“Atrás não se brinca” II

Matthijs de Ligt - Credits to Sander Chamid & HH

“Johan Cruyff dizia: o mais importante no Futebol é que os melhores jogadores sejam os defesas. Se estás com a bola, consegues jogar; se não, não fazes nada.”

(Gonzalez, 2012)

No passado mês de Fevereiro publicámos um artigo sobre o momento de construção de Frenkie de Jong, jovem Defesa-Central do Ajax. Escrevíamos então, lembrando a cultura que Kovács, Michels e Cruyff desenvolveram no Ajax, que “quase 50 anos depois, no mesmo país, Frenkie de Jong, aos 20 anos, provavelmente influenciado pelas mesmas ideias de jogo que ainda pairam no Ajax de Amesterdão, apresenta a mesma cultura de jogo. Sem receio, conduz, fixa, dribla e penetra sistematicamente a primeira linha de pressão adversária. Derruba, novamente, preconceitos enraizados na nossa cultura”.

Aos 19 anos, um ainda mais jovem Defesa-Central holandês, Matthijs de Ligt… também formado e jogando no Ajax… apresenta ideias similares. Indiscutívelmente… ambos têm imenso talento, porém, é a cultura que lhes proporciona jogarem desta forma. Caso, o seu processo de formação castrasse estes comportamentos, seguramente que hoje não os apresentavam, ou pelo menos com a regularidade e confiança com que surgem.

A situação específica que publicamos é de Transição Ofensiva, no seu sub-momento de reacção ao ganho da bola, que manifesta ainda maior risco do que a Construção uma vez que nesse contexto, caso o portador da bola a perca novamente está a apanhar companheiros a abrir ou à procura de espaços à frente da linha da bola, e tal poderá ser, nesse momento, fatal para a equipa.

Matthijs de Ligt contraria ainda a ideia que, no momento da recuperação da bola, a saída da zona de pressão deve ser realizada através de passe. À imagem da situação de 2×1+GR, talvez na maioria das vezes. Outras porém, pelo posicionamento e decisões dos opositores, a solução mais eficaz será mesmo a condução e o drible.

“gastem dinheiro com os defesas, sobretudo com os centrais! (…) Pode parecer paradoxal, uma equipa com um futebol ofensivo, de posse, de muitos golos e tem que investir em defesas? Claro, é onde tudo começa. Se defesas (e Guarda-Redes dizemos nós) não conseguem construir, todo este conceito se complica e o jogo já não será o mesmo. Nas minhas ideias o Guarda-Redes e defesas centrais são os primeiros avançados. E um central ter a capacidade de construir não é ter boa capacidade técnica. Tem que ter um grande entendimento do jogo ofensivo e ser muito bom na capacidade de decisão. Por isso, é tão difícil encontrar centrais para este tipo de jogo. Por isso, o Barcelona opta muitas vezes por colocar médios na posição de defesa central”.

Pep Guardiola citado por (Tactic Zone, 2013)

 

Bibliografia

Sobre Ricardo Ferreira 47 artigos
Apaixonado pelo jogo desde a infância, foi o professor Francisco Silveira Ramos que lhe transmitiu o mesmo sentimento pelo treino. Como praticante marcaram-no as experiências no futebol de rua. No jogo formal, as passagens pelo Torreense no Futebol, e no Futsal pelo Ereira e Benfica e Paulenses. Teve experiências como treinador e coordenador na Academia de Futsal de Torres Vedras e Paulenses (Futsal), em simultâneo, durante três anos. No Torreense durante seis anos, depois uma época no CDA, duas no Sacavenense e outras duas na Academia Sporting de Torres Vedras. Foi também, durante seis anos, coordenador de zona no recrutamento do Futebol de Formação e Profissional do Sporting Clube de Portugal. Posteriormente trabalhou dois anos como Coordenador Técnico no Futebol de Formação do Sport Lisboa e Benfica. No seu último trabalho, de regresso ao Sport Clube União Torreense, acumulou a liderança dos Sub19 e funções técnicas na equipa senior, equipas nas quais se sagrou Campeão Nacional na primeira edição da Liga 3, acumulando, no mesmo ano, mais duas subidas de divisão, à Segunda Liga e à Primeira Divisão Nacional de Sub19, totalizando sete promoções ao longo de toda a carreira. Foi co-autor do livro "O Efeito Lage" e é fundador do projecto www.sabersobreosabertreinar.pt.

5 Comentários

  1. Houve um texto parecido acerca do Osório, que tinha uma grande capacidade de progredir. Infelizmente desapareceu. Mas romper linhas é sempre uma vantagem muito grande nem que seja pelo desgaste adicional causado no adversário.

  2. Estes dois…! Dá um prazer do caraças ter interferência, mesmo que indirecta, no crescimento de meninos destes. Para além da qualidade individual evidente, há todo um ambiente ao redor que os leva a ver o jogo sempre de maneira diferente.

    E não venham com a história de na Holanda há espaço e tempo para. Treta. Deram chocolate à Alemanha e vão dar na Champions. O Ajax com bola até assusta!

  3. O inicio das jogadas em organisacao ofensiva é a mais modelada porque a perda da bola é fatal e nas equipas fortissimos de transiçao ofensiva ( Atletico, Liverpool…) de pressing alto é a fraqueza procurada. As equipas de Guardiola que nao abdicam da tactica do inicio sofre com essas equipas. Os seus jogadores mais criativos, mais inteligentes e os mais livres do modelo jogam entre as linhas.
    Ao contrario, no Real do Zidane, os defesas abdicam da criaçao do jogo e sao o Modric e o Kroos em posiçoes opostas numa mesma linha que iniciam as jogadas desde a defesa sem recorrer a um modelo tipo de jogo, e se calhar foi a maior razao do sucesso do Real porque permitiu iniciar as jogadas com 4/5 jogadores atras da linha de bola e porque a ligaçao desses com o trio ofensivo( isco, benzema e ronaldo)que està em inferiodidade numerica é suficiente e dificil de contrariar porque menos modelado. A força do Real vem das ligaçoes desses jogadores criativos, cada um deles com maneiras de jogar diferente mas complementares entre eles que mudam o jogo a cada instante. Certo que as jogadas muitas vezes desenvolviam-se nas alas porque entre linhas era despovoada mas cada finta de Kroos ou Modric mudava o paradigma e passava pelo centro ; claro quando Isco substitui o Bale, ele soube jogar em pouco espaço e assim centrar mais o jogo do Real.

    Com estas ideias e para seguir a ideia principal do post, os defesas do futuro terao caracteristicas actuais dos defesas centrais adicionadas às qualidades de Kroos/Modric. Mas esta evoluiçao nunca acontecerà porque simplesmente o Kroos e o Modric jogam assim atràs da linha de bola porque eles tem as costas protegidas pelos defesas centrais (Varane e Ramos) no minimo, e às vezes Casemiro ; e se esse ultimo estiver entre as linhas, o Kroos nao joga na mesma linha que Modric mas atràs. O modelo nao pode prescindir da estrategia porque desequilibra-se e equipas com a melhor estrategia vencerao.

  4. O Guardiola mudou de ideias desde a sua intervista de 2013 e jà nao procura centrais como o Boateng para criar jogo, e tenta agora utilisar os laterais para ter a superioridade numerica no inicio das jogadas, e que depois da iniciaçao das jogadas tem que ser rapidos para a projeccao das jogadas ofensivas e para uma rapida retarguada defensiva à perda de bola.

    Ele estreou esta ideia no Bayern com o Alaba e Kimmich e faz igual no City com o Mendy/Walker; o ano passado, graças ao aparecimento do James neste modelo, o Bayern foi a melhor equipa. Nao teve sorte com o Real a quem ele contrariou tao bem a transiçao ofensiva.

    Para mim, faltarà sempre ao City imprevisibilidade atràs da linha de bola, um jogador que joga consoante o jogo com o melhor timing. O Pjanic é neste momento o melhor neste aspecto atràs da linha de bola.

  5. Franco Baresi foi o melhor, ou um dos melhores jogadores do Mundo, a jogar e a interpretar a transição ofensiva. Nao vi, até hoje, alguém que tivesse a qualidade dele.

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