
Quando se fala em construção de um modelo, é necessário desde logo separar o que é o futebol formativo do futebol de rendimento.
No futebol sénior, o rendimento e o resultado vêm antes de tudo o mais. Tudo é preparado para o imediato, a menos que estejamos a falar de um contexto muito especial. Na formação, importa muito mais o médio / longo prazo, pelo que os objectivos primordiais terão de ser o potenciar a individualidade. E para o fazer, muitas vezes, há que tomar opções que até nos podem afastar do tal resultado, seja dando oportunidades a quem está menos preparado (por idade / maturação) , mas denota maior potencial, ou até direccionando o processo de treino para a aprendizagem motora e do gesto com a bola, em detrimento de uma preparação mais estratégica ou táctica para o imediato.
Um modelo num futebol que deve promover em primeira instância o crescimento da individualidade, pode, ou até deve, trazer dificuldades para os jovens jogadores, porque só assim estes irão crescer e ter maiores possibilidades de chegarem ao profissionalismo.
Já quando é o resultado que está em causa, trata-se de potenciar virtudes e esconder defeitos. Aproveitando características do jogador. Modela-se em função do jogador!
As ideias são e virão sempre do treinador, mas tem de haver uma adaptação deste à individualidade.
Há algum tempo atrás, recordo as críticas a um treinador porque, segundo os adeptos, este não tinha modelo, porque quando jogavam jogadores diferentes, os movimentos dos jogadores da mesma posição eram diferentes.
Refutei, porque na verdade, este é o fundamento para o melhor trabalho de “modelação” dos treinadores. O que não tem sentido é colocar jogadores sem capacidade para determinadas acções a executá-las, porque o modelo é rígido! Trará insucesso ao jogador, e consequentemente à equipa.
processo dinâmico e nós vamos fazendo evoluir da forma que entendemos em função daquilo que vemos do desempenho do treino em jogo, individual, colectivo. Portanto isso é sempre analisado e fazemos fluir e levar o treino e o modelo para determinadas direcções embora o modelo e a nossa ideia seja a mesma, há algumas nuances… O modelo tem vida própria…
Exercícios são feitos em função do nosso modelo de jogo e das nossas dinâmicas. Preocupa-me a forma como ele é acolhido pelos jogadores, e que o exercício contemple todas as preocupações que fizeram nascer o exercício.
Luís Castro
Sempre que por cá mencionei o caminho correcto para o modelar, fui deixando de fora um por cento do total dos contextos. Aquele um por cento, em que os treinadores porque têm possibilidades infinitas, podem escolher a dedo com quem pretendem trabalhar. Nesse caso, é possível escolher para encaixar exactamente no que preconizo sem ter de fazer uma única adaptação.
Curiosamente, no excelente Bola na Árvore (aqui), uma lufada de ar fresco na realidade nacional no que concerne a falar do jogo, e que recomendo vivamente (a par do Saber Sobre o Saber Treinar aqui) a todos quanto os que gostam de reflectir e procurar saber mais, foram partilhadas declarações de Pep Guardiola, que nos mostram como mesmo quem tem recursos infinitos tem em determinados momentos de se adaptar, e modelar não em função de uma série de comportamentos anteriormente definidos, mas antes em função do que podem dar os jogadores:
O que podes melhorar depende das dinâmicas e da qualidade dos jogadores. Na última época jogamos sem lateral (esquerdo), e agora temos o Mendy, por exemplo. O Mendy tem energia para subir e descer várias vezes… assim podemos atacar de outra forma! Algo que não pudemos fazer na última época… Podemos construir com 3 ou com 4, depende da qualidade…
Guardiola
“Modela-se em função do jogador!”
É bidirecional. Modela-se a equipa considerando as características dos jogadores e burilam-se os jogadores considerando as ideias core para o modelo que deve ser pensado e planificado consoante os tipos de competições e perfis de adversários e que também por isto terá que ser sempre um modelo adaptativo.
E foi aqui que se esbarrou, pelo menos até ver, o tão amado JJ na possibilidade de passar à fase seguinte, porque manifesta incapacidade para sistematizar um modelo adaptativo. Curioso também será ver como evoluirá ele sem alguns dos membros da equipa técnica dos últimos anos.
O meu primeiro comentario no LE foi uma critica acerca da declaraçao de JJ que falando sobre a hierarquisaçao modelo/jogador, definia o modelo como o centro.
Desde aquele tempo que os resultados provaram que o pragmatismo era a posiçao adequada para o sucesso. Pragmatismo sobre o modelo consoante os jogadores à disposiçao e sobre a estrategia consoante o adversario. Os treinadores com ideias radicais de jogo e menos maleaveis desapareceram ou souberam mudar de ideias( Bielsa, Paco Jemez, Low, Miguel Cardoso, Bosz, Lopetegui, Sampaoli, JJ…).
Nas grandes competiçoes que reunem as melhores equipas, estamos na era da informaçao total sobre os modelos dos adversarios e para surpreender restam quatro soluçoes : os jogadores-gênios que se exprimam no melhor modelo possivel( os melhores este ano : City, Barcelona, Chelsea, Napoles…), as transiçoes caoticas de certas jogadas onde reina a inspiraçao dos jogadores-gênios( os melhores este ano : Atletico, Liverpool,Juventus, PSG…) as estrategias especiais consoante o adversario e tambem aquelas que mudam durante o jogo(os melhores este ano : PSG, Juventus, City…) e os ressaltos de bola que trazem azar ( penaltis, bola desviada …).