A redenção de Óliver, segundo Sérgio Conceição

Na Madeira, voltei a destacar a exibição tremenda de um prodígio que finalmente parece ganhar espaço na equipa do FC Porto.

Recentemente, num texto do Savicevic (aqui) era explicado o ressurgimento do ultra talentoso Óliver Torres.

O espanhol , nos dois jogos mais recentes demonstrou, sem bola, pois com ela sempre foi magnifico, que está com outra disponibilidade mental para se colocar ao serviço do colectivo. O problema nunca foi de correr muito ou pouco, mas sim ter a disponibilidade mental para se manter ligado ao jogo, mesmo sem correr, interceptar passes e estar ligado à equipa

Estará Óliver a passar pelo mesmo processo de Sérgio Oliveira, com um crescimento nas suas competências sem bola em função daquilo que idealiza Sérgio Conceição?

in Lateral Esquerdo

 

No dia de hoje, o próprio Sérgio Conceição veio refutar o aparecimento do talento espanhol.

Tem a ver com várias conversas e muitas unidades de treino para que ele se aproximasse do que eu queria. E atenção, não tem a ver com castrar aquilo que o Óliver tem de melhor, tem a ver com um jogo de futebol, na minha opinião, cada vez mais velocidade, mais intensidade, mais duelos, conquistas das primeiras e segundas bolas. E o Óliver melhorou muito em vários aspectos, nomeadamente no jogo sem bola.

Há uma série de outras situações em que é importante estar dentro, participar, e essas características não são do Óliver, mas ele tem feito um trabalho magnifico nesse sentido, não só defensivamente, mas também a chegar mais à área adversária. Faz parte do que penso ser um médio moderno, não interessa se é defensivo ou não, para mim tem de haver complementariedade. Essa aceitação, essa humildade em perceber que tinha de mudar algo para entrar na equipa fez com que entrasse e tem correspondido. A partir do momento que não corresponda, haverá outro Óliver para entrar…

Na verdade não era sequer preciso ouvir o que Sérgio Conceição afirmou para se perceber o porquê da ausência do médio espanhol. Embora, ouvir o treinador portista e conhecer ao pormenor o modelo do Porto, ajude a compreender as suas decisões.

Nunca esteve em causa, nem estará o potencial de um jogador que na Liga, apenas encontra rival em Krovinovic naquilo que pode acrescentar ofensivamente, mas antes a sua integração num modelo muito específico, que exige aos seus dois médios que comam muitos metros em virtude das ideias próprias do seu treinador, que exige a chegada à área adversária de inúmeros elementos, e ao mesmo tempo capacidade para recuperar no momento da transição defensiva. No ideal de Conceição, o duplo pivot do meio, funciona com uma espécie de dois “box-to-box”, em que ambos atacam e defendem a toda a profundidade do campo. E mais do que dificuldades que não existem em organização defensiva, é nos momentos de transição defensiva, e na chegada ao último terço no processo ofensivo, que Sérgio “tinha” problemas com o que dava Óliver.

Para quem não teve oportunidade de ver os videos anteriores que explicam o modelo dos azuis, e que ajudarão de sobremaneira a compreender as decisões de Sérgio, em função do que idealiza no seu modelo, eis o FC Porto em dois dos momentos do jogo:

O treinador dos azuis e brancos, acredita fortemente num tipo de jogo que até encontra porto de abrigo na grande maioria das individualidades que tem ao seu dispor. Independentemente de se poder valorizar mais ou menos o jogo em que acredita, a certeza de que é competente naquilo que defende. Quer no modelo, quer na forma como pelo processo de treino lá chega, quer como na liderança, o seu sentido de justiça é claro para todos. E o recado foi dado, no meio de vários elogios.
Enquanto a mudança estiver em prática, há espaço. Com a certeza de que outros estarão à espera de que alguém deixe de cumprir.

E Óliver, assim continue a trazer ao modelo o que Sérgio pretende, poderá mesmo ser a pedra basilar de uma reviravolta qualitativa dos azuis, com o que acrescenta daquilo que é a sua individualidade, pela forma como poderá aumentar o critério no centro do jogo do FC Porto.

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

6 Comentários

  1. Com a vossa rede é fácil saber ???

    Mas obrigado por nos trazerem como funciona o futebol no topo… a mim que sou um leigo fico muito esclarecido e agradecido!

  2. Perceber um jogador, envolve sempre perceber contexto, modelo, ideias, características. Por isso não creio que foi dificil saberem o porquê do Óliver não jogar, mesmo que tivesse as vosas fontes, que não sei se tinham? … nem sequer predizerem a falência de jogadores como o Francisco Geraldes ou o Iuri Medeiros.
    No contexto futebol rendimento, a prática diz-nos que os mais aptos não são apenas os que fazem bonito, mas os que o fazem de forma consecutiva nunca expondo a sua equipa ao seu erro. De Óliver, de facto, percebendo o ideal defensivo, mas também ofensivo, expresso nessa chegada à área dos médios, é fácil para quem domine as diversas variantes do treino, mas acima de tudo o mais do jogo, atingir o que se passava. Na minha opinião, ele tem uma predisposição natural para as tarefas defensivas, ao contrário por exemplo dos outros dois casos que citei, o que significa que acredito que possa manter-se na equipa e atingir até outros patamares. E depois há algo não negligenciável, ele com bola é de facto um jogador muito diferente da maioria, e quando o afirmo diferente, refiro-me ao facto de fazer bonito, mas fazer com regularidade e não expor a sua equipa, como por exemplo o citado Geraldes, que mesmo no Rio Ave era prejudicial a um jogar que não poderia perder a bola.

    Continuem o bom trabalho… Enviei mail …

    O José deixou de escrever desde que assinou pelo Feirense?

  3. Nao sei se sao insides, mas já por diversas vezes neste site provaram estar muito à frente de toda a gente… seja quando falaram de inteligência quando ninguém falava… Seja da defesa a zona ou dos modelos e agora estratégias que nos trazem quando o público ainda nem sabia bem o que havia a esse nível, por isso sejam coisas de dentro ou apenas o vosso proprio extraordinário conhecimento cá estarei como meu euro mensal a contribuir para nc fechem este site que tanto ensina toda a gente!

    É realmente compensador ter quem nos explica o que não vemos à vista desarmada e posso dizer qu à vossa pala quis tirar o curso de treinador!

  4. Bla Bla Bla

    A questão parece-me muito mais simples: o Conceição prefere outro tipo de jogadores.

    Não tem mal nenhum, são as opções dele (que eu não aprecio e também não entendo, tão pouco, não por falta de análise mas por falta de crença pessoal em ideias deste tipo). As escolhas são óbvias. Tudo o que era ligeiro e pensava muito não jogava ou jogava pouco e era muito criticado. Sempre. Enquanto outros são uns pernetas e jogavam sempre ou quase sempre (Danilo, S. Oliveira, entre outros).

    Só que os resultados, depois de Agosto, foram o que foram… E o Herrera, por exemplo, está em vias de ser castigado ou já está mesmo castigado. Foi este contexto, juntamente com as críticas a questionar porque carga de água o S. Oliveira, por exemplo, tinha o dobro ou o triplo dos minutos do Óliver (sendo este melhor jogador, a léguas, com bola e sem bola), que trouxeram algum ar fresco numa equipa que tinha enormes dificuldades em jogar à bola. E ainda tem.

    Como se prova agora (podem dizer que é a teoria do copo meio cheio ou meio vazio) o Óliver não só tinha lugar cativo em qualquer equipa portuguesa, sem excepção, como é de longe um dos melhores jogadores do campeonato. É que o óbvio não dá trabalho nenhum.

  5. Com bola é obviamente magnífico.
    Agora, depois deste tempo, está finalmente como SC o quer. Mais intensidade sem bola, mais amplitude, mais vai-vem.
    Mas este estilo do SC nem é o que mais o potencia. Está mais “físico” mas ainda assim a correr demais. Chega melhor talvez, mas destapam depois demais.
    Só pode fazer melhorar a organização ofensiva. Mais inteligência, melhor ligação, mais fluidez.

    Mas no que propõe, SC, poderia e deveria ter mais controlo na transição defensiva.

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