
Elogiado por cá por diversas vezes, Sarri é um dos melhores treinadores do mundo e tem, muito provavelmente, um dos melhores modelos de jogo da Europa. No entanto, o seu modelo não pode ser tão fechado que não contemple comportamentos diferentes em função de diferentes estratégias por parte dos adversários.
No passado fim-de-semana, o Chelsea perdeu por 3-1, foi esmagado no jogo jogado, e deixou um pouco fugir o comboio do primeiro lugar, aos pés de um Tottenham muito bem preparado do ponto de vista estratégico. No momento defensivo, o Tottenham posicionou-se num 4-4-2 losango que colocou muita gente no corredor central. Uma das estratégias para este momento do jogo por parte de Pocchetino foi condicionar a entrada da bola em Jorginho, mas fundamentalmente nunca deixá-lo receber enquadrado e conseguiu-o com muito sucesso durante todo o jogo.
Surpreendeu-me o facto de Sarri não ter alterado o posicionamento de Jorginho no decorrer do jogo para que o médio pudesse ter mais protagonismo. Contudo, não é de agora que o treinador italiano se prende tanto ao modelo e ignora as dificuldades que os adversários lhe vão colocando quando a equipa está com bola. Aliás, nos tempos do Nápoles, isto já acontecera em algumas situações. Na minha opinião, a solução mais viável durante o jogo, mesmo que não trabalhada, seria de construir a 3 com Jorginho no meio dos centrais ou a receber num corredor lateral porque obrigaria Alli a ser arrastado e a libertar espaço entre a linha média e a linha avançada dos Spurs, ou seja, alterar alguns posicionamentos em função do posicionamento defensivo do adversário.
O que quero dizer é que tudo no jogo é mutável. Podemos ter a nossa ideia, a nossa forma de construir… mas se o nosso adversário nos pressiona de uma determinada forma que nos condiciona a nossa própria forma de construir, então temos que alterar, sob pena de “morrermos com a nossa ideia”, num jogo em que é fundamental mantermos-nos vivos. Um dos defeitos de Sarri é este! As equipas do treinador italiano não alteram a sua forma de atacar e hoje em dia, é fundamental perceber como o adversário se posiciona defensivamente, com quantos jogadores pressiona a nossa construção, como pressiona… para sairmos vivos de todos os jogos. Tudo é importantíssimo!
Como todos os treinadores, Sarri tem, também, defeitos. Para os corrigir terá de se “abrir”, no sentido, de preparar a sua equipa ofensivamente não só em função da sua ideia, mas também em função do jogo! E o jogo sou eu – tu – nós e eles. Nunca apenas o “eu”.
Mais do que posicionar Jorginho noutras zonas onde fosse capaz de fazer o seu jogo, Sarri não deveria ser capaz de fazer a sua equipa aproveitar os espaços criados pela marcação individual a Jorginho?
Eu também iria privilegiar una construção a 3 mas com Kanté entre os centrais. Preferia colocar o Jorginho uns metros a frenet a médio interior direito e fazer cair o jogo para o lado de Kovacic e Hazard. Com Ali fora da zona central iria encontrar igualdade numérica do lado de Hazard e quando assim é…
Foi um jogo muito interessante apesar de não ter visto com a máxima atenção: duas grandes equipas, dois grandes treinadores e um jogo muito vivo, o Tottenham mais na estratégia e o Chelsea um pouco perdido pela forma como foram condicionados em toda a linha. Fortíssimo este Tottenham/Pochettino e o grande, fantástico Sarri a precisar de mais jogos destes na cabeça.