Cinco jogos, sete sistemas – Tuchel, o camaleão

Cinco jogos, sete sistemas diferentes.

Foi com constantes alterações tácticas que o Paris SG se apresentou, sobretudo nos jogos da Liga dos Campeões.

Numa era em que importa cada vez mais a inteligência como forma de desbloquear as boas organizações defensivas adversárias, o caminho vai-se tornado mais híbrido. O que há não tanto tempo era criticado, é hoje a forma tentada para enganar oposições.

Os modelos perdem rigidez, promovem mais o pensar próprio, do que a repetição sistemática, com que Jorge Jesus, por exemplo, conquistou o seu espaço mesmo nos momentos ofensivos do jogo.

A mudança de jogo para jogo e dentro do próprio jogo, deixa de significar ausência de ideias e um atirar à sorte, na expectativa de que algo mude, mas faz parte de um plano previamente pensado e elaborado para surpreender a oposição. Porque nos dias em que a informação corre a elevada velocidade, nos jogos de maior equilíbrio, cinco a dez minutos de surpresa podem ser suficientes, ou fatais para construir o resultado.

Carlos Carvalhal abordou-o quando analisou tácticamente o Tottenham x Barcelona. Mencionou o período em que o Tottenham se deu à “morte” porque não foi capaz de perceber a pressão “culé”. Quando reagiu e adaptou, para passar a controlar, já o resultado estava meio condenado.

No caso concreto da equipa de Paris, cuja qualidade e extensão do seu plantel é mais do que evidente, ao treinador cabe também criar contextos que continuem a desafiar de forma regular os seus jogadores.

A novidade no processo obriga a um estado maior de alerta em cada unidade de treino, e poderá ser o catalizador para potenciar não só as qualidades colectivas da equipa, mas o próprio rendimento e capacidade de cada individualidade.

Jogadores de elevada categoria precisam cada vez mais de estímulo, e para um grupo que tem a Liga nacional como certa, o lado “camaleónico” da vertente táctica, poderá, para além de ser o factor que desequilibra e surpreende a oposição, ser o que mantem todos os elementos colados e focados no processo.

O jogador hoje em dia vê o jogo com olhos que há uns anos não viam as mesmas coisas, e isto é um desafio enorme para todos os treinadores do presente e do futuro. Já não basta dizer o que é para fazer. Tens que argumentar o porquê!
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

2 Comentários

  1. Espero que esta estratégia de mudança de sistema de jogo se continue a espalhar pelo futebol e que, por consequência, cada vez mais se atribua um maior valor à inteligência pois apenas treinadores e jogadores que a possuam serão capazes de implementar o descrito neste artigo.
    Ainda há cerca de 2 semanas foi publicado um texto escrito por mim num outro website desportivo onde falava exatamente disto, deixo aqui o link parar quem estiver interessado: https://blogvisaodemercado.pt/2018/12/inteligencia-da-adaptabilidade/

  2. Mas isto é muito difícil meter em prática com continuidade. E nem chega só ter muito inteligentes lá dentro.
    Treinar para isso, mas o tempo não dá para tudo.
    Sempre arriscado, sempre ambicioso.

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