A Praia Azul

Com a metamorfose operada depois dos traumas de Guimarães e Tondela, o Sporting de ‘José Manuel’ Keizer ganhou pelo menos uma coisa: o efeito de confundir, por largos minutos de um jogo, o FC Porto de Sérgio Conceição. Se o plano-de-jogo é, também, definido pelos pontos fracos do adversário, o facto de toda a transição entrar com facilidade, nos primórdios de Keizer no futebol da Tugolândia, levou Sérgio Conceição a abordar o primeiro duelo, em Alvalade, à espera de um Sporting esticado e com vários buracos na sua madeira por onde o seu caruncho – leia-se plano – pudesse entrar. Como sabemos, a história foi outra: o bloco mais recuado dos leões, retirou qualquer hipótese de o FC Porto ter sucesso em 4x4x2 (já lá vamos) e só com a inclusão de outro médio puderam os portistas ter mão num jogo que, ainda assim, castigou a falta de inspiração tanto em organização ofensiva como na sempre capital falta de pontaria nas duas oportunidades criadas. Pois bem, em Braga, Sérgio não desistiu do habitual 4x4x2, o que nos remete para a intenção do treinador campeão nacional em empurrar o Sporting para a sua área, para daí ganhar duelo atrás de duelo e prender numa camisa-de-forças um leão que Sérgio vê como mais fraco do que o dragão que orienta.

As equipas iniciais trazidas pelo site da Liga, com o lapso nas posições de Bruno Fernandes, Nani e Raphinha e no sistema dos leões (4x3x3 e não 4x4x2)



E, mais uma vez, por 45 minutos a ideia não se coadunou com a realidade. Isto porque Keizer, mais uma vez também, metamorfoseou por completo a ideia que trouxe, e a nova ideia que criou após as tais duas derrotas. Desta vez, o Sporting não abdicou de um pressing alto, constante e bastante intenso, o que bastou para que Sérgio não visse a sua equipa, nem o seu 4x4x2 onde mais o queria ver: no último terço. Isto porque um 4x4x2, que agora embandeira em arco na Liga portuguesa, serve exactamente para isso. Ou, pelo contrário, nunca servirá, se a equipa não tiver o completo domínio do jogo e não se aproximar da área. Assim, a escolha por dois avançados em detrimento de mais um elemento com características de centro-campista permite a presença na área que o esticar para o meio-campo adversário requer. E sem essa presença no meio-campo ofensivo – que o pressing do Sporting conseguiu anular em grande parte do primeiro tempo – o 4x4x2, e o plano intenso do Sporting em ir a todas – deixaram o FC Porto refém de um dos seus handicaps: o enorme número de bolas perdidas ainda em zona de construção (que o Benfica também aproveitou na primeira-parte da meia-final da passada terça-feira). E esteve o Sporting mais preocupado em aproveitar essas falhas, do que propriamente em aproveitar o pressing e, consequentemente, a presença no meio-campo portista para jogar e dominar (como fazia nos primeiros jogos do técnico holandês).



Porém, ultrapassada a confusão, e esgotado o efeito Duracell dos leões, Sérgio ganhou a aposta em manter o 4x4x2. Desde o apito inicial da 2.ª parte até ao minuto 89 (também já lá iremos), o jogo do FC Porto contou a história do plano inicial de Sérgio e o porquê da manutenção dos dois avançados em detrimento de mais um elemento para o combate no miolo. Mais pressão, mais duelos ganhos perto do sítio mágico para Conceição (o último terço) levaram ao emular completo do futebol heavy-metal que, à escala, não anda longe de querer recriar o que Klopp mostrou no Borussia Dortmund. Equipa cafeínada (não literalmente, não comecem!) activa, pressionante numa correria que vai prendendo o adversário às cordas e ficando, ficando, ficando, à medida que tem bola, mais perto do golo. É assim que Sérgio quer e, goste-se ou não, é assim que tem tido. De tal forma que ver o FC Porto bater, bater, bater (outra vez não literalmente, não comecem!) até provocar o erro de Renan, que deu o golo a Fernando Andrade, não surpreendeu – acredito piamente – ninguém que tivesse reparado na dimensão da 2.ª parte dos dragões. 



E nem – apesar da visualização atenta aos minutos que se seguiram ao golo do reforço de Inverno do FC Porto – o tal efeito Roderick (que se procura sempre que há uma vantagem mínima para segurar nos últimos minutos), e nem esse efeito, dizia, trouxe algo de totalmente incriminatório para os campeões nacionais. A equipa não se decompôs, a estratégia não se desfez e a grande parte desses minutos (se olharem com atenção) foram também jogados no meio-campo dos leões ou, pelo menos, fora de zonas perigosas para Vaná. Aparte da jogada em que Nani virou Militão (logo a seguir ao 1-0) e serviu Bas Dost para uma cabeçada que quase saiu pela linha-lateral, o condão do jogo foi ver o FC Porto a forçar presença no seu meio-campo ofensivo. Mas, vantagem mínima nunca será mais que isso, e bastará sempre uma jogada, um erro individual ou colectivo, para ela se esbater. Como dizia, foi um chutão que levou o Sporting para o sítio que mais precisava e onde tudo pode acontecer: o último terço. E neste caso não foi futebol envolvente, que vai fora para ir dentro, não foram diagonais ou o arrastar dos avançados em sentido contrário à entrada dos médios. Foi mesmo uma bola vinda dos céus que permitiu a Diaby sair do radar de um Óliver que só a queria tirar dali. Dadas as características e a aptidão (ou falta dela), fosse aquela jogada com Militão, Pepe, Felipe ou Telles, e o FC Porto teria hoje a sua primeira Taça da Liga no Museu. Como não foi, o pontapé de Óli em Diaby (que na cabeça do criativo sairia sempre na bola e não em cheio na perna do colega de profissão) rapidamente se transformou na derrocada de um FC Porto que viu o Mundo cair-lhe em cima. E o choque foi tão grande que a identidade dos dragões passou rapidamente de autoritária e dominadora, a temerária e pequenina. Algo que se reflectiu na jogada que, ainda antes do apito final poderia ter dado o 2-1 ao Sporting, e, claro, nos já malfadados penáltis que, na visão e identidade do conjunto sportinguista, são, claro está, a sua praia mais azul. 

FC Porto-Sporting 1-1 (1-3 g.p.) (Fernando Andrade 79′; Bas Dost 90’+2 g.p.)

4 Comentários

  1. “fosse aquela jogada com Militão, Pepe, Felipe ou Telles, e o FC Porto teria hoje a sua primeira Taça da Liga”….epa então tens que dizer primeiro que se o Renan não tem aquela falha o porto nem marcava uma vez que não criou perigo algum

    • O Renan é guarda-redes. E o erro acontece numa zona que é dele. Percebo a tua lógica, mas acho que não percebeste o facto de sublinhar um lance e ‘omitir’ o outro.

  2. Eu vejo o jogo de outro ponto de vista.
    Na 1ª parte o SCP teve oportunidades para marcar e não aproveitou.
    Na 2ª parte o FCP dominou e mesmo com o infortúnio do SCP de ter que ser forçado a substituir André Pinto e jogar com Petrovic lesionado no nariz (a mesma lesão de André Pinto, pelos vistos) não criou praticamente uma situação de golo. O FCP não conseguiu criar muitas oportunidades perante o SCP mais fraco dos últimos anos e ainda com todos os infortúnios que teve durante o jogo.

    Conclusão: o SCP teve a sorte do VAR existir, senão nem estava na final e nem a tinha ganho. Foi o VAR que avisou o árbitro da falta (óbvia nas imagens) do jogador do Braga sobre Acuña e anulou o golo. E foi o VAR que viu o penalty escandaloso que o árbitro não viu mesmo em frente a ele, quando Oliver chuta a perna do Diaby. Viva o VAR !!

  3. Porque não tenta o Oliver aliviar aquela bola de cabeça? Não consigo perceber. Aposto que se fosse um jogador da defesa aquela bola era aliviada de cabeça

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