Onde esbarra o sonho Europeu português

Por diversas vezes nos últimos anos, e sobretudo referente ao Benfica, ouvimos falar de um sonho Europeu, e de como a retenção dos jovens talentos poderá viabilizar tal desiderato.

É comum vermos os adeptos a formar 11’s com um sem número de jogadores de nível fabuloso, garantindo que se ainda permanecessem, no caso, no Benfica, haveria possibilidades para sonhar com uma conquista Europeia.

O que poucos parecem perceber, é que as próprias possibilidades de desenvolvimento individual dos jogadores, ficam coarctadas se por Portugal permanecerem. Não adianta crer que com Bernardo Silva seria possível ao Benfica ser campeão europeu, porque Bernardo Silva, nunca seria Bernardo Silva se não tivesse emigrado e experimentado contextos muito mais valorosos, e que contribuem e contribuiram de sobremaneira para o seu desenvolvimento.

Da mesma forma que no momento actual, a formação do Benfica trabalha com uma qualidade incrível, e potencia ao máximo as capacidades dos seus jogadores, pelas condições que lhes proporciona, pela qualidade dos seus treinadores, e pela forma como pensa o processo, nomeadamente o contexto competitivo em que insere os seus jogadores, garantindo sempre um estímulo elevado, que lhes permite um desenvolvimento próximo do óptimo, a chegada ao futebol sénior e à Liga NOS dos mais talentosos, só será um estímulo adequado ao seu desenvolvimento nos seus primeiros anos na competição.

Posteriormente, o ritmo lento com que as situações se sucedem, a falta de qualidade comparativamente com o nível alto europeu, quer de colegas, mas sobretudo até dos adversários, inibe uma evolução mais efectiva.

Em Portugal continuarão a formar-se jogadores de qualidade fabulosa. Porém, estes só atingirão o patamar dos melhores num contexto Europeu, se para lá se mudarem. Porque a própria evolução do jogador relaciona-se com o nível que enfrenta.

De uma forma simplista, se a Liga Portuguesa é um 6 em 10. Os melhores não passarão do 7. O suficiente para terem sucesso no contexto em que competem.

O sonho Europeu seja de Benfica, Porto ou Sporting, passa antes de tudo o mais por ter uma Liga com adversários muito fortes. E não parece que alguém se esteja a preocupar com tal premissa…

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

6 Comentários

  1. Será que ninguém por aqui percebe que a centralização dos direitos televisivos é o passo mais importante a dar? será que foi por isso que houve gente corrida da presidência da liga?
    Porto, SLB, SCP, Braga e Guimaraes que sao quem mais mete adeptos no estádio têm de perceber que só melhoram quando o resto das equipas tiverem pessoas no estádio.. e isso só se faz com dinheiro… vejam por favor as regras em relaçao a direitos televisivos da liga inglesa e copiem para cá… não é preciso copiar mais nada porque nós até somos mt bons e conseguimos fazer muito com orçamentos muito inferiores. mas as três equipas de topo “sugam” estes valores e esbanjam-os com antecipação de receitas em vez de pensarem a médio/longo prazo.
    Sinceramente não percebo esta mentalidade dos clubes, pois só há dois motivos para isto ainda não estar feito: incompetência … ou interesse próprio.
    FCP, SLB e SCP antecipam receitas televisivas a 10 anos e esquecem o futuro, tanto como se esquecem que campeonatos em que ganhem os jogos todos menos entre si não interessam a ninguém…

    • Ja houve que tivesse percebido, feito propostas, mas acabou gozado pelos outros todos.

      O futebol português é uma mafia, e quem nele anda so se preocupa com os seus negocios pessoais. E enquanto os clubes mais pequenos nao se unirem, e deixarem de andar alegremente a ver qual é que come mais, das migalhas do grande que tiver na mó de cima, isto nao vai andar para a frente.

      E esse dia so vai chegar, no mesmo dia em que os porcos começarem a voar.

  2. Precisamente.

    Ainda há um par de jornadas europeias, na sequência do jogo do Benfica com AEK, comentava-mos entre amigos que era impossível ao Benfica ter bons resultados europeus – leia-se mais que os oitavos. E mesmo assim… – pela incapacidade em manter níveis de concentração altos ao longo da partida.

    E isto já sem pesar a capacidade em decidir bem e depressa tanto a nível ofensivo, como defensivo. Ou sem equacionar a necessidade maior de, por vezes, decidir diferente do que vem automatizado.

    E isto vindo de gajos que de bola sabem o que sabe qualquer gajo que fica sentado no sofá ou na bancada e dá uns toques uma ou duas vezes por semana.
    Que a liga ou a federação não demonstrem qualquer iniciativa para alterar esta situação é que espanta (pelo menos que eu saiba). E digo isto porque infelizmente se tem visto que os clubes, por sua exclusiva vontade, não vão lá.

  3. Discordo. O campeonato francês não é o melhor exemplo. Terá crescido mais no Mônaco do que teria crescido no Benfica?
    Esses 11 fabulosos que são criados pelos adeptos falam de um Witsel, Ramires, DiMaria, Gaitan, Mitroglou, David Luiz ou Garay, Coentrão, Ederson ou Oblak, Javi ou Matic, até mesmo do Renato. Terá sido a ida para o Zenith a melhorar o jogo de uns, Marselha e outros, o banco do Atlético, do Real ou do Bayern?
    Se no caso do Ramires, Javi, Mitro e Garay (e Witsel), eram já jogadores formados, os restantes eram miúdos que cresceram no Benfica. Que diferença faz vir do Seixal ou da terceira divisão brasileira? Crescem de igual modo tendo oportunidade e jogar.
    Se ao jogarem numa Juventus, Real, Barça ou Chelsea serão estrelas maiores no futuro, absolutamente de acordo, mas que se conseguirem ficar numa equipa 5 anos crescendo ao lado e outros craques (não falo do plantel atual do Benfica) e fazendo boas campanhas europeias para ganhar calo…
    Exemplo da equipa deixada por Quique Flores para o Jorge Jesus, com talento por explorar e experiência internacional vinda de magos como Aimar, se tivesse tido a possibilidade financeira de reter talento, não seria apenas a liga Europa a meta.

  4. Teoricamente, não sem alguma lógica, o que escreve o Maldini tem alguma razão de ser.
    Na prática, o futebol tem variantes de toda a espécie e feitio, o desempenho de uma equipa passa por centenas de factores, muitos deles, os mais importantes, não são quantificáveis. Isso faz toda a diferença.

    Em 4, 5 anos muita coisa irá acontecer, isso é seguro; o futebol não será o mesmo, isso também é seguro; o Seixal assim como a qualidade dos jogadores não será a mesma. Isso também é seguro.

    Eu que há anos observo os jogos dos miúdos do Seixal, sei que outra coisa é segura, a qualidade dos miúdos que saem do Seixal é cada vez melhor, em todos os aspectos. Com acento em todos os aspectos.

    Se o sonho de se manter os miúdos mais talentosos for conseguido, algo extremamente difícil dada a capacidade financeira dos tubarões, mas que é possível, tenho a certeza que muita gente irá ficar admirada com aquilo que poderá acontecer dentro de 3 a 4 anos.
    No futebol, como em tudo, o talento é o mais importante e é isso que se procura no Seixal. Encontrá-lo e desenvolvê-lo. O “cluster” de talento que se está a juntar no Seixal, desenvolve-se através da interação entre os seus elementos, mais do que exportado para mercados menos talentosos, mesmo que mais competitivos (fisicamente?).
    My 2 cents.

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