Rui Vitória,corredores laterais e…. o processo!

“Importa é atacar bem. Se formos perguntar a cada um dos treinadores das outras equipas, todos eles sabem a forma como jogamos, mas têm dificuldade em travá-la. Temos a hipótese de entrar com os laterais por dentro e fora, entrar com médios na zona de finalização, com alas por fora. (…) Jonas é o melhor jogador dos últimos tempos dentro da área a finalizar. A bola anda por todo o lado e vai ter à cabeça ou aos pés do Jonas. Onde é que temos de colocá-lo? Dentro da área… ”   Rui Vitória

Há uns dias atrás, Rui Vitória deu uma entrevista brilhante a um canal de youtube, na qual abordou algumas questões tácticas bastante interessantes como a passagem para o 433 ou como as dinâmicas do seu Benfica em Ataque Posicional.

Hoje em dia, está claro para todos que, o Benfica é uma equipa que vive em demasia dos desequilíbrios nos corredores laterais, principalmente no corredor esquerdo. Nos últimos 2 jogos, o Benfica começa a vencê-los com dois golos criados no corredor esquerdo utilizando os famosos “triângulos” entre lateral, interior e extremo que permitiram entrar em zonas de criação com alguma facilidade. Podemos afirmar que, há uma enorme desvalorização do corredor central e criticar o treinador encarnado que é um facto, mas não podemos pegar nisto e descredibilizar o trabalho do treinador encarnado só porque o Benfica não cria pelo corredor central! Não é por ignorar o corredor central que o Benfica deixa de ter processo ou que Rui Vitória deixa de ser um excelente treinador… Torna, sim, o ataque posicional da equipa mais previsível e mais fácil de anular.

Para que o Benfica não tivesse processo, porque têm e é por isso que é mais fácil de anular, era preciso recuar alguns anos e perceber que cada jogador se movia sem qualquer sentido táctico. O que quero dizer é que, por mais criticas que se possam fazer às dinâmicas do Benfica, é impossível afirmar que o Benfica não tem processo porque têm e a qualidade do seu jogo exterior é bem demonstrativo da qualidade do processo. Senão existisse um processo de qualidade, jogadores como Grimaldo, Salvio e até André Almeida nunca poderiam ser potenciados.

Curiosamente, voltando a fazer alusão à entrevista de Rui Vitória, o golo da vitória da equipa encarnada em Setúbal surgiu de um desequilíbrio colectivo no corredor lateral com Jonas aparecer em zonas de finalização… tal como Rui Vitória tem trabalhado!

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Apaixonado pelo jogo e pela análise. É o pormenor que me move na procura do conhecimento. Da análise ao jogo, passando pelo treino, o Futebol é a minha grande paixão.

17 Comentários

  1. Bom dia,
    Para quando um texto sobre o jogo deslumbrante do “quinto melhor jogador do mundo que não se cansa de nos mostrar que é o melhor de sempre” contra o Espanhol de Barcelona?

  2. Neste caso, há demasiado processo para tão poucas ideias. É de facto incrível como a equipa é tão abécula quanto o treinador. Grande mérito do Rui Vitórias!

  3. Pirlo, gostava de ter a tua opinião sobre o seguinte:

    Concordas que quando jogam Gedson e/ou Félix e/ou Krovinovic o Benfica tem mais jogo no corredor central? (vidé o jogo com o Paços, vidé a fase no arranque da época em que o Gedson foi várias vezes titular, etc)

    Se concordas, achas que se trata de um desvio deles em relação ao processo, ou de iniciativas do treinador de colocar jogadores que promovem esse comportamento (seja a pedido e/ou treinado, seja pelas caraterísticas dos jogadores?

    Será o processo, ultimamente vigente, efetivamente pensado para ser o processo
    final ou será o aproveitamento possível que o RV tem conseguido fazer das microestruturas que funcionam melhor naturalmente?

    Fica a dúvida, até por haver fases e/ou jogos diversas(os), se realmente o objetivo é jogar mais pelos corredores ou se não tem havido a capacidade, mesmo podendo haver vontade, de sistematizar uma maior utilização do corredor central e que o refúgio acabe por ser uma espécie de zona de conforto até algo mais, aos poucos, se tornar natural. Daí eu achar que há algo de titubeante…

    Podes por favor identificar a entrevista que referes para poder ver? (podem estar aí algumas respostas)

      • Obrigado L6S!
        A entrevista não tem respostas esclarecedoras aos pontos que eu foquei, mas acaba por referir as micro-estruturas naturais nos corredores.
        Um aspeto curioso e ao mesmo tempo questionável é a argumentação do Jonas/433. Não que eu ache que o Jonas não rende num 433, acho é que também rende em 442 (ou no que seja); depende da ideia de jogo, de a mesma ser adaptativa e de ser sistematizada sem erros de casting, incorporando as características dos jogadores na ideia e mostrando caminhos adicionais aos jogadores para lá das zonas de conforto.
        A entrevista, tendo aspetos interessantes, é mais virada para criar pontes com os adeptos e não esmiúça a dita ideia de jogo.

    • Boas GV!

      Em relação à primeira pergunta, quando se têm um determinado perfil de jogadores em campo (João Felix,Jonas,Krovi) é óbvio que vais ter um jogo completamente diferente do que se tiveres jogadores como (Gedson, Seferovic,Cervi). Cabe ao RV decidir em função do adversário e sobretudo, em função do que quer para o seu jogo, o que é melhor para a equipa. Mas respondendo-te a esta primeira questão, depende muito do posicionamento dos jogador em questão. Vou-te dar um exemplo, se tiveres um João Felix por fora, bem aberto, vais continuar sem jogo interior porque, independentemente da qualidade que ele te possa dar por dentro, ele vai estar aberto.

      Em relação à 2 questão, sim existem muitos treinadores que colocam alguns jogadores em campo ou para ter mais jogo interior ou para ter mais desequilíbrios por fora ou até mais ataques à profundidade, isso depende muitas das características dos jogadores, mas também do que o treinador pedir.

      Em relação à 3 questão,como não estou por dentro do processo não te consigo responder a essa pergunta, mas acredito que este processo irá de encontro aquilo que o RV considera de melhor para a equipa e sinceramente, acredito que há mais jogo pelos corredores laterais porque há qualidade individual para desiquilibrar por fora e numa opinião mais pessoal, à exceção de Jonas, Felix e talvez Rafa, o Benfica não tem jogadores para receber a bola num espaço tão curto como as duas linhas adversárias e para enquadrar.

      Espero ter respondido às questões, um grande abraço!

      • Obrigado Pirlo!

        Acho mesmo que o miúdo traz mais meio mesmo quando joga encostado à linha por que acaba sempre por haver dinâmicas desalinhadas para com o posicionamento previsto e o jogador aproveita uma brecha para ir para o que lhe é natural. E isso até poderia ser interessante se houvesse ali intenção consistente e treinada de trazer mais meio por essa via, fosse por diagonais fosse por trocas momentâneas de posição concertadas no modelo aproveitando as características do jogador. Mas sinceramente, quando o miúdo joga encostado, parece que só acontece por um desvio natural ao processo.

        A meu ver o RV não pode mais ser titubeante, tem que assumir que quer jogar também no corredor central, sem perder os aspetos positivos que tem nas micro-estruturas dos corredores laterais.

        Acho mesmo que o Benfica tem qualidade suficiente para ir para o meio e para fazer bastante melhor. E agora que já tem todos disponíveis, tem que apostar e trabalhar nessa sistematização. Não convém é encostar na linha um dos artistas do meio sem ter ninguém no meio que faça as vezes dele…
        A única zona do terreno onde de facto aceito que perdeu qualidade no final da segunda época que talvez nunca tenha sido reposta terá sido na defesa.
        De resto há o eterno problema de não parecer haver substituto para o Fesja e daí para a frente há Jonas mais vários jogadores para cada posição.

        • Por falar no Fejsa, deixo um questão/pedido de opinião, até que ponto neste momento o sérvio não está a mais no 11, dado que este só participa nos momentos defensivos?

          É que uma coisa é ter uma defesa, mais medio def, com Semedo, Lindelof e Ederson, em que de 6 jogadores, pelo menos 3 que conseguem construir de trás. Outra bem diferente é ter uma defesa com Odysseias, Almeida, Jardel e Rubén, onde apenas 1 (Grimaldo) em 6 sabe sair a jogar e construir a partir de trás. É quase meia equipa que pouco ou nada participa na construção. Uma equipa como o Benfica não pode abdicar de meia equipa quando tem a bola. E ainda por cima obriga o(s) médio(s) (normalmente Pizzi) a descer para pegar no jogo ficando este(s) mais longe da baliza adversária e aumentando a distancia entre linhas.

          Já que não parecem haver grandes alternativas na defesa, com alguém com maior capacidade de construção a 6 sempre era mais um a participar e podia libertar o Pizzi (ou de preferência o Krovinovic) para receber bem mais à frente, mais perto do Jonas. A dúvida é, quem é que poderia fazer esse papel? Gabriel? Gedson? Alfa (não me parece)? Outro, quem?…

  4. Vou tentar fazer uma retrospectiva do trabalho do Rui Vitória no Benfica:
    Qd chegou tinha herdado uma equipa em que os defesas eram AA, Luisão, Jardel, o Eliseu e a abébia do Lisandro, que nem contava. Era uma defesa que não sabia sair a jogar. Lá descobriu o Nelson Semedo que começou a época a titular. O Guedes tambem fez uns jogos ao inicio. Foram esses dois que nos possibilitaram trazer um bom resultado de Madrid, mas entretanto sairam os dois da equipa, um por lesao, o outro por abaixamento de forma, natural naquela idade. E começou o descalabro.
    Só resolveu os problemas da equipa com a entrada do Lindelof, do Ederson e do Renato, que davam todos uma muito boa saída de bola. O Pizzi passou para a direita e deu uma consistencia que nunca se tinha visto com o Jesus. Era um plantel com varias falhas mas deu para ser campeao e chegar aos quartos, onde jogámos com o Carcela!!!
    No segundo ano foi tudo diferente: A defesa era composta por Ederson, Semedo, Luisão, Lindelof e Grimaldo. Tinha uma saída de bola espectacular. Era tão espectacular que o Pizzi já pode voltar ao centro, uma vez que a saída era feita essencialmente pelas alas, pelo lindelof ou pelo Ederson. Alem diso havia o Guedes, que protegia o Pizzi e muito mais.
    O problema esse ano foram as lesoes. Foram algumas 40 e em jogadores importantes. O unico jogo que fizemos com a equipa toda disponivel foi o ultimo, contra o Guimaraes. No entanto essa equipa tambem tinha falhas: tinha um meio campo muito fraco.
    No ano a seguir, o ano passado, melhoraram o meio-campo com o João Carvalho e o Krovinovic mas destruiram~lhe tudo o que tinha construido até ali com a venda do Ederson e dos dois defesas. Entretanto foram vendendo o Lima, o Gaitan, o Renato, o Guedes, etc. Voltou tudo ao inicio, com a agravante do Krovinovic se ter lesionado antes de começar a competir.
    Quando o Krovi voltou de lesao, ele que é muito melhor que o Pizzi no centro do terreno, assistimos ao melhor futebol praticado esse ano em Portugal – o Rui Vitoria não pode ser mau se conseguiu pôr essa equipa a jogar futebol – e não fomos campeoes porque o Krovi se voltou a lesionar e já jogámos com o Porto sem o Jonas. Mesmo assim perdemos o campeonato no ultimo minuto, num lance fortuito.
    Este ano compuseram o plantel um bocado, principalmente com o Gedson, mas continuamos com uma defesa em que 5 dos 6 (a contar com o guarda redes e o Fejsa) não sabem sair a jogar. Contrataram o Conti, que é melhor nesse aspecto, mas não é nenhum Lindelof. Até me parece um bom dfesa central, que sabe jogar na antecipação, coisa não muito vista, mas é provável que ainda va precisar de um ou dois anos para se adaptar.
    Está a voltar o Krovi, penso que irá fazer a saída com o Grimaldo, Krovi e Gedson. Voltou o Jonas, o Rafa está a começar a sair das cascas, o João Felix continua a adaptar-se a outro ritmo, e penso que os problemas do jogo interior serão solucionados.
    É por isso que eu compreendo perfeitamente as palavras do Vieira qd segurou o Vitoria “Se calhar teríamos de mudar muita coisa, a estrutura”. Há muita gente (Rui Costa!!) que me parece estar a sacudir a agua do capote.
    PS: para mim o Rui Vitoria tinha saído assim que deu o aval à saída do João Carvalho. Tambem não gostei nada com lidou com a situação do Jovic. Parece que era para jogar no fim de semana e saiu à noite na quarta ou qq coisa do genero, e por isso não jogou. Mas que é esta merda?! Como sabe o Rui Vitoria, que foi um jogador banalissimo, que o Jovic nao precisava de sair naquele dia para poder fazer uma boa exibiçao no fim de semana?! E que é isto de contratarem miudos e quererem proibi-los de viver?! Eles não pediram para pagarem milhoes por eles. E depois queixam-se que são mimados e isto e aquilo. Que raio de hipocrisia, o que não me espanta; o futebol deve ser a profissao com as pessoas mais burrinhas.
    Eu, se fosse a direção, ia contratar um central e um lateral direito neste Janeiro para entrarem directamente na equipa. Os candidatos a saírem serão o Jardel – eu até o acho melhor que o Ruben, ainda, mas demora uma eternidade a entrar em forma, tal como o AA. Se tiverem continuidade, normalmente até fazem segundas voltas muito boas mas enterram a equipa até lá.

  5. Finalmente! Uma análise ponderada, sensata e fundamentada ao trabalho do Rui Vitória. Por estas análises vale a pena vir a este espaço. Pena é que neste espaço surjam análises desenquadradas.
    Concordo inteiramente com esta análise, pois acho que em termos de dinâmicas ofensivas o Benfica fragiliza as alas defensivas em prol da criação dos tais triângulos, permitindo criar muitas situações perigosas na envolvente, e até mesmo interior, da área do opositor.
    Também acho que as fragilidades do Benfica estão bem identificadas: espaços nas costas dos defesas laterais, que no passado têm sido protegidos pela experiência e capacidade do eixo defensivo (nesta fase má do Benfica o problema residiu muito na variação excessiva dos elementos defensivos, fragilizando a organização do eixo defensivo central).
    O outro problema aqui identificado é a falta de processo pelo centro do meio campo que resulta em dificuldades de jogar em posse por esta zona do terreno e isso torna-se muito perigoso quando o Benfica apanha adversários com presença em quantidade e qualidade no eixo do meio campo, e os jogos contra “grandes” equipas tem comprovado esta fragilidade.
    Em suma existe um processo que embora contestável nunca poderá ser questionado sobre o seu desenvolvimento e empenho dos atletas na sua aplicação.

  6. Concordo com a constatação de factos relativas à dinâmica da equipa, as falhas apontadas (e notórias) fazem com que esta ideia de jogo seja uma meia ideia.

    Se a intenção é ser forte pelas laterais não podemos ter do lado direito um jogador como o André Almeida que é parco em recursos técnicos.
    Vemos que a esquerda consegue trabalhar sem muito bem independentemente de quem seja o extremo porque na sua lateral defensiva tem um jogador extremamente técnico e inteligente. Por esta altura já deveríamos ter mais demonstrações daquilo que o Corchia pode dar à equipa, sendo sabido que é um jogador com mais recursos técnicos do que o Almeida.

    Outro ponto é as movimentações do Fejsa, se a intenção é projectar os laterais o Sérvio não pode estar tão adiantado no terreno como está muitas vezes, se falha a intercepção acontece que o contra ataque adversário se estiver bem estendido abre em demasia os centrais deixando a zona central totalmente ao descoberto.

    Na meu ponto de vista fazia sentido então ter um lateral direito mais técnico e alguém mais próximo dos centrais, alguém com a capacidade física e táctica de Fejsa mas mais recursos técnicos.

  7. Pirlo,
    Discordando de alguns pontos, há um que me parece demasiado relevante para deixar passar: “se tiveres um João Felix por fora, bem aberto, vais continuar sem jogo interior porque, independentemente da qualidade que ele te possa dar por dentro, ele vai estar aberto”. O estar aberto é apenas o ponto de partida. Félix na esquerda terá sempre a tendência para vir para o meio, o estar aberto poderá ser o querer assegurar que conseguirá receber mais vezes a bola, procurando as combinações para criar desequilíbrios…por dentro. Vide Bernardo Silva no Manchester City.
    Rui Vitória continua sem perceber que as alas são um meio para atingir um fim e que a baliza se encontra no meio. Tal como continua incapaz de reconhecer talento e de escolher os melhores para entrarem de início. Pouco a pouco eles vão aparecendo, mas a ausência de Corchia, Krovinovic, Rafa, Zivkovic, Félix, Jonas e Ferreyra ao longo deste início de época continuarão a espantar as gerações que daqui a uns anos perderem algum tempo a analisar quem jogava e quem estava no banco ou na bancada…

    • Bom comentário a dizer o que penso mais ou menos e de uma forma ponderada…..

      Eu não consigo engolir esta do “ou que Rui Vitória deixa de ser um excelente treinador…” sem achar que é um texto de stand-up comedy.

      O politicamente correcto já atingiu o lateral esquerdo.

      O que por aqui se defendia desde os primórdios contradiz em tudo o que Rui Vitória faz….Até na predominância do cérebro acima do físico… Os processos colectivos do Benfica são tudo menos inteligentes…

      Eu vejo a linha avançada toda colada à linha defensiva à espera do chuveiro…Jogos completamente agoniantes do ponto de vista táctico…

      Eu não percebo nem tenho formação em futebol ou treino mas daquilo que venho lendo nos últimos 4/5 anos no Lateral Esquerdo/Posse de Bola/Domínio Táctico custa-me a entender esta espécie de defesa ao Rui Vitória…

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