O Al Jazira de Marcel Keizer

Fomos dar uma olhada ao Al Jazira de Marcel Keizer e focamos-nos apenas no que poderá trazer com bola e qual a sua ideia principal.

Apresentam-se maioritariamente em 4231, com dois médios mais defensivos e lado a lado na construção, acreditamos nós que é a forma de precaver a perda e erros individuais, que abundam, devido à qualidade técnica dos jogadores à sua disposição. Equipa que tenta jogar de pé para pé e chegar junta à área adversária, sabe no entanto explorar as costas quando há espaço para isso, através de roturas dos alas no espaço deixado pelo avançado que desce para pedir no pé e arrasta o central consigo.

Não podemos dissociar-nos da ideia que, no futebol dos emiratos tudo é feito com mais pausa, de forma mais lenta e menos caótica. A confirmar-se a chegada do técnico holandês ao Sporting o incremento na organização ofensiva será enorme, pois Keizer privilegia mais o toque a pausa, a proximidade entre jogadores a paciência para furar o bloco adversário, se bem que na “Arabian Gulf League” onde se inserem, poucos blocos compactos e organizados existem! Nenhuma das equipas portuguesas defende tão mal e de forma tão espaçada entre si como as que podemos observar nesta rápida análise. Mas aqui, no Sporting, também terá intervenientes de outra qualidade à sua disposição.

A manter a estrutura que utiliza no Al Jazira e que curiosamente Peseiro deixou no Sporting será interessante perceber como irá potenciar a qualidade de finalização de Bas Dost. Poderá ser Montero a jogar próximo de Bas, com Nani e Raphinha nas alas? Irá Bruno Fernandes definitivamente fixar-se no centro do terreno próximo de Gudelj?

A maior duvida, prende-se com o facto de que todos os candidatos ao titulo e que tem de assumir o jogo com bola terem um risco enorme, a perda! Passam a maior parte do jogo em organização ofensiva e a forma como previnem as transições adversárias está muitas vezes na base da perda de pontos! A forma como Keizer irá prevenir essas transições e como a equipa estará preparada para as encarar poderá ser o seu maior desafio!

Em suma, parece ter ideias interessantes mas em nada diferentes do que qualquer português poderia implementar, com a mais valia do conhecimento da língua e do campeonato!

Os adeptos leoninos podem esperar um futebol mais colectivo com toda a equipa a tentar chegar junta, com mais bola, mais passes, mais toque, mais paciência…. Se é que ainda resta alguma!

 

Sobre Dejan Savicevic 91 artigos
Ricardo Galeiras Treinador, apaixonado por desporto, futebol e treino. Experiência em campeonatos nacionais na formação e atualmente ativo no futebol sénior. Colaborador na área de scouting e análise de jogo, com vários treinadores e equipas do campeonato nacional da Primeira Liga. Contacto: galeiras@gmail.com

4 Comentários

  1. Como é hábito no Sporting e em tantos outros lugares esta é uma contratação para remendar a decisão drástica e inesperada de libertar J. Peseiro, convicto (eu) que não era esse o desejo de F. Varandas há um ou dois meses. O presidente do Sporting contava com o Ribatejano para a época inteira, antecipando durante as eleições e nos meses seguintes uma equipa a jogar um futebol mais competente do que aquele apresentado, algo que este Sporting de Peseiro acabou por não fazer. Tal como é ainda hábito no Sporting, é esta uma contratação com base em imagem e quase só em imagem, algo que se traduzirá num redondo nada. À excepção (recentemente) de Marco Silva e de Jorge Jesus, a norma no clube é essa (más escolhas). Neste caso, a imagem associa-se a estereótipos de ‘futebol ofensivo’ promovido por ‘treinadores Holandeses’ e a chavões como “… o sobrinho (ou o filho) do ‘futebol total’ e uma vinda que é uma aposta na escola Ajax”. Enfim … No deserto: 4 jogos em casa, 3 empates caseiros. Em 2016/17: 4 empates e uma derrota por 0-4 também em casa. Em 2017/18 (com a principal equipa do Ajax): Eliminação (sem qualquer vitória) nas pré-eliminatórias da LC/UEFA aos pés do Nice, dupla derrota para o Rosenborg na pré-eliminatória de acesso à Liga Europa e duas derrotas em casa para o campeonato em meros 5 jogos também em casa para o campeonato. O Ajax libertou-o depois da eliminação na taça doméstica frente ao Twente.
    Como para L. Bölöni em 2001/02, só um fenómeno profundamente anormal e estranho como Jardel evitaria/evitará o mais-do-mesmo que aí vem.
    Naturalmente, a perca de tempo (tanto para Keizer como para o Sporting) poderia e deveria ter sido evitada não se cometesse o erro (básico) de contratar um treinador que não fala a língua dos seus jogadores. Só sobre esse particular (recutar um líder que não conseguirá comunicar no dia-a-dia com os seus liderados), deveria existir um teste muito básico concebido para dirigentes ou aspirantes a dirigentes do Sporting composto por não mais do que 6 perguntas também elas muito básicas. Nesse teste, uma só resposta negativa a qualquer uma das perguntas seria imediatamente sinónimo de pegar na merda da folha de teste e riscá-la de alto a baixo desqualificando imediatamente o aplicante a desempenhar qualquer cargo por mais merdoso que fosse dentro de um clube que se dedica a futebol. Um dia construí-lo-ei de raiz, só para o Sporting.

  2. 1. “Em suma, parece ter ideias interessantes mas em nada diferentes do que qualquer português poderia implementar, com a mais valia do conhecimento da língua e do campeonato!”. Isto não é de todo verdade e basta ver o que fazia o Sporting com Peseiro. É aliás uma afirmação muito falaciosa, porque se há coisa em que os treinadores portugueses são superiores à média é na organização defensiva e não na ofensiva, com excepção de Paulo Fonseca (nunca aceitaria regressar) e provavelmente Miguel Cardoso (a confirmar) e Paulo Sousa.
    2. Pelo que se vê no vídeo, e a julgar pelo perfil que se diz que o treinador tem, o primeiro a saltar da equipa vai ser o Bruno Fernandes. Por que não sabe jogar de primeira, não tem comportamentos colectivos, não tem pausa e não tem capacidade para decidir quando deve tocar ou jogar na profundidade.

    • Quando se menciona qualquer português a ideia era deixar o leitor a pensar…Miguel Cardoso e Luís Castro se calhar mais acessíveis, depois muitos outros conhecidos e mais difíceis de “convencer” e outros mais, que menos conhecidos, como Keizer, poderiam na minha opinião singrar. Houvesse coragem para apostar, como parece haver para o fazer com o holandês. E como menciono com a vantagem de conhecerem o campeonato e a língua!
      Quanto ao ponto 2, discordo totalmente, mas veremos o que vai acontecer!

  3. Não sendo o plantel do Sporting a “crème de la crème” da qualidade individual, é composto por executantes bastante competentes em vários aspectos. Se Keizer significar uma melhoria na organização ofensiva não poderá ser um upgrade importante? Ou estarei a forçar a visão do copo meio cheio? Agora, claro, atrás ter-se-iam que manter uns lampejos da organização defensiva de JJ. O papel dos laterais sem bola e a reacção à perda – onde julgo que o duplo pivot defensivo até pode fazer sentido desde que com Sturaro, apesar de Petrovic não ser a nódoa que muitos pintam – teriam que ser melhorados. Não querendo parecer demasiado básico na análise, o Sporting dificilmente será pior que até aqui e o contexto da liga poderá favorecer os imprevistos (um pouco à semelhança do ano de Trappatoni no Benfica). Isto porque o Benfica vive um momento sobre brasas cujas consequências a longo prazo poderão ser determinantes, o Porto carece, a meu ver, de um “Plano B” (as declarações de S. Conceição sobre terem sido imprevisíveis na 2a.Parte do jogo da Madeira parecem-me desprovidas de conteúdo, ao melhor nível de um Freitas Lobo) e o Braga… não sei explicar, mas algo me diz que ainda não está “lá”. No fundo, julgo que se Keizer for minimamente competente – não inventar, investir mais na organização que na inovação, procurar dar aos bons jogadores do Sporting um contexto favorável – a sorte (porque há factores que não dependem do treinador) até pode sorrir… É demasiado optimismo da minha parte?

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