Militão no céu, Corona na relva (Marega nos descontos)

Sérgio é um homem de extremos. De mudanças. Não tem a mesma reacção a duas situações, portanto. Dessa vivência – na qual já o vimos ir da melancolia à raiva – terá aprendido que as soluções nascem de novas experiências e não de repetições ou cópias. Hoje, senta-se na cadeira de sonho mostrando a quem o descredibilizava que é um dos melhores técnicos portugueses no activo. E neste Porto-Schalke, que na 5.a jornada do Grupo D deu o 1.º lugar aos portistas, a tentativa de Sérgio dar o melhor ao seu conjunto esteve sempre presente.

Conceição poderá não ter grandes amigos no reino da estética e no reino de que uma ideia, porque resultou num tempo e contexto específicos, será sempre a melhor. Mas o seu Porto (que vai agora na versão 2.0) devolveu ao Dragão os níveis a que as suas gentes estão habituadas. E devolveu porque conseguiu criar, neste tempo e contexto, uma equipa que tem N soluções para levar o resultado a seu favor. E mesmo que bata num muro, como na 1.ª parte deste “jogo mais difícil do Grupo“, com pequenas alterações e a feliz assumpção ao intervalo de que os germânicos não sairiam ‘lá de trás’, conseguiu um resultado fantástico ao qual os portistas só poderão associar a bons e velhos tempos.

Assim, se na 1.a metade se bateu no ‘Muro Tedesco‘, que no seu 5x1x3x1 criava camadas difíceis de deglutir, o desvio do ‘avançado Herrera‘ para a esquerda levou o jogo para onde este Porto gosta. E nas cordas, o adversário leva pelo ar, pelo meio, pelos lados e junto à relva. Quando virem o jogo assim – com o oponente encostado à sua área – poderão esperar que o Porto marque a qualquer instante. É para aí que Sérgio o quer levar, sempre. E contra alguém que mesmo tendo Gazprom estampado na camisola, mas que nem por isso é melhor que o excelente Braga de Abel, a conclusão de que Militão no céu e Corona (com Brahimi) na relva fariam do Porto superior também no placard parece agora bem lógica. O que continua a ser ilógico é a recorrente oferenda, talvez para dar emoção, trazendo de volta ao jogo uma equipa que pareceu nunca querer ganhá-lo, perdendo tempo desde o 1.º minuto. E a bola foi bater à mão de Óliver (88′) e às redes de Casillas, por via do penálti convertido por Bentaleb, como haveria de ir parar ao pé de Marega, já nos descontos, para colocar mais bonita a história de patinho feio do agora cisne preferido da Curva – colocando também o resultado com a diferença de golos ideal para a distância que vai da mente de Conceição ao ‘pequenismo‘ de Tedesco. O tetra de Marega (primeiro jogador portista a marcar quatro golos seguidos na Champions desde… Mário Jardel) e o penta do FC Porto (pela 5,ª vez ganha o seu grupo na Liga dos Campeões) são conclusões lógicas assentes num trabalho de (Imaculada) Conceição.

Porto-Schalke, 3-1 (Militão 52′, Corona 55′ e Marega 90’+4; Bentaleb g.p. 89′)

4 Comentários

  1. Há treinadores que lêem quase sempre mal o jogo. Não me recordo de Conceição ter errado neste aspecto, e ontem voltou a saber ler e corrigir, para acabar a massacrar.
    Há treinadores que mexem mal por norma. O Conceição deve ter dos melhores aproveitamentos estatísticos de jogadores lançados durante o jogo (Otávio este ano, p.e.).
    Há treinadores que desaproveitam jogadores. Conceição até pode ser acusado de sentar Casillas e Óliver, só ninguém pode dizer que não vieram os dois muito melhores dos respectivos “períodos de reflexão”. Muitos treinadores teriam perdido o balneário depois da brincadeira, Conceição reforçou-o.
    Há treinadores que fizeram carreira às costas de grandes planteis, Conceição lança Ádrian e Hernâni ontem, como podiam ter sido André Pereira, Sérgio Oliveira ou Bruno Costa. Há treinadores com “queda” para a Liga Europa. Ele vai em duas qualificações para os oitavos da Champions seguidas, com este elenco.
    Há treinadores que enchem as conferências de lugares comuns dignos de orador motivacional, Sérgio Conceição debate as opções, explica o jogo.
    QUe é um dos melhores treinadores portugueses não tenho grande dúvida, duvido mais é do que fizeram os outros para lhe estarem a ser equiparados.

    • Muito bem, João, totalmente de acordo!
      É refrescante ouvir o Sérgio e, apesar de alguns erros, sabe bem identificá-los e melhorar com eles! Revela inteligência de um treinador jovem que tem muito por onde crescer!

    • O Sérgio Conceição é um treinador banal e não será a tua verborreia da clubite que vai mudar isto. Conseguiu duas qualificações seguidas na Champions? Parabéns, o Rui Vitória também (“esqueceste” – de certeza que foi casual! ahah – desta parte nesta tua comparação por omissão).

      • Conseguiu-o sem metade dos recursos (sentido amplo) do Rui Vitória. E até ver não foi eliminado com 0 pontos pelo CSKA e Basileia, não bateu nenhum recorde de pontos mínimos para uma equipa de pote 1 nem meteu duas goleadas na fase de grupos no palmarés do clube. Garantidamente também não é recebido com lençois brancos no estádio, onde é campeão em título. Ah, e é pretendido por clubes deste lado da Turquia (“esqueceste” – de certeza que foi casual ahah – desta série de partes na tua comparação).

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