Porque pode o Braga ser campeão – Parte I – O poder do 2º médio

Abel Ferreira é um dos máximos responsáveis pelo bom trajeto do SC Braga, esta época. As ideias apresentadas são sólidas, coerentes e têm vindo a ganhar vida à medida que as dificuldades se multiplicam. Este Braga é adulto, competitivo e muito ambicioso. E não é só no discurso que Abel tem mostrado competência. A forma como as ideias surgem em campo revelam um excelente trabalho no treino e uma ótima reflexão fora dele.

O percurso de Abel em Braga iniciou-se com dinâmicas muito semelhantes às que Paulo Fonseca havia trazido num passado recente. As preocupações com a transição defensiva impediram que a equipa se revelasse tão ofensiva como é hoje, logo no primeiro ano. Abel falou dos problemas sentidos para atacar de forma equilibrada e a necessidade de aumentar o número de jogadores por detrás do portador na bola, no sentido de melhorar a forma como a equipa controlava os momentos após a perda. A construção passou a ser feita em 3+2 ao invés do 3+1 testado inicialmente. A assimetria do seu jogo posicional não é inovadora mas foi ganhando dimensão. A saída a 3 surge com um dos laterais que fica baixo (lateral direito) e os dois centrais. À direita a largura é dada por um médio e à esquerda pelo lateral desse lado.

Quem ataca em amplitude máxima, sujeita-se a enfrentar, de forma constante, linhas defensivas de 5 ou 6 elementos. É o que tem acontecido ao Braga. Foi portanto, de forma natural, que observei o aumentar de soluções ofensivas face a este problema. Na construção, o posicionamento de um dos médios foi alterado e a equipa é hoje, capaz de iniciar os seus ataques em 3+2 ou 3+1.

Um dos médios centro alterna os terrenos que pisa: ora mais baixo em apoio, servindo de parede para ajudar nas ligações entre centrais, ora mais alto, entrelinhas, aumentando o número de soluções presentes nas costas da linha média. No vídeo, percebemos o que guia a ação desse médio, que tem atuado sobre a meia direita.

Com este upgrade, o Braga é hoje capaz de colocar 5/6 jogadores em cima da última linha contrária. Constrói com menos ou mais dependendo da necessidade. É um conjunto com vontade de ter bola, intencionalidade na forma como a faz andar para mover o bloco adversário e muita assertividade na hora de escolher os caminhos a percorrer. O trabalho está feito ao pormenor, ainda que longe de estar completo. Ainda assim, facilmente se percebe que não “é só na ambição que o Braga se compara aos três grandes.”

Sobre Bruno Fidalgo 83 artigos
Licenciado em Ciências do Desporto. Criador e autor do blog Código Futebolístico. À função de treinador tem aliado alguns trabalhos como observador.

5 Comentários

  1. Enquanto certas coisas extra-futebol jogado continuarem a ter mais peso que tudo o resto, muito dificilmente o Braga será campeão. Atenção que eu digo “muito dificilmente”, não “nunca”.
    E para quem já vier com a conversa do costume: reparem que eu digo “extra-futebol jogado”. Porque tudo o que gravita à volta disso, infelizmente, (também) é/faz parte do futebol.

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