O rácio

Tirando o que é publicado por aqui, pelo Lateral Esquerdo, não me sobra o tempo que gostaria para ler as, muitas vezes infames, muitas vezes conscientes, análises que se publicam, sobretudo, quando um dos grandes não corresponde às expectativas. Mas, partindo do princípio que, essas, não mudaram muito desde o tempo em que eu lia tudo relacionado com a queda ou ascensão dos gigantes, duvido, sinceramente, que a coisa tenha passado muito do 8 ou 80 que as media aquando das minhas fervorosas leituras. Assim, neste reencontro do FC Porto com a perda de pontos em duas deslocações seguidas, não me admirarei, como sempre, de que as análises sofram da maleita desejo vs. realidade que tanto assola qualquer análise. E por qualquer quero dizer que, não esqueço também as minhas que, muitas das vezes, resvalam para tentar provar qualquer ideia que eu acho mais adequada, o que será o mesmo que dizer que, não raras vezes, tento que o Mundo reflicta a minha ideia, que a prove, para me validar a mim próprio. Tendo consciência disso, peço, não vejam nas linhas que se seguem, então, qualquer verdade absoluta, nem vejam um par de ideias que metam as vossas em causa. É que fossem elas tão puras, reais, hegemónicas e nem precisaríamos de as publicar ou de as defender. Porém a conversa quer-se sobre o Moreirense-FC Porto e não sobre a nossa (também minha) necessidade de nos evidenciarmos.

E sobre a segunda escorregadela do FC Porto, que remeterá os mais optimistas para o déjà vú que o ano passado representa, assim como para os mais pessimistas a aproximação e mudança no Benfica como o maior dos males, sobre esse par de desaires, dizia, há várias coisas que saltam à vista. E a primeira, a meu ver, não será um esmorecimento claro do campeão nacional. De facto, a meu ver também (ainda sou eu que estou a escrever, lembram-se?), não será lógico afastar estes dois empates, assim como o outro empate e as duas derrotas que o FC Porto averba na Liga, ao tão simples como complicado facto de essas terem sido sempre contra equipas que trazem um ponto de vantagem a esta Liga. De facto, Moreirense e Vitória SC, assim como Benfica e Sporting (e também o Braga que não roubou pontos mas que esteve fortíssimo no Dragão), colocam dificuldades no jogo do FC Porto que, duvido, mais qualquer equipa do campeonato o possa fazer. mas o que este Moreirense-FC Porto teve de específico nem foi tanto a sequela do mau aproveitamento das oportunidades criadas que ficou patente em Guimarães. Ontem, o FC Porto foi tentando não muito longe do costume e do hábito, e até a alteração táctica – que não no sistema é nenhuma ou muito pouca, e que só diverge nas características de Danilo para substituir Herrera, e de Herrera para substituir Marega – não foi, de todo, a causa.

Ora essa, estivesse eu virado para a tentativa de encontrar uma verdade relativa, seria fácil de explanar aqui. Mas o que continua a admirar no futebol são pequenos fenómenos dentro do mesmo para os quais ainda não temos explicação total. E o facto de, não poucas vezes, uma equipa ter de estar a perder para encontrar mais felicidade no rácio equilíbrio defensivo vs. desequilíbrio ofensivo, fascina-me. Fascina-me como muitas coisas pequeninas mas que serão de grande importância. Como libertar então o FC Porto para um índice que o levou a marcar e a criar outra grande oportunidade em 5 minutos de jogo corrido (não estou a contar as pausas que ocorreram), quando nos restantes elas foram surgindo a conta-gotas intermitentemente com oportunidades do Moreirense e o golo sofrido? Como pôr isso no campo quando o jogo ainda está 0-0, numa espécie de don’t look back que assedia muito mais a baliza adversária do que o normal bom jogo do FC Porto que, por norma, as mete lá dentro?

Noutros lados – e espero que também aqui – lerão sobre a enorme capacidade do Moreirense em atacar com capacidade, em defender com critério e, sobretudo, em meter dentro disso tudo uma intensidade brutal que coloca imensas dificuldades a quem o defronta. Mas hoje não vim falar disso. Venho sim tentar saber opiniões sobre o desespero que leva muitas vezes à transformação de jogos, e resultados, e sobre a gasolina competitiva e mental de um FC Porto que vê o Benfica como motivador e não como atemorizador. Isto é, será esta aproximação encarnada benéfica para o FC Porto meter a gasolina necessária para carburar melhor no rácio equilíbrio defensivo vs. desequilíbrio ofensivo? ou é mesmo este aproximar encarnado a causa da tremideira portista? E se perguntarem a Sérgio (não que ele me o tenha dito) eu sei que ele vos dirá: Para uma equipa que é agora tão elogiada na comunicação social, o Benfica continua com muitos ajustes para fazer. Sendo que os jogos que a catapultaram nas análises nunca trouxeram dificuldades que metessem em causa o facto de o Benfica ser uma equipa brutalmente dependente de transições. E se os jogos as permitirem em catadupa (como em Alvalade ou como… na Luz contra o Braga) o Benfica sairá, quase sempre, por cima. Há uma organização mais trabalhada, mas há também ainda algumas dificuldades noutros momentos – facto que o próprio treinador ainda admite. E se a Liga lhe tocar nesses calos, acontecerá ao Benfica o que aconteceu ao FC Porto. Esse é o paradigma de uma Liga competitiva. E estamos tão pouco habituados a isso que, normalmente, associamos a causa ao rival mais directo. E o Benfica, desculpem, neste momento, não é mais forte do que o Porto. É tudo uma questão de para onde os jogos os levam, ou para onde eles levam o jogo. E isso é tão antigo como o próprio futebol.

2 Comentários

  1. Este texto é giro: é daqueles que criticam uma coisa para a seguir fazer exactamente igual. Um texto de wishful thinking que pretende defender o indefensável: o facto desta equipa do FCP ser um longo boçejo que, não raras vezes, se torna mesmo um atentado ao futebol. Não é preciso ser um gajo espertíssimo para ter a sensação de que o SC pode gostar de muitas coisas, mas de futebol gosta muito pouco. Ontem foi apenas mais um episódio de uma – ou duas, pela constante qualidade do Moreirense – peça vista inúmeras vezes ao longo da última época meia. O FCP consegue ser uma equipa terrível, cinzenta, sem uma única acção colectiva com cabeça, tronco e membros. Após a saída de um lamentável Oliver – devia ser proibido rebentar jogadores desta forma – aquilo foi um dejecto (já agora, Fernando Andrade????? desde quando os pernetas brutamontes jogam à bola?).

    Por outro lado, registo o facto deste arrazoado de argumentos ter passado à história em menos de 24 horas. Talvez seja demasiado pouco tempo para algo tão elaborado. Repara: o FCP não é a melhor equipa do campeonato porque até o Moreirense joga melhor. Nem é preciso falar de outros exemplos. Até o Benfica do Vitórias era mais interessante do que o FCP (porque era a mesma merda mas com um bocadinho mais de estilo, o que não é despiciendo).

    Também já se percebeu que o SC não ficará no FCP para se fazer de muito velho. Porque quando os resultados começarem a pesar nada mais o salvará.

  2. O Benfica não é mais forte que o Porto mas “só” deu 10 ao Nacional 🙂
    Continuo com a minha ideia, o FCP é uma equipa trabalhada para jogar futebol directo, para o 1×1, para o choque, para em 3 passes estar perto da baliza para rematar, e para isso acontecer há um responsável directo, Marega, faltando Marega o FCP deixa de ser perigoso no seu futebol directo. O Sérgio como já aqui o comentei contra equipas bem trabalhadas tacticamente vai sempre perder pontos, aconteceu com o Benfica para a liga (nem vou comentar o resultado da Taça porque para mim é um resultado enganador) aconteceu com o Sporting, aconteceu com o Vitoria aconteceu com o Moreirense e ganhou ao Braga nos últimos 5 minutos, ou seja com as primeiras 5 equipas da Liga, á excepção do Braga perdeu pontos com todas. Se isso não é um sinal então o que será.

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