
Muito recentemente trouxe ao Lateral Esquerdo, a incrível troca de paradigma do Varzim, que de um jogo mais directo e de incessante preocupação com os dois momentos defensivos, se tornou uma equipa capaz de procurar chegar ao ataque com a bola no chão, integrando todos os jogadores numa proposta que os potencia. Todos jogam, e não apenas três ou quatro, enquanto os outros correm.
Para um jogo que se pretende mais aprazível (e não perdendo potencial pontual!) é importante resgatar os melhores.
Por isso, faz hoje todo o sentido, depois do impacto que Fernando Valente teve na Póvoa, recordar Vitor Paneira e as palavras trocadas em tempos idos:
Foi com grande orgulho que Vitor Paneira acedeu a responder a algumas questões do nosso blog. Porquê Vitor Paneira? Porque já desde os tempos do Tondela que apresentava um modelo de jogo, uma proposta diferente. Menos preocupado com o pontinho (defender com muitos e contra-atacar com poucos) e mais preocupado em jogar tudo o que o jogo proporciona, em todos os seus momentos. Com treinadores com estas propostas não só o jogo é mais agradável como as suas equipas estão melhor preparadas para o jogo e para vencer. É muito confrangedor perceber que em Portugal continua a contratar-se “ao nome” e não ao modelo. Depois de Tondela, Paneira deveria estar na primeira divisão. Não está. Perdemos todos.
Já tinha conhecimento do blog? Que opinião tem?
Até há pouco tempo não tinha conhecimento sobre o blog, conheci através do meu filho que me foi mostrando algumas análises vossas sobre o jogo, analises essas que achei interessantes pois sobretudo falam sobre o jogo, as estruturas táticas e modelos de jogo.
Melhor jogador com quem jogou e porque é para si o melhor?
Valdo, porque era aquele que entendia os momentos de jogo de uma forma extraordinária, pensava e executava de uma forma que parecia estar à frente dos outros todos.
Encontra muitas diferenças no futebol da 1a liga para o da Liga de Honra e para o CNS?
São claramente campeonatos diferentes, com qualidades diferentes, sendo que as grandes diferenças estão na mentalidade, na abordagem ao jogo e a qualidade técnica/tática que faz toda a diferença para os campeonatos superiores, não obstante de existir grande qualidade nos campeonatos inferiores (CNS).
Como jogador já tinha o conhecimento que tem hoje do jogo?
Sem dúvida que não, apesar de ter sido um jogador que percebia bem os momentos do jogo, fui evoluindo e percebendo melhor o jogo com o passar dos anos, assim como o futebol evoluiu.
O Vitor jogou a um nível muito elevado. Em virtude disso acontece-lhe idealizar ou propor algo à equipa / individualidades mas que o nível dos seus atletas não consegue atingir?
Falando sobre a minha equipa actual, posso dizer que ela interpreta as minhas ideias de jogo com grande facilidade, visto que estou rodeado de um grupo de jogadores com grande inteligência de jogo e que sobretudo gosta de jogar bem.
Sente muitas diferenças tácticas de quando jogava para hoje?
Sinto, há claramente diferenças do meu tempo para agora, antigamente trabalhávamos sobretudo o aspecto defensivo e a organização defensiva, nos dias de hoje procuramos trabalhar mais o nosso processo ofensivo, que passa sobretudo em ter bola e saber o que fazer quando a temos.
P.S.- Nos dois momentos, antes e agora, uso como referencia as equipas top.
Quais são os grandes objectivos que norteiam a sua semana de trabalho? Melhorar sobretudo o quê?
A minha semana de trabalho tem sempre como principal objetivo o jogo, sendo que o meu principal objetivo no treino é melhorar o meu processo de jogo, dando maior importância ao processo ofensivo. Tentando melhorar sempre a nossa 1ª fase de construção, depois o nosso processo de jogo interior, a preparação para o jogo exterior e por fim a finalização.
Privilegia algum momento específico do jogo no seu plano semanal?
Como já disse nas perguntas anteriores, privilegio sempre o processo ofensivo, tendo como referencia a posse da bola e o jogo interior.
Que capacidades mais valoriza num atleta, e porquê?
Em função do meu modelo de jogo e da forma como gosto de jogar, a inteligência da interpretação do jogo e a reacção à perda.
O melhor jogador do Benfica, dos últimos 35 anos.