(Verdadeira) Criatividade é a antítese da ideia-predefinida

Um sistema. Um plano. Uma ideia. Não raras são as vezes em que alguém que ostenta um amuleto é alvo de chacota pela vertente mais científica e racional. Afinal de contas, o que pode um medalhão preso por um fio, uma moeda ou uma entrada com o pé direito antecedida de uma reza, fazer para que evitemos coisas más e atraíamos coisas boas? Parece rudimentar, ilógico, ancestral. Mas, no entanto, um sistema, um plano, ou uma ideia, não são tão diferentes assim de entrar em campo com um amuleto que nos ‘dará’ coisas positivas e evitará as negativas.

Ponto número 1: Vivemos num Mundo altamente imprevisível. Por mais que sonhemos toda a noite com um desfecho, o livre arbítrio de todos os que nos rodeiam, quase de certeza absoluta, impedirão que o desfecho que idealizámos/imaginámos se concretize. Mas a vontade, altamente improvável, de ver recriado no Mundo, no terreno, no físico, um desfecho que imaginámos é tanta que a vontade de controlar se torna como um vício. Isto, apesar de ser totalmente idiota não agir a cada segundo, a cada momento, e, ao invés, tentar que o Mundo (muito maior que nós) se conforme às nossas ideias.

Ponto número 2: Mourinho, Guardiola e até Wenger (só para citar nomes mais contemporâneos, que nos poderemos lembrar melhor) obtiveram sucesso porque trouxeram mudança. Trouxe Mourinho tudo o que nele reconhecemos de bom (e dessas coisas positivas temos todos imensas saudades, cobrando-lhe diariamente o facto de não conseguir recriar tudo aquilo que conseguiu) e trouxe Guardiola uma evolução que Mourinho não conseguiu acompanhar. E só falando nestes dois (não esquecendo Wenger pelos ‘Invencíveis’ de 2004) poderemos atingir um raio de acção enorme desenhado por todos aqueles que eles influenciaram. Da psicologia, aos ‘mind-games’, ao sistema e plano-de-jogo, ao treinador como profissão glamourosa e atraente, não esquecendo o controle do jogo e obsessão por uma ideia, estes dois revolucionaram o jogo.

Ponto número 3: Revolução impõe mudança. E mudança é diferente (totalmente diferente) de controle e da tentativa de impor uma ideia que nos glorifica a nós, deixando-nos como génios que conseguem controlar o material. E esse é o principal sonho. Controlar o material, para impedir que os nossos defeitos sejam expostos e que as nossas virtudes fiquem à vista de todos. E a tentativa, altamente intelectual, mas pouco real, que uma ideia, um sistema, ou um plano, nos possam trazer sucesso regular, não é diferente, desculpem, de usar um amuleto para evitar que nos aconteçam coisas más ou para nos trazer coisas boas.

Se assim fosse todos os impérios nunca se teriam extinguido. Todos os sistemas políticos estariam ainda com a hegemonia na mão. E isso é tão impossível como uma amálgama de ideias opostas resultar em harmonia. Porque a mudança que Mourinho e Guardiola orquestraram lhes trouxe sucesso, todos tentam agora replicar, exigindo, que as mesmas ideias, de há mais de uma década, ainda funcionem, decorrida que está uma dezena de anos de livre-arbítrio e de transcendência em relação a essas mesmas ideias, esquecendo-se que essas [ideias] obtiveram sucesso porque trouxeram a mudança necessária e imprevisível (nem eles a previram, desculpem mas não a previram) para a evolução do futebol como todo.

Ponto número 4: Como transcender agarrados a ideias do passado? Guardiola saía com 3, hoje toda a gente sai com 3. Mesmo que não seja preciso. Mesmo que se perca alguém no meio-campo ou no espaço entre-linhas. A mesma coisa para os laterais subidos. Ou a mesma coisa para fora-de-campo, onde a arrogância comunicacional que Mourinho usou para se impôr num mundo-cão chegou aos treinadores de escolinhas e infantis – que tentam agora desenhar as jogadas dos seus miúdos quase por computador.

Somos assim tão incapazes de ideias totalmente originais (ou que transcendam as antigas)? Teremos mesmo que perder o nosso tempo a elogiar uma ideia que defendemos – seja de Sarri, seja de Pep, seja de Mou ou Zidane – só para que a ideia de outro valide aquilo que fará de nós mais inteligentes que os outros (porque resulta aquilo que eu digo que é bom, eu sou bom também!)? Ou então perder tempo a explicar porque o futebol é madrasto e porque a ideia não resultou, por chuvas e trovoadas, mesmo que seja a mais evoluída, a mais perfeita, a ‘mais melhor coisa boa de todos os sempres’.

Ponto número 5: Amar o futebol é amar vitória e derrota. Essas duas fazem o todo. Amar vitória e odiar derrota – mesmo que essa implique a falência das ideias – não é mais do que usar o jogo para nos glorificarmos – para impormos a nossa lógica, que por ser ‘melhor’ nos mete num patamar acima dos demais. É querer, somente, receber do futebol, e do Mundo, o reconhecimento que nos falta, o reconhecimento interior e, por consequência, a auto-estima artificial que as vitórias trazem. Já dar ao futebol, poucos dão. E seria essa auto-estima natural (sem necessidades de glorificações) que nos permitiria não entrar em joguinhos e ‘discussõezecas’ para defender uma ideia que pode muito bem ter mais do que uma década. E enquanto essa década passou, mais o futebol evoluiria se tentássemos trazer a ideia adequada, e por isso nova, ao momento de cada jogo – fosse ele de Champions ou de Distrital. Ao invés tentamos forçar que a ideia pré-definida que temos se torne hegemónica num Mundo cheio delas. E disto, admito, sou eu culpado também.

8 Comentários

  1. Pá, desculpa lá, mas que ganda merda de post. Estás todo baralhado e não se percebe nada no meio dessa tentativa de ensaio de sintaxe complicada e português caro. Falhou a comunicação, pelo menos comigo.
    Mas além disso: um amuleto vale tanto quanto um plano? Então passas o texto a elogiar quem revolucionou este desporto, trazendo ideias e coisas pensadas, seja A ou B, sejam até essas ideias parecidas ou opostas – mas ideias! – e depois dizes que vale tanto quanto uma reza ou um anel? Pá… Mas tu acreditas mesmo nisso? Que as duas coisas não são assim tão diferentes e que não levam, pelo menos tendencialmente e em circunstâncias normais e de forma continuada, a resultados diferentes? Mas que raio…
    Então num blogue onde se defende, logo no slogan, o cérebro, e agora temos textos sobre amuletos!
    E pelo meio falas de impérios e de que um plano não traz sucesso regular… Não se percebe onde queres chegar. Dá ideia que é a “não se agarrem às ideias do passado e continuem a inovar”, mas depois ao mesmo tempo dizes “caguem no racional e no final do dia ter um amuleto traz os mesmos resultados”.
    Se calhar és tu a justificar o teu próprio texto enquanto “texto diferente e inovador”. É legítimo, mas acho que não atinges o mesmo resultado a que vinhas habituando. Pelo menos para já.
    Mas se calhar sou eu que não atinjo este nível de intelectualicididade.
    Bem, um abraço. Dediquem-se ao que fazem bem e inovem dentro do que fazem bem, porque nisso são os melhores de todos.

    • Eu estou todo barulhado, e um amuleto vale tanto como um plano. Ok. Ainda bem que cá fica o post com o teu comentário logo a seguir. Fica mais fácil de entender.

      Abraço

    • Se achas que o plano, per si, resolve o jogo (caracterizado por grande dose de aleatoriedade) e tem associado o sucesso, parabéns. Acabaste de transformar o plano num elemento mágico determinante no desfecho de uma partida de futebol, num amuleto. Sublinhe-se o “per si” (faz toda a diferença).

  2. Gostei muito do texto, não sendo difícil dele retirar boas mensagens. No entanto, com ou sem amuletos, trate-se de Guardiola ou de um banana qualquer que não percebe nada do que está a fazer, independentemente da equipa e do contexto onde se insere, não existe um único treinador no mundo que não aborde um jogo sem um plano / sem uma estratégia, uma pré-visualização qualquer na qual a sua equipa sairá com o resultado pretendido. Isso todas as equipas têm, em todos os jogos. Até os jogadores os têm / fazem. Antes do jogo todos os planos fazem sentido e terão sucesso na cabeça de quem os concebe. A coisa complica-se é quando o jogo começa.

  3. É mais por aí, MM. Sobre os planos, apenas os critico e comparo a amuletos quando são inanimados e não dão aquilo que o jogo precisa a cada momento. Caminhará o futebol para aí, para a decisão criativa a cada segundo – o que ainda é inconcebível para alguns já o LE procura há muito tempo. Daí não deixar de ser referência, ao invês de tentar colocar ao pescoço um medalhão que pretende definir a melhor forma de jogar.

    Grande abraço

    • Sim, é essa a questão que sobressai no texto. É uma discussão interessante, planos de jogo (estratégia) e modelos de jogo / as ideias pré-concebidas que mencionaste e às quais se dá preferência (para uma época), “… não dão aquilo que o jogo precisa a cada momento (…) caminhará o futebol para a decisão criativa a cada segundo”, na perspectiva do treinador e do seu trabalho é essa uma questão complicadíssima já que por norma o que vemos no relvado é fruto de processos que para efeitos de tempo requerem, no mínimo, semanas ou (poucos) meses de treino / trabalho, imagino. B. Laudrup, um exercício teórico, por parte de um ignorante profundo (eu): Um treinador idealiza e deseja muita coisa mas num domínio específico ele quer que o padrão de resposta da sua equipa seja A’, A’ que é feito de acções / posicionamentos específicos para situações de jogo nesse domínio concreto. Ele (treinador) acaba de chegar ao clube e se fizer tudo bem, e se os jogadores colaborarem, até que a equipa reproduza A’ de forma regular, no campo, com qualidade, serão precisas (presumem treinador e adjuntos) pelo menos X sessões de treino (4 semanas, imagine-se). Uma vez que a competição não espera pelo treino, nessas 4 semanas ele terá feito pelo menos 5 ou 6 jogos, dentro e fora de portas, para competições diferentes. Imagine-se agora que os resultados nos primeiros 3 jogos são maus. Pior, a sua equipa nesse domínio e respectivo(s) momento(s) do jogo revela-se incapacitada / profundamente miserável / uma lástima. O que faz? Muda? Não muda? Muda só um bocadinho? Andou durante algumas semanas a transmitir pela acção / treino (e também por palavras) aos seus jogadores que seria importantíssimo fazerem A’ mas que o caminho afinal será outro? Sentir-se-á tentado a pensar que o que escolheu é o melhor mas que para que a sua equipa lá chegue o clube tem de recrutar o jogador Omega? É difícil (imagino), e isto só para um domínio, quando numa equipa de futebol existem muitos, correcto? Defender, Atacar, em Organização e em Transição, todas essas combinadas são pelo menos 4. Estes são termos e isto é linguagem vossa, estou meramente a emprestá-la e não percebo evidentemente nada disto. E depois ainda há bolas paradas, correcto? Bolas paradas vezes dois (as nossas e as dos outros). Isto é porventura ridículo mas ajuda a perceber que até um simplório consegue, sem saber, imaginar ou pressentir quão complexo e difícil tudo é para um treinador. Tal, para coisas que ele prevê em Julho ou em Agosto e que trabalha diariamente ao longo da época e que deseja da sua equipa em matéria de jogo para uma época, ao longo dessa mesma época, quando ainda existem os planos de jogo específicos / estrategia específica para todo e qualquer adversário que enfrenta, presume-se ainda. Já que são circunstanciais e pensados (com mais ou menos grau de sofisticação) em função do adversário, aí já será mais fácil introduzir mudanças, fazer inclusivamente experiências, introduzir criatividade / génio, algo que surpreenda. Adiante, e se ainda estiveres a ler desculpa lá o tempo gasto / perdido: É certo que são os treinadores que se dedicam a essa matéria, intelectualizam, pensam, teorizam, desenvolvem ideias novas, aperfeiçoam e nalguns casos inventam sistemas, novos métodos de treino (aperfeiçoando as competências dos seus jogadores), desenham e fornecem esses mesmos treinos e fazem evoluir / mudam o jogo. É um trabalho essencialmente teórico e correndo o risco de complicar, e se quisermos passear ou deambular, para aqueles treinadores que sentem a necessidade de que falas, a de ter uma equipa / um conjunto de jogadores capazes de em tempo real mudar de modo sistémico a sua forma de jogar em função do que o jogo pede em qualquer período e momento e segundo do jogo, se fizermos vista grossa sobre as ideias que os treinadores têm sobre bom e mau futebol, e sobre o futebol duma equipa para uma (ao longo de uma) temporada, e se fizermos inclusivamente vista grossa sobre modelos, se nos focarmos exclusivamente no plano de jogo que como se disse todos os treinadores concebem para as suas equipas para todo e qualquer jogo, hoje já, a barreira que impede os treinadores de alterar esse plano e alterando-o modificar em tempo real a forma como as suas equipa jogam (ao passo que o jogo decorre), é essencialmente comunicação (para dentro de campo), e nada mais. Ora, não é complicado imaginar que num futuro próximo essa barreira ver-se-á eliminada, não apenas no futebol mas para toda a gente. Sim, falo de comunicação telepática e de sistemas de IA que já estão em profundo desenvolvimento, reino que está ao virar da esquina. 20 / 25 anos no limite para que os sistemas existam; 50 / 60 para que se generalizem. Tal (telepatia), aplicada ao futebol, do banco para dentro de campo e dentro do campo entre jogadores (não estou a brincar). Tudo isto mudará o jogo por inteiro. Não é preciso imaginar — é líquido que acontecerá. Deambulando, ainda: Imagina que a capacidade de qualquer ser humano para armazenar e de processar informação deixa de depender dos próprios (de sistemas exclusivamente biológicos, do nosso cérebro, de neurónios). Também não faltarão muitas décadas e mais dia menos dia o cérebro humano poderá ver-se programável em matéria de armazenamento de informação, não da sua produção (essa demorará mais tempo), e não significando tal que o talento para o futebol se possa programar, mas significando que será possível ao cérebro de qualquer humano armazenar quantidades massivas de dados. A partir do momento em que essa tecnologia existir, quando existir, não existirá nenhum motivo para que todo e qualquer jogador não possua o mesmo conhecimento dos treinadores. Aí, porventura, teremos os jogadores a decidir tudo, ao passo que o jogo decorre, inclusivamente modelos, sistemas, posicionamentos, etc. É uma hipótese / perspectiva de evolução muito real, por mais irrelevante que se afigure discuti-la hoje. Desculpa lá a perca de tempo / o comentário infértil.

      • Qual tempo perdido? Não se afigura fácil a resposta mas vou, quando tiver algum tempo disponível, tentar mostrar o que penso sobre os cenários que traçaste.

        Abraço

  4. Um muito obrigado a quem escreveu este artigo. Do melhor que já li aqui. Um louvar das ideias de quem revolucionou o futebol, mas uma “provocação” a quem quer dar a este algo de si. Como Guardiola deu a saída à 3 e o Mourinho os mind games.
    Tinha um adjunto que dizia que, no futuro, os laterais jogarão sempre por dentro pelas razões Y, X e Z. É certo que não me recordo bem das razões que sustentaram a sua observação, mas não me esqueço que, naquele momento, dei por mim a pensar quanto sucesso poderia ter essa ideia, precisamente pela inovação e a imprevisibilidade que podia trazer ao jogo. Se traria consigo sucesso, isso seria outra coisa, mas são estes pensamentos fora da caixa que, quando balizados por alguma noção tática do jogo, conseguem de facto enriquecer o mesmo.

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