Contra os canhões, recuar, recuar

LISBON, PORTUGAL - OCTOBER 25: Sokratis Papastathopoulos of Arsenal applauds fans after the match during the UEFA Europa League Group E match between Sporting CP and Arsenal at Estadio Jose Alvalade on October 25, 2018 in Lisbon, Portugal. (Photo by David Ramos/Getty Images)

A analogia é uma das muitas que Carlos Carvalhal utilizou no seu período ao comando do Swansea City. Toda a gente se lembrará, certamente, do Ferrari que no trânsito de Londres nunca teria espaço para acelerar. A questão, neste Sporting-Arsenal que redundou na 11.ª vitória consecutiva dos gunners comandados por Unay Emery (a 1.ª dos londrinos em Portugal), é que um Ferrari às vezes parece um Ferrari mas, no fundo, acaba por ser um Alfa Romeo vitaminado. Daí que a ideia de José Peseiro, ao utilizar um trivote composto por Petrovic, Battaglia e Gudelj, pode ter tido muito a ver com um perspectiva errada em relação a um suposto Ferrari que, nesta quinta-feira em Lisboa, nunca andou perto de o ser.

Assim, haverá sempre jogos que se ganham antes de começarem, como haverá jogos que se perdem ainda antes do apito inicial. E esta opção de retirar toda e qualquer criatividade ao miolo (Bruno Fernandes partiu da direita) pode muito bem ter comprometido uma fase em que o Sporting teria tudo, mas tudo, para ser mais incisivo, dominante e criador. Falamos de uma 1.ª parte onde a falta de intensidade gunner permitiu ao Sporting alguns ataques rápidos que, sem auxílio ofensivo central, não passaram de fogachos – isto se compararmos com o que de bom o Sporting de Jesus fez contra equipas bem superiores a este Arsenal que, neste jogo, não teve sequer Özil para alarmar ainda mais o plano-de-jogo.

No fundo, ainda que não se venere ou respeite sequer, percebe-se a ideia que o técnico coruchense foi criando neste seu segundo legado em Alvalade. Algo assombrado pela ideia de um futebol-sexy que não lhe deu mais do que reconhecimento, Peseiro decidiu abandonar de vez a ideia e criar condições favoráveis a si enquanto técnico. Na cabeça de José Peseiro estará a necessidade de controlar as reacções de uma massa associativa intolerante à derrota. Assim, se não se sofrer… talvez se marque. Mais apoiado nos erros dos outros, do que agora preocupado com os seus, este II Sporting de Peseiro quer tudo menos expor-se – aos ataques adversários, às transições, à crítica…

Porém a questão fulcral será o que, a longo prazo, uma ideia bastante curta lhe dará – a si, e à sua equipa? Isto porque mesmo com três médios de características ofensivas, com a ideia de recriar o trânsito de Londres e escoar jogo para as alas (onde Acuña foi o principal transportador na 1.ª metade), a quantidade de bolas que o Arsenal pôde jogar entre-linhas na 2.ª parte (onde bastou subir a intensidade para controlar a seu bel-prazer o jogo) foi manifestamente exagerada. Daí que a ideia de que o trivote tenha ajudado a conter o Arsenal num primeiro tempo de ascendente leonino, caia em desgraça com as constantes investidas londrinas por um miolo decepado de intensidade e criatividade na etapa complementar. Será mais certo pensarmos em relação ao tal trivote: O que terão os três médios de características defensivas impedido o Sporting de fazer enquanto o jogo lhe esteve favorável?

No fundo tudo se resumirá a isso: levar o jogo para onde nos é mais favorável. E esta 2.ª edição do Sporting de Peseiro não joga de pé-para-pé no meio-campo adversário, ficando mais perto espacialmente da baliza do adversário, e ficando mais perto também de pressionar e recuperar alto com mais gente. Perdeu o que de bom tinha, em troca da ilusão de estar sempre compacta para evitar o maior pesadelo do seu técnico. Sim, Peseiro quer tudo, mas mesmo tudo, menos o jogo caótico que a sua antiga tentativa em controlá-lo criava. As perdas de bola e o desposicionamento assombram-no, mas (esta) falta de qualidade com bola nunca lhe dará uma Final europeia. Seria mais lógico, manter o que lhe dava reconhecimento e acertar posicionamentos que não deixassem descobrir caminhos para a baliza. Mas essa é a porta pequena. Ainda hoje Guardiola anda à procura da fórmula certa. É que atacar à Barça e defender à Milan é o santo graal que todos querem encontrar (inclusive Carlos Azenha). E Peseiro não quer ser mais Indiana Jones algum. Quer previsibilidade e o menor desposicionamento possíveis. Mas será que zero remates enquadrados, muito jogo concedido entre-linhas, e o erro ocasional de algum jogador que ‘oferece’ um golo, valem tanto a pena assim?

Sporting-Arsenal, 0-1 (Welbeck 78′)

3 Comentários

  1. Vale sempre mais ser genuíno.
    Aprende-se, apreende-se e evolui-se.
    Mas querer ser quem não somos, sem o realmente saber fazer ou nunca dará, ou demorará, fatalmente, demasiado.

  2. ” Falamos de uma 1.ª parte onde a falta de intensidade gunner permitiu ao Sporting alguns ataques rápidos que, sem auxílio ofensivo central, não passaram de fogachos – isto se compararmos com o que de bom o Sporting de Jesus fez contra equipas bem superiores a este Arsenal que, neste jogo, não teve sequer Özil para alarmar ainda mais o plano-de-jogo.”

    consegues definir o que e intensidade?

    bom texto de resto

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