
Na temporada passada, com a entrada de Krovinovic e a construção de uma nova dinâmica de entrada em zonas de criação, o SL Benfica de Rui Vitória deu um salto no seu rendimento que o catapultou para muitos bons resultados domésticos, muito pela surpresa e boa coordenação entre os intervenientes nos triângulos em cada metade do campo.
A presença de Jonas e a “moral” que este tem sobre todos os demais, era garantia de que às entradas por fora, o Benfica também procurava o seu avançado. Por ser Jonas, claro. A surpresa, e a presença de Jonas aumentaram o nível dos encarnados, depois de uma entrada em falso na temporada, e o Benfica esteve muito próximo de resgatar um campeonato que havia estado completamente perdido.
Na presente época, o Benfica viu-se privado do seu avançado, que ainda mais do que lhe resolver problemas individuais, resolvia até colectivos, porque quando pede a bola, ninguém pode olhar noutro sentido. No seu lugar a opção passou a ser Seferovic, que é simplesmente o oposto do brasileiro. Só quer correr, pedir bola no espaço, e tem dificuldades técnicas que o impedem de ligar o jogo por dentro.
Estavam portanto reunidas as condições para que o Benfica se tornasse no que tem sido nos últimos jogos, inclusive aquele que venceu frente ao FC Porto (Inglesização do Benfica x Porto aqui). Uma equipa que só procura entrar por cada uma das metades do campo, e se limita a rodar o jogo por trás quando essas entradas estão fechadas. Com a agravante de hoje, não haver surpresas. O modelo e movimentos dos jogadores de Rui Vitória estão mais que percebidos por todos os seus adversários (sim, esqueça aquela ideia de que não há processo, ou padrão. Há e é notório, e essa é a razão porque está fácil anular o Benfica), e hoje é muito fácil bloquear as entradas do Benfica. Sobretudo porque com a saída de Jonas (sim, já voltou, e já resolve problemas, mas apenas de forma amiúde nas zonas de criação. Na finalização é outra história, como os seus números transparecem), deixou de haver qualquer variabilidade. O espaço mais central do corredor central não é simplesmente usado!
O padrão do Benfica, numa observação que realizei para um dos adversários que o derrotou nesta época:
A pouca variabilidade ofensiva permite aos adversários saberem que espaços fechar e quando os fechar. Quando assim acontece, os encarnados ficam eternamente a trocar a bola por trás, à procura da metade livre do campo, que nunca fica na realidade. Porque o corredor central é sempre uma passagem para uma das metades do campo. Não havendo intenção de por lá progredir, mais não seja no sentido de juntar oposição a fechar aquele espaço para então ir fora, é sempre mais fácil bascular.
A posse interminável dos encarnados, sem nunca furar. Sem nunca entrar no espaço mais central, nem sequer o tentar. E a curiosidade de a única vez em tanto tempo de ataque que um jogador do Benfica ficou enquadrado dentro, ter sido após uma recuperação, e portanto, não no seu ataque posicional:
Maldini, espiaste para um adversário que ‘os derrotou este ano?!’
Não sabias que o Maldini era observador do Bayern de Munique 😀
Viva.
Interessante coincidir com a minha análise, feita sem o mínimo de conhecimento teórico do jogo. O modelo do Benfica está esgotado e não varia. Fácil preparar o jogo e anular.
Mas deixo um desafio… é que acho precisamente o mesmo relativamente ao FCP. Muito pouco trabalho coletivo, no mesmo modelo desde que Sérgio Conceição chegou. Mas não se entende como as equipas não aprenderam ainda a fechar a porta ao FCP.
Dá para fazer uma análise igual?
A minha opinião vale pouco mais que zero, mas concordo em absoluto com a referência ao Porto do Sérgio Conceição. Completamente ausente um Plano B (como, aliás, já referi noutros comentários por aqui), até porque não vejo a simples inversão do triângulo do meio-campo como uma verdadeira mudança de modelo. Julgo que a (aparente) dificuldade em “anular” o actual modelo do Porto passa pelos fundamentos. O do Benfica é baseado nas dinâmicas e preenchimento de espaços; o do Porto, na intensidade e disponibilidade física…talvez por aí, não sei.
Excelente análise. Tendo em conta a qualidade do plantel e as suas caracteristicas, qual seria o 11 titular que mais garantias poderia dar ao Benfica? 4-4-2 ou 4-3-3?
Vlacho ; Corchia – Jardel – Dias – Grimaldo ; Pizzi – Florentino – Krovi ; Zikovic – Jonas – Rafa
Como P.Bento disse uma vez ao Rui Santos, podem colocar os feijões que quiserem em campo, que se o treinador os colocar a jogar da forma descrita no post, eles vão comportar-se da mesma maneira.
Neste momento, cada dia que Rui Vitória continue à frente do Benfica, vai ser um dia de trabalho perdido no ataque à reconquista.
Não sei se está alguém na calha para o substituir, e se existe esse alguém, não sei o porquê deste compasso de espera, mas continuar a insistir no mesmo e esperar resultados diferentes é só estúpido.
Não conheço as ideias de soluções internas, nomeadamente da mais lógica ( numa estrutura bem organizada ) que seria o treinador da equipa B: Bruno Lage.
Maldini, conheces o modelo de jogo proposto por este treinador?
Julgo que o Bruno Lage esta no Monaco com o Henry
Gostava de ver a mesma analise mas desta vez à organizacão defensiva. Porque achi que aqui o Benfica tem péssimos indices de produtividade em todos os momentos.
Esta época o Benfica já passou por diferentes fases.
Começou cedo e até nem arrancou mal de todo.
Antes da paragem teve percalços exibicionais mas preparou-se para jogar contra o Porto e não me parece que o Porto tenha feito melhor, de todo (o Benfica mereceu ganhar).
Diferentes iniciativas no meio com diferentes jogadores – Gedson, Felix, etc. Independentemente dos pormenores das diferentes fases, parece sempre haver grande dependência do que cada jogador traz ao jogo.
Entretanto tem sido mauzote, previsível, mas não em tudo igual desde o início da época.
Agora, com os regressos do Jonas (que já vem resolvendo) e agorinha mesmo do Krovinovic, mais coisas podem mudar, tal como venho dizendo desde o início da época.
Não quero estará aqui a defender o RV, quero sim tentar contribuir para que as análises tenham mais verdades e não só umas verdades (tal como fiz no meu comentário ao post anterior). Por isso deixo aqui mais algumas questões:
Será que as lesões e saídas de jogadores chave nestas duas épocas não tornam plausível afirmar que o trabalho do RV torna-se mais complicado?
Na época passada entrou o Krovinovic e o Benfica mudou para 433, agora entra Krovinovic e será que muda para 442?
Será que podemos mesmo dizer que os processos são sempre previsíveis da mesma forma ao longo desta época?
Será que a análise que o post trata não terá que ser revista lá para janeiro tal como é agora diferente do que foi no início da época?
Será que o modelo se tornará adaptativo ou continuará titubeante?
Nota: A comparação RV / JJ é quase inevitável e cada vez mais acho que dos dois talvez se fizesse um, porque o que um tem a mais, o outro tem a menos.
@GV Tudo aquilo que o RV fez de bom na 1ª época tinha Jesus escrito em letras grandes. É bom lembrar no entanto que na sua 1ª pré-época quando o RV tentou fazer o que está a fazer agora, levava tareia de equipas suiças, perdeu a supertaça e ainda foi humilhado em casa contra o sporting que também tinha um treinador novo, chegando a estar com 7 pontos. Até que a única saída que tinha era voltar à ideia de jogo do treinador anterior e aproveitar o lado emocional dos jogadores com o efeito anti-Jesus.
Quanto às ausências e a falta de colectivo não é mais do que uma desculpa mal amanhada. É bom lembrar que o RV entrou para a 4ª época no Benfica e que um treinador não treina apenas 11 jogadores.
O caso de Jonas até curioso porque ele já estava apto para jogar à muito tempo. Não jogou porque o 4-5-1 (sim, porque 4-3-3 neste Benfica não existe) com o Seferovic estava a resultar no que é a ideia de jogo dele: bola no Maazou e segurar a bola para a chegada dos extremos.
O processo de jogo é sempre o mesmo. A qualidade dos jogadores é que pode disfarçar a falta de processos.
Carlos, pergunto: achas que o Benfica deveria ir buscar o JJ, imaginando que as suas características estão razoavelmente semelhantes, e que seria ele a pessoa para o projeto cujas premissas o LFV recentemente reiterou?
Sobre o teu primeiro parágrafo, para ti portanto só há JJ, do RV nada.
Digo que é evidente que o RV aproveitou trabalho feito pelo JJ. Por outro lado também fez trabalho dele.
Por exemplo:
https://www.lateralesquerdo.com/2017/01/18/o-benfica-de-rui-vitoria-uma-equipa-digna-de-sacchi/
Curioso é que aqui foi dito que em semanas a ausência dos mesmos estímulos no treino levariam à perda total das ideias do JJ. Tu, por outro lado, achas, legitimamente, que dá para aproveitar o modelo anterior, tentar mudá-lo e depois voltar ao mesmo com meses de diferença e ainda assim aproveitando o trabalho feito pelo JJ.
Gosto muito deste blog, pena que não há um reconhecimento de erro ou de exagero nas opiniões de alguns bloggers e neste sentido tiro o chapéu a este post:
https://www.lateralesquerdo.com/2018/11/03/a-medida-europeia-demais-para-vitoria-ou-demais-para-qualquer-um/
Porque as coisas não são só boas ou más, branco ou preto, 0 ou 1, as coisas, felizmente, têm densidade…
Ainda sobre a primeira época e para perceberes que eu critico o RV, posso até lembrar que o Benfica a determinada altura não conseguia furar e foi, penso que quase por acaso, o Renato por haver lesões que veio desbloquear a questão e de repente as coisas começaram a fluir.
Sobre o teu segundo parágrafo, digo apenas que esta mesma foi a “desculpa mal amanhada”, segundo dizes, que foi sempre dada para os períodos menos bons do Benfica do JJ – e olha que houve vários que aparentemente hoje já muita gente se esqueceu. Eu imagino a quantidade de elogios ao JJ se tivesse sido ele a perder a defesa (e não só) na época passada e a perder o Krovinovic por não sei quantos meses e depois o Jonas, e ainda utilizar não sei quantos miúdos, etc, etc…
Sobre o teu terceiro parágrafo, será que foi por isso que o Jonas não jogou ou porque clinicamente estava apto mas desportivamente ainda não e havia que gerir o momento do regresso? Eu não posso afirmar, e tu podes? Mas sabes o tipo de lesão que tem e a idade, certo?
Quarto parágrafo, achas que nos últimos tempos o Benfica do JJ não estava cada vez mais previsível e dependente das individualidades?
Quanto ao RV parece razoavelmente evidente que está numa encruzilhada como esteve basicamente nas épocas anteriores por esta altura, só que depois de ter perdido o Penta e com o tudo o resto que acontece em torno da equipa, a pressão aumenta e ele vai patinando mais… e ou mostra resultados ou fica num cenário delicado.
JJ e RV, dos dois fazia-se um… Ou então encontrar alguém com o perfil mais certo para ser manager e coach.
Genericamente, não falando concretamente do teu comentário,
Acho incrível como as pessoas tendem a apenas criticar ou apenas elogiar, ignorando até factos e coisas ditas antes.
Esta é a postura que leva às radicalizações de opiniões, porque em si mesmas são posturas radicais. Acontece no futebol, como na política, como na vida em geral e não tem bom fim.
As pessoas não reconhecem nenhuma razão nos pontos das outras (mesmo que a vejam) e tentam passar à frente e até esmagar as opiniões que não lhes sejam favoráveis.
Excelente, GV.
Uma pequena curiosidade, ninguém no mundo, nem mesmo o rui vitória, consegue fazer uma forma geométrica com 3 jogadores que não seja um triângulo. é de todo impossível.
sobre isto ser um modelo, andam pelas ruas da amargura os modelos do futebol em portugal, só pode. 90% das jogadas é aproximar o médio centro do lado da bola, para fazer o tal triângulo, e rodar porque ninguém sabe o que fazer ao esférico.
ninguém ameaça a profundidade, a não ser o andré almeida após uma diagonal do sálvio para o espaço dos centrais. um movimento que podia ser combinado por 2 junióres no dia em que o treinador teve de faltar ao jogo por ser o domingo das primeiras comunhões. posso estar enganado, mas como nunca vi o corchia ou o grimaldo a fazerem isto, aposto que o vitória nem sabe do arranjo.
sinceramente acho que esta maneira de jogar era boa há 20 anos, aproveitar os corredores para cruzar para o pinheiro. em 2018 é só triste.