muito semelhante aquilo que o Simeone propõe no seu Atlético? Com as devidas diferenças porque a maior parte dos jogadores não são sequer comparáveis.

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