Brahimi rezou o último terço

A dádiva natalícia que foi esta 14.ª jornada da I Liga levou ao Estádio do Dragão, como à Luz e a Guimarães, uma das melhores equipas da competição. E nada sobressaltada pelo ‘abandono’ prematuro do seu timoneiro (antes da visita à Invicta, José Gomes deixou os vila-condenses para rumar a Reading) a equipa do Rio Ave tentou (sempre) em todos os momentos que o jogo pedia aparecer nas sobras que os campeões nacionais ofereceram. Se o FC Porto começou o jogo a tentar envolver o Rio Ave na sua teia, e a tentar empurrá-lo para onde mais lhe é conveniente, foi fazendo uso de uma transição bem elaborada que Vinicius colocou os dragões a terem que fabricar uma remontada. Essa, que aconteceu ainda na 1.ª parte – deixando a etapa complementar sem direito a golos – nasceu das possibilidades infinitas que Brahimi oferece pelo corredor central, assim como da facilidade que Moussa Marega tem em transformar lançamentos para si em golos que valem ouro.

Contudo, ainda que o Rio Ave – como já referido – seja, de facto, uma das equipas que não nos fará perder tempo a seguir, a ideia que os vila-condenses tentam trazer aos relvados encontra vários obstáculos no caminho da mente até ao físico. E se o primeiro golo do jogo, aquele que fez o Porto forçar a reviravolta, nasceu de uma transição, depois dos dois golos que levaram o campeão nacional a desenhar a vantagem no placard, o Rio Ave teve de fazer uso da bandeira que carregou com Luís Castro, Miguel Cardoso e, também, o próprio José Gomes. Era tempo de o FC Porto desacelerar e do Rio Ave ter que assumir algum protagonismo. A bola de pé-para-pé não os assusta, mas a estatística que mede a mesma subirá sempre quer ela ande por fora do bloco adversário, quer ela ande por dentro. Porém, será sempre mais fácil apontar à bandeira da posse fazendo-a subir por fora das linhas oponentes, do que por onde mais as fere. Estratégia, ou falta dela, capacidade, ou incapacidade, o que é certo é que nos momentos em que o Rio Ave pôde ser protagonista na 1.ª parte do jogo, a redonda tendeu a andar sempre por espaços que o FC Porto preferia dar, e não por terrenos onde os dragões ficariam, decerto, mais desconfortáveis. Uma história que a 2.ª parte mudou, mas que não atira para segundo plano o ‘afastamento’ vila-condense das zonas mais interiores, que, por consequência, levou ao afastamento da equipa do seu último terço.

E foi esse aproveitamento, mas na zona oposta do campo, que levou o FC Porto a iniciar e encetar uma reviravolta com vários lampejos de magia africana. Depois do golo de Vinicius, Brahimi levou a batuta para a zona central e fez esquecer que, minutos antes, Corona tinha oferecido a transição que deu o golo a Vinicius. Pelo meio, o argelino saltou barreiras, serviu, esperou pela conclusão da tabela e finalizou, lançando o mote para o que o Marega haveria de fazer momentos depois. De forma diferente da bola colada ao pé de Yacine, Marega tem o condão de transformar bolas no espaço em golos. A velocidade estonteante do maliano faz com que o seu corpo atrás do oponente, no momento do lançamento de Maxi, esteja a um milésimo de segundo da ultrapassagem que lhe permite finalizar. Por outras palavras, mais correntes, é lançá-la que ele vai lá buscá-la, sempre. E estas são vantagens que uma equipa, mesmo que não carregue a bandeira da posse, tem. O seu 4x4x2 e suas dinâmicas – que, desta vez, trouxeram Herrera por troca com Óliver – conferem uma presença na área que o Rio Ave nunca conseguiu ter na 1.ª parte, mesmo quando viu para si o peso de fazer girar uma bola que lhe ia conferindo algum protagonismo na partida. Pelo contrário, o FC Porto utilizou o corredor central e o lateral para chegar onde a larga maioria dos golos são construídos: o último terço. Um jogo de opostos que forçou o Rio Ave a tentar mudar algo para levar algo mais da fortaleza de Sérgio.

Mais calor no mapa-de-gelo

E se, como já referido, o mapa de movimentos do Rio-Ave na área portista desenhava um iceberg, o desvio de Fábio Coentrão para o espaço central permitiu que o ex-Sporting tentasse escrever nas entre-linhas do jogo um novo Rio Ave. A bola, sempre ela, continuou bastante tempo nos pés dos forasteiros, mas a colocação de Coentrão nessas zonas permitiu outra chegada à área e a criacção de oportunidades que poderiam tirar o sorriso a Sérgio Conceição. Um pouco à imagem do que Brahimi conseguiu na primeira metade, poderia partir daí outra aproximação rioavista ao resultado. Uma mudança para mais perto de Casillas que forçou Sérgio a ter que devolver Óliver à equipa. E com ele, o FC Porto pôde, de novo, regressar a algo mais aproximado para um candidato ao título. De correr atrás da bola para fazê-la girar com mais critério, é o que muda quando o criativo espanhol pode pegar na batuta em zonas intermédias. Uma vantagem que o sistema, modelo, ideia e plano de Sérgio não permitem na maioria das vezes, pelo rácio presença no miolo/presença na área. Sendo que, nessa dualidade e dilema, as características de Herrera para jogar à frente de Danilo, reagir à perda, pressionar em organização, soltar rápido e chegar a zonas de finalização, relegam um dos melhores jogadores da Liga para o banco. E para de lá sair, ou o jogo vira de feição para si – como os últimos 20 minutos deste FC Porto-Rio Ave – ou a transcendência em aspectos menos positivos do jogo de Óli terá de transformar as suas rudimentares e inofensivas chegadas à área (para assistir ou finalizar) em coisas mais parecidas com aquilo que, por exemplo, Hector Herrera fez, na época passada, na Luz. E Sérgio, mais do que a falaciosa falta de entrega ao jogo de Óliver (algo que anda longe da verdade) anseia por isso. Por aquele médio que construa de forma excelente – e que como só Óliver sabe fazer – mas também por aquele que vá para cima (como Brahimi no lance do primeiro golo), desorganizando planos de treino e jogo adversários, ao mesmo tempo que não se coíbe de inventar golos à entrada da área. Este é o Óliver que Sérgio quer, aquele que faça os Super Dragões reinventar o seu hit dos 00’s: Ele é o número dez/ finta com os dois pés/ é melhor que o Pelé… (será que) é o Óli, allez allez?! 

FC Porto-Rio Ave, 2-1 (Brahimi 16′ e Marega 26′; Vinicius 12′)

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