“Um jogo muito táctico”

“(…) dói ver equipas que não se «ligam», que não têm uma aquisição de uns nos outros, porque o jogo é isso! Ou deve ser! Não se trata de jogar bem ou mal, trata-se de JOGAR! Ou seja, haver uma emergência que SENTIMOS COLECTIVA…”

(Marisa Gomes, 2011)

É infindável o número de vezes que ouvimos a expressão “foi um jogo muito táctico”. Desde o mais comum espectador até ao treinador da equipa de primeira liga. Na maioria das vezes a sentença carrega uma grande negatividade, pois identifica um jogo pouco entusiasmante, enfadonho, com poucas oportunidades de finalização e até mal jogado. Provavelmente entre duas equipas que, estratégicamente, aparentaram dar prioridade aos seus momentos defensivos, e não raras as vezes, a expressão avalia um jogo que terminou 0-0. Mas será este o verdadeiro sentido de “táctico”? Algo acessório no jogo, e desligado de quem joga?

Olhando para a realidade do jogo de Futebol, rapidamente compreendemos que é um jogo repleto de intencionalidades e decisões. Se num outro extremo, jogos simples, como o atirar uma moeda ao ar, ou lançar dados retiram ao jogador praticamente toda a decisão sobre o resultado que obtém, por outro lado, jogos complexos como são o caso dos desportos colectivos, remetem quem joga, para um plano em que a sua acção torna-se decisiva no desfecho dos mesmos. Esta acção, ou comportamentos, manifestam-se em campo através de posicionamentos, movimentos e execuções, que resultam das decisões dos jogadores, influenciados por uma intenção colectiva definida pelo treinador. O disruptivo trabalho de Friedrich Mahlo no início da década de 60, publicado na sua obra “O acto táctico no jogo”, veio, pela primeira vez de forma mais profunda, provocar a reflexão sobre estas questões e colocar em causa o que é verdadeiramente nuclear nos jogos desportivos coletivos: a decisão. Decisão esta, que emerge muitas vezes da esfera do subconsciente, mas em muitos outros momentos é tomada de forma consciente, e resultante de uma cultura adquirida em vivências anteriores. O treinador português (Paulo Fonseca, 2016) confessa mesmo que “com toda a honestidade, a exigência de Jorge Jesus fez-me pensar no que eu nunca tinha pensado. Até esse momento eu raramente pensava o jogo, apenas o executava. E eu comecei a pensá-lo. Até esse momento eu pouco sabia o que era a minha tarefa enquanto Defesa-Central e comecei-me a apaixonar pelo treino, pelas questões tácticas”.

Estas ideias são hoje comumente aceites e difundidas, no entanto não o eram “ainda” há cerca de 15 anos atrás, principalmente no contexto específico do Futebol. Actualmente, o processo de decisão, ou seja o táctico, tornou-se vital na cabeça dos melhores treinadores. Um processo intencional de resolução de problemas, uma manifestação de inteligência específica do jogo de futebol. Que perante um jogo que é colectivo, se torna na larga maioria das situações, um processo colectivo. Este é o nosso entendimento de táctica. De acordo com a (Wikipédia, 2018), a “inteligência em sido definida popularmente e ao longo da história de muitas formas diferentes, tais como em termos da capacidade de alguém/algo para lógica, abstração, memorização, compreensão, autoconhecimento, comunicação, aprendizagem, controlo emocional, planeamento e resolução de problemas”. O website (Dreamfeel, 2012) expõe ainda que para o investigador Howard Gardner a inteligência é a capacidade de resolver problemas ou de elaborar produtos que sejam valorizados em um ou mais ambientes culturais ou comunitários”. Por outro lado, a autora (Sofia, 2010) explica que a inteligência manifesta-se na “capacidade de adaptação a situações novas e resolução de problemas, capacidade de pensar abstractamente e capacidade aprender. Estas três capacidades são indissociáveis, complementares, nenhuma delas pode ser analisada de forma independente. Estão interligadas, constituindo diferentes tipos de inteligência. A inteligência é um sistema complexo“.

Deste modo, o contexto específico dos desportos colectivos, solicitará igualmente uma complexa, mas específica manifestação de inteligência. Sendo complexa, ela envolverá outras formas de inteligência, sendo a inteligência emocional um excelente exemplo. Mas tendo em conta o contexto altamente decisional do jogo, faz então sentido falar-se em inteligência táctica. O autor (Garganta, 1997), citado por (Cardoso, 2006), refere que “o Futebol deverá ter como núcleo director a dimensão Táctica do jogo porque é nela e através dela que se consubstanciam os comportamentos que ocorrem durante uma partida”. Cardoso complementa ainda, sustentando que “a dimensão Táctica é causadora de comportamentos e é por estes que o jogo se desenvolve. Nesse sentido, a dimensão Táctica condiciona de uma forma importante a prestação dos jogadores e das equipas. Ainda como salienta (Guilherme Oliveira, 2004) devemos entender por dimensão Táctica o resultado da interacção entre as diferentes dimensões. Se para corresponder tacticamente tenho de estar no sítio certo, no momento certo (implica movimento), com a capacidade para responder (tecnicamente) dentro de uma intenção colectiva então a dimensão Táctica por si só não existe. Ela existe pela interacção das outras dimensões”. O autor (Guilherme Oliveira, 2004), citado por (Cardoso, 2006), explica também que o Táctico “é o elo de ligação que dá sentido e sentimento ao jogo, promovendo uma Especificidade de jogo, uma vez que o jogo é muito mais que um somatório de ocorrências, é um enredo que se pretende criado dessas ocorrências, que, em consequência, promove a criação e o desenvolvimento de conhecimentos colectivos e individuais que lhe são próprios e que vão permitir a melhoria qualitativa de jogo, colectiva e individual”. O professor (Frade, 1998), citado por (Cardoso, 2006) explica que “o táctico não é físico, não é técnico, não é psicológico, não é estratégico, mas precisa dos quatro para se manifestar, ou seja, quando se diz que não se divide tem-se consciência de que o crescimento táctico, tendo em conta a proposta de jogo a que se aspira, ao realizar-se ao operacionalizar-se, vai implicar alterações ao nível técnico, isto é, há que ter consciência que o táctico tem a ver com a proposta de jogo que se pretende, mas não é um táctico abstracto”.

A Supradimensão Táctica surge da interacção entre as diferentes dimensões do rendimento.
 

Este entendimento… complexo… de táctica, leva-nos então a rejeitar novos dualismos, resultantes, uma vez mais, do pensamento analítico enraizado na nossa cultura. São exemplos, do mais sintético para o mais real, a táctica apenas como a estrutura posicional da equipa em jogo, ou como referimos atrás, a táctica como um projecto de um jogo defensivo e fechado, por outro lado, a táctica como um conjunto de regras e condicionantes comportamentais que amarram o jogador e lhe retiram liberdade, individualidade, criatividade e inteligência no jogo, ou ainda, a táctica separada do homem, consubstanciada no “homem está antes da tática” como o professor (Manuel Sérgio, 2014) defendeu. Neste último caso, não é a fundamentação que está em causa. É a conclusão. Não nos restam dúvidas que o homem é a condição máxima em qualquer uma das suas actividades. Concordando com Manuel Sérgio, “se não compreender as mulheres e os homens que saltam e chutam e fintam, não compreenderei forçosamente os saltos, os chutos e as fintas”. Acrescentamos que se também não compreendermos o que é de facto o Táctico, também não compreenderemos as mulheres e homens que… jogam. Foi o que sustentámos recentemente pela perspectiva dos valores humanos: o “jogar” expõe e cultiva valores. Na visão complexa de táctica que Vítor Frade sustenta, se a “supradimensão” táctica não existe só, emergindo da interacção das demais dimensões e criando simultaneamente expressões e adaptações nas mesmas, então… o táctico é o todo comportamental do homem em jogo. Portanto… o táctico é o homem que joga. O táctico não existe sem o homem que joga, como o homem, a partir do momento que joga, se torna… táctico. Recordando o nosso entendimento… o táctico é um processo intencional de resolução de problemas, uma manifestação de inteligência específica do jogo de futebol.

Portanto, não há jogos muito ou pouco tácticos. Se é jogo… o táctico… a decisão… o comportamento, estarão sempre lá. E se a expressão táctica de uma equipa, envolverá “uma proposta de jogo a que se aspira”, o que poderá estar em discussão será a qualidade de cada proposta, tendo em conta as características do jogo que se disputa. O que nos remete para o decisivo trinómio estética-eficácia-eficiência. Expressão táctica que pode ainda ser entusiasmante ou não, se tentarmos isolar a perspectiva estética, porém, neste caso temos que também ter em conta a relatividade desta avaliação perante a cultura e o sentido estético de cada indivíduo que observa o jogo.

Portanto, o táctico por si só é neutro. Pode ser bom ou mau tendo em conta as ideias dão “forma” aos comportamentos da equipa em jogo. Como (Amieiro, 2009) refere, o Táctico é o fio invisível que faz emergir aquilo que reconhecemos como traços marcantes do jogar de uma equipa“.

O Futebol, deve ser entendido como aquilo que realmente é: um sistema complexo. Nesta perspectiva, segundo (Tobar, 2018), “Bertrand & Guillemet (1994) para além de apontarem um sistema como um todo dinâmico constituído por elementos que se relacionam e interagem entre si e com o meio envolvente; são contundentes ao afirmarem que os sistemas revelam um conjunto de pressupostos que os caracterizam, que são: abertura, complexidade, finalidade, tratamento, totalidade, organização, fluxo e equilíbrio”. Destas características, os mesmos autores explicam que a totalidade “significa que um sistema é mais do que a soma das suas partes (sinergia), e isso também implica que os sistemas tenham as suas próprias propriedades, que em virtude das interações, são diferentes das dos seus componentes vistos de maneira isolada”. Assim, o táctico emerge como o tal “mais do que a soma das partes” e a expressão da especificidade do Futebol. Nesta lógica, conceitos como forma… táctica, velocidade… táctica, intensidade… táctica, volume… táctico, etc., irão também, consequentemente emergir a partir daí.

Deste modo a questão não está entre uma eventual dicotomia entre um jogo táctico e outro “bonito”. A questão estará… o que será um jogo mau e outro bom. Ou mais precisamente, um jogo tacticamente mau, e um jogo tacticamente bom.

“Táctica para mim sem talento, sem beleza, não existe. O táctico para mim não tem que ser aquele táctico fechado, aquela coisa automatizada.”

(Vítor Pereira, 2016)

Bibliografia

Sobre Ricardo Ferreira 47 artigos
Apaixonado pelo jogo desde a infância, foi o professor Francisco Silveira Ramos que lhe transmitiu o mesmo sentimento pelo treino. Como praticante marcaram-no as experiências no futebol de rua. No jogo formal, as passagens pelo Torreense no Futebol, e no Futsal pelo Ereira e Benfica e Paulenses. Teve experiências como treinador e coordenador na Academia de Futsal de Torres Vedras e Paulenses (Futsal), em simultâneo, durante três anos. No Torreense durante seis anos, depois uma época no CDA, duas no Sacavenense e outras duas na Academia Sporting de Torres Vedras. Foi também, durante seis anos, coordenador de zona no recrutamento do Futebol de Formação e Profissional do Sporting Clube de Portugal. Posteriormente trabalhou dois anos como Coordenador Técnico no Futebol de Formação do Sport Lisboa e Benfica. No seu último trabalho, de regresso ao Sport Clube União Torreense, acumulou a liderança dos Sub19 e funções técnicas na equipa senior, equipas nas quais se sagrou Campeão Nacional na primeira edição da Liga 3, acumulando, no mesmo ano, mais duas subidas de divisão, à Segunda Liga e à Primeira Divisão Nacional de Sub19, totalizando sete promoções ao longo de toda a carreira. Foi co-autor do livro "O Efeito Lage" e é fundador do projecto www.sabersobreosabertreinar.pt.

4 Comentários

  1. E um post interessante sobre a complexidade que envolve uma decisao mas nao entende a ligaçao com a tactica do futebol em que precisamente as tacticas dos jogadores sao de uma fluidez suave.
    Nao entende porque se usa de um vocabulario cientifico a uma arte, uma gramàtica que esquematiza a uma poesia da liberdade. A gramaria da literatura nao usa a mesma que aquela da musica.
    Os meus comentarios estao muitas vezes em contraponto dos post publicados mas nunca com uma vontade deliberada e nem o gosto de contrariar. Nao tenho a mesma visao nem a mesma teoria sobre o futebol e vou tentar aqui longamente esclarecer as minhas verdades sobre o futebol e explicar as razoes da minha discordancia com a ideologia portuguesa do futebol que se refleta em muitos post do LE.

    O futebol é a conservaçao maxima da bola dentro dum espaço movente que se retracta. O centro de gravidade da zona da bola fica no meio . O vencedor é aquele que abre os espaços do meio para conseguiar criar, nessa inercia, os fluxos verticais. O meio aqui referido é um territorio : é o centro do terreno na horizontalidade e na verticalidade. O meio é o cerebro do jogo.
    O meio é também o momento crucial da jogada do futebol como no xadrez. No futebol é a parte divina do futebol ; a abertura e a finalisaçao sao apenas o pretexto para jogar aquela «preciosidade do meio » . Em verdade, a abertura serve a condicionar como se jogarà no meio e a finalisaçao é o fruto desse trabalho.
    No xadrez é o momento das belas tacticas do raciocinio. O meio no futebol é dono dos jogadores e das suas tacticas.
    O segredo é o seguinte para ganhar no futebol: respeitar a lei do meio. E uma formula simples, sim, mas a equaçao para consegui-lo é quase indecifravél e dificil de conseguir. Os jogadores com um instinto do futebol no sangue é que conseguem aproximar-se desse Mistério.

    Mas como nos ultimos anos, o segredo da alquimia do futebol foi esquecido em Portugal?

    Num comentario recente nao publicado aqui, escrevia que em Portugal nasceu na universidade, derivado duma escola de pensamento, uma nova metodologia de treino, a periodisaçao tactica, uma ideologia do jogo algo diferente.
    A periodisaçao tactica nasceu de duas ideias filosoficas :
    – Transcendente : o principio da ideia do jogo do treinador é a unidade primeira e transcendental da qual decorre uma imanencia nos principios inferiores do treino. Essa nova metodologia quer também ligar varias areas ( tecnicas, mentais, fisiologicas, psicologicas, sociologicas, cognitivas, sistemicas, cibernéticas e tudo o que houver a mastigar) sem separà-las da tactica do jogo e tendo como unidade primeira, a tal identidade do jogo do treinador.
    – Imanente: a segunda ideia filosofica é de contrariar o pensamento mecanico do Descartes que estuda e analisa o fragmento como um objecto separado; a nova ideia é de pensar o mesmo objecto dentro dum sistema. O todo é mais que a soma das partes e por causa disso, estuda-se a relaçao entres as partes no seu todo ; é a tal complexidade.
    O treinador ja nao divide as sessoes de treino para trabalhar de maneira individual e separada uma componente fisica, tactica, mental…

    Alguns me responderao que nao é bem assim mas tal é a origem primeira dessa metodologia ; a teoria universitaria é que preferiu rebater-se num certo esoterismo que serve de bom pretexto para nao explicitar bem as coisas e facilitar a pràtica : « é isto e nao é isto » « a complexidade nao se pode resumir numa formula »…

    A ideia inovadora atravessou o espirito de certos treinadores que viram aqui uma maneira de influençar as tacticas do jogo introduzindo o conceito de modelo de jogo. Esses, ao contrario dos universitàrios, tiveram que chamar um gato a um gato. Para trabalhar e ligar todas as areas, tiveram que definir a especifidade do futebol. Claro, a teoria universitaria nao o faz porque ela quer ficar na sua ideia de complexidade e nao gosta de separar. Mas enfim, o treinador vive na vida real e mesmo se quadrilha os momentos do jogo, ele vai guardar na mente aquela ideia de nao separar os trabalhos fisicos, tecnicos, mentais e tacticos nas parcelas definidas e também de pensar ligar as fases de jogo entre eles.

    Os treinadores vao ser obrigados a usar o bisturi para transposar a teoria ao futebol( e nao a qualquer desporto como o é a teoria inicial), e està aqui uma parte interessante do raciocinio daquela nova ideologia : Como aqueles treinadores ( Carlos Queiroz e Jesualdo Ferreira jà tinham iniciado o caminho a seguir) vao modelisar o jogo e repensar as fases de jogo?
    Em primeiro, eles vao determinar, num primeiro tempo, o ser ( bola/sem bola) e o estar ( caos/ordem) .
    Quando se juntam as duas oposiçoes, define-se as quatro fases do futebol segunda esta teoria :
    1/ organisaçao ofensiva ( ordem/ bola)
    2/a transiçao ofensiva ( caos/bola)
    3/ organisaçao defensiva ( ordem/sem bola)
    4/ a transiçao defensiva ( caos/sem bola)

    A cada uma das fases, acrescenta-se os três momentos do jogo(abertura/meio/finalisaçao). Os momentos de jogo estao assim divididos consoante a natureza da jogada ( ofensiva/defensiva) e o movimento(lento/rapido) . Existem 12 estaçoes ou fases de jogo.
    Acho que o raciocinio de dividir assim o futebol provém da matematica mas com uma certa falsidade : esqueceram-se da geometria do terreno do jogo e também da fisica nao pensando no centro de gravidade do futebol. Eles extrairam dados que transformaram numa fractal e baseando-se na teoria do caos, viram as zonas de ordem/caos na parte ofensiva e defensiva. O que é que faz o sistemista ? : ele modelisa baseando-se nesta fractal.
    Claro, nestas novas parcelas do jogo, inculca-se mais facilmente ao jogador maneiras de agir. Primeiro, o jogador identifica a micro-fase e o jogador reproduz o tipo de jogada treinado para esta micro-fase. Para consegui-lo durante o jogo, o treinador tem que reproduzir no treino todas as micro-fases num jogo (uma maneira de quadrilhar as situaçoes possiveis) e as maneiras de responder a cada uma delas.

    Para ser eficaz, o meu jogo tem que ser sempre igual e haver um principio geral de jogo porque senao, a equipa nao poderà reproduzir as micro-fases da mesma maneira. Esse principio é a identidade e se ela for a posse de bola, vou trabalhar todos as micro-fases para manter a superioridade posicional com uma organisaçao ofensiva alta e uma transiçao defensiva agressiva. Exemplo : o jogador com bola na organisaçao ofensiva vai seguir na direçcao do primeiro rival para o obrigar a escolher entre ir ao engonço da bola ou ficar na marcaçao do colega, sempre com a ideia de iludir o adversario na minha intençao e seguir a bola no espaço vazio que se liberta. Se o treinador tem uma identidade de jogo veloz, a organisaçao defensiva serà mais agressiva e uma transiçao ofensiva vertical. Exemplo : na recuperaçao da bola, vou pedir movimentos verticais a certos jogadores para dar profundidade e movimentos de apoio a outros consoante a zona da bola e à tal micro-fase.

    A grande particularidade da periodisaçao tactica é nao deixar uma total mecanizaçao do jogo ; ela nao dà um kit com o modelo de jogo para que todos jogam sempre da mesma maneira. A metodologia quere também permitir ao jogador identificar-se ao principio de jogo e de propôr durante o treino as suas soluçoes individuais. Cada jogador é diferente na sua tecnica, no fisico,no mental… E por isso, a identidade do jogar é traduzido no treino de varias maneiras consoantes os jogadores. E a parte mais interessante dessa metodologia porque ela vai trabalhar a tactica do jogador em vez da execucaçao tecnica e ela vao contextualisar o jogo no treino para ajudar o jogador a tomar a melhor decisao numa finalidade global.
    Esta metodologia permite de sincronizar as varias açcoes dos jogadores para ordenar depressa o caos do futebol e de controlar o mais possivel a aleatoriedade.
    Quando os primeiros treinadores apareceram, o futebol nao era muito modelado e quando essa ideia foi agregado a outros modeladores do jogo ( Guardiola em chefia da escola Cruyff e sul americana acrescentado à estratefia italiana) a revoluçao foi tal que demorou-se anos para o futebol voltar a ser equilibrio com a lei do meio a ser de novo a natura primeira do futebol.

    A lenda e o mito da periodisaçao tactica começaram a aparecer porque beneficiou do sucesso do Mourinho, homem inteligente que sabe muito dos homens, que beneficiou na sua educaçao dessas ideias na sua pratica do treino pelos menos na vertente psicologica e num certo modelar do jogo (posse de bola no Porto, ataques rapidos no Chelsea…) e da aura do Guardiola que nao tem nada a ver com essa metodologia.

    Mas quais sao os verdadeiros herdeiros?
    A teoria deixa a liberdade ao treinador, nao se pode falar em verdadeiros herdeiros mas a maioria dos treinadores portugueses ficaram influençados de uma maneira ou de uma outra nesta escola de pensamento.
    O que é certo é que os treinadores portugueses que basearam em exclusivo a metodologia do treino nesta teoria jà nao estao tanto na moda e tendem a desaparecer (Mourinho/Rui Faria, Vitor Pereira, Carlos Carvalhal, Miguel Cardoso/Jorge Maciel, Marco Silva, Luis Castro, Paulo Fonseca, …)

    Por que razao ?
    Eles tiveram sucesso um certo tempo graças ao atraso nas metodologias de treino e da organisaçao do jogo. Agora, que todas as equipas recuperaram o atraso, eles tendem a desaparecer por causa de um defeito maior: nao entender as especifidades do futebol.
    A escola portuguesa de pensamento é de envolver muitas areas de conhecimentos ao futebol mas esses teoristas acabaram por desnaturar o futebol. Eles consideram o futebol como uma ciencia humana enquanto que, antes de tudo, o futebol é uma arte.
    Os seus entendimentos sobre o jogo sao também muitas vezes incoerentes porque eles pensam o futebol numa visao sistémica com uma falsa oposiçao organisaçao/transiçao que nao respeita a lei dos momentos de jogo e por via de consequencia a lei do meio.

  2. Mas antes de tudo, como se define o meio ?
    O meio é o momento da criaçao e a parte mais crucial do jogo porque vence quem reina no meio. A resposta defensiva é de reduzir ao maximo os espaços neste momento e por isso, é a parte do jogo mais povoada. E o momento mais vivo do futebol porque està sempre em ebuliçao. Todos os jogadores (excepto o guarda redes que por enquanto so joga na abertura) participam naquele momento do jogo. A abertura é somente o pretexto para jogar no meio ; claro que o tipo de abertura condiciona a minha entrada no meio, e as posturas ofensivas ou defensivas verificam-se desde a abertura. Quanto à finalisaçao, é o fruto do meio e serve a saborear a criatividade do meio. Mais o meio é criativo, mais a finalisaçao é facil.
    Para vencer é preciso manter no meio o seu equilibrio defensivo conseguindo desequilibrar aquele do adversario.
    Para jogar no meio, hà duas maneiras: depois duma abertura ou depois duma perda de bola adversa no meio.
    E desta visao, estamos perto das noçoes organisaçao/transiçao dos nossos amigos portugueses mas portanto bem longe porque sao duas noçoes erradas por duas razoes :
    1/ porque eles falam duma maneira de jogar global em vez da maneira de abordar os três momentos das jogadas ; o meio fica a ser o sub-momento dessas noçoes e nao o momento mais importante do futebol. Eles nao definem em nada a ideia do meio que predomina o futebol. Eu relembro que para os nossos amigos tudo està ligado e eles nao querem estudar o meio separando dos outros momentos e nem hierarquizar como um vulgar Descartes, inimigo imaginario do Frade. Quem nao entende o momento crucial do meio, nao entende a seiva do futebol.
    2/ porque a transiçao significa de passar da nossa jogada à resposta da jogada adversa e nao se pode opor à ideia da organisaçao; imagino que a ideia genial para os nossos amigos era a oposiçao ordem/caos e pensar que hà sempre espaços na transiçao seja para atacar ou seja para colmatar recompondo as linhas e e fazendo campo pequeno mas a transiçao nao é obrigatoriamente caos e até pode haver bem poucos espaços na mudança da possessao de bola.

    Voltando à conversa da maneira de enfrentar o meio (abertura/recuperaçao de bola no meio), eu falaria de estrategia global para evocar o tipo de abordagem privilegiada : aqueles que favorecem a abertura (Guardiola), aqueles que trabalham mais a recuperaçao da bola ( Simeone) e os pragmaticos consoante o adversario ( Ancelotti).
    Estamos longe das noçoes de organisaçao/ transiçao ofensiva porque o meio condiciona a minha ideia ofensiva e também defensiva. Ideia que serà refletido na estrategia e no modelo.

    E falando de modelo, a escola portuguesa que é sistemista também vai modelisar até na exageraçao. Eles vao modelisar todas as accoes de jogo com a ideia da transiçao/organisaçao. Por exemplo, os alinhamentos defensivos em organisaçao vai ser de encurtar o espaço entre as três linhas e eles vao inserir essa estrategia defensiva zonal na sua ideia de modelo global. Uma das qualidades é de organisar bem os comportamentos individuais dentro de uma ideia coletiva. Um dos defeitos é de confundir estrategia e modelo/tactica; nao se vê quando estamos numa liga com equipas algo desorganisadas e com poucos jogadores criativos. Outro dos defeitos do jogo modelado é de ser visivél e previsivél para o adversario que pode facilmente aplicar a estrategia adequada para anular as jogadas modeladas. Claro, o modelar do jogar nao é unicamente a propriedade da periodizaçao tactica mas nunca foi tao forte e basta lembrar-se do slogan: “jogo como eu treino”. Em verdade, a maior parte da incoerencia das suas modelisaçoes globais vem daquela mania de dividir o futebol em organisaçao/transiçao e de nao respeitar a lei do principal momento do jogo: o meio. O meio, como jà dito, é o momento da criaçao e claro, a criaçao nao se modeliza mesmo com a variabilidade de modelos. Antes de continuar, relembro para nao haver confusao que o modelo devia ser a organisaçao com bola ao contrario da estrategia que é organisaçao sem bola.

    O momento do jogo mais modelado é a abertura porque ela requer segurança e nao criaçao. E entao nao se modela o meio ? Sim, claro senao os jogadores seriam perdidos neste territorio e eles tem preciso de um mapa ; um modelo que serve de estrutura e que garante uma estabilidade defensiva. Atençao que a estrutura tem que ser movel e pouco rigido para nao inibir a criatividade.
    Podemos fazer uma analogia com a musica e comparar o modelo com a secçao ritmica. E aqueles que vao tocar a melodia sao os jogadores, os verdadeiros criadores do espaço. Podemos visualisar o espaço como um som. A secçao ritmica é assim a modelisaçao , a entrada à jogada do meio antes de esperar os melodistas que vao compôr em cima deste ritmo. Se pensarmos bem, o modelo é a ciencia de bem modular. Os treinadores portugueses trabalham somente a secçao ritmica com jogadores a fazer as escalas memorizados durante o treino; e um jogador que faz as escalas, nao sabe improvisar nem compôr. Là voltaremos mais tarde às equipas desses treinadores.

    Como os jogadores-melodistas criam o espaço?
    Em primeiro, com a finta que permite ganhar o espaço e ja fiz um longo comentario falando disso; ela nao é a tecnica e cria-se no presente do jogo, e por isso é sempre instantânea; ela esconde-se e nunca se declara antes. Faziamos uma analogia à musica mas aqui a finta é uma dança que tenta escapar ao corte dos espaços para sobreviver na posse da bola.
    Em segunda, na visualisaçao da futura abertura de espaços e o o jogador-melodista é o compositor do som/espaço. Sem o fora de jogo, o espaço seria tuda em frente das ultimas linhas e a melodia seria sempre a mesma.
    Nesta ordem de ideia e de analogia musical, o melodista nao pode estar sozinho com a secçao ritmica e mesmo se compoe a linha melodica principal, tem que haver o acompanhamento de outros jogadores. O melodista muda sempre na jogada porque é aquele que tem a bola e os acompanhamentos que se agregam à melodia principal sao aqueles jogadores que propoem o espaço jogavel. Temos também os grandes solistas que conseguem criar espaços sem muitos apoios. O mais dificil é de encontrar a harmonia que é a organisaçao dos melodistas e dos « acompanhantes ». Se o modelo/secçao ritmica é trabalhado pelo treinador, a harmonia pode ser organisado pelo treinador. O maior harmonista da historia do futebol chama-se Guardiola. Ao contrario da escola portuguesa, o Guardiola conhece a lei do meio e ele quis dominar totalmente aquele momento do jogo ; ele juntou dos melhores melodistas, o melhor solista e conseguiu uma sinfonia total. O seu segredo nao foi a posse de bola maxima mas a criatividade maxima no mais tempo possivél. Claro, a lei do meio tem os limites da estrategia e quando baixaram-se as linhas adversas, que o territorio do meio aproximou-se de forma constante da grande area sem centro de gravidade e com menos espaços de profundidade, as melodias (lembram-se, um som é um espaço) foram mais raras. Ele perdeu o maior solista do futebol mas a sua inteligencia permitiu que ele repensasse a sua sinfonia total : recuar o jogo criado no centro do terreno para abrir os espaços nas alas, essas que vao jogar proxima da grande area. Nas alas, eles pôs os fintadores da linha que jogam a melodia nos meios espaços entre o centro e ala, e como a profundidade do espaço foi cortado, o Guardiola vai mandar jogar no espaço horizontal com os cruzamentos ; os cruzamentos sao passes horizontais, e sempre fizeram parte do momento da jogada crucial, o meio. E jà vemos um ala sem pés trocados ( Sané e às vezes o Sterling) no sistema do Guardiola.
    Se o Guardiola modelou a harmonia dos seus melodistas e queria a sinfonia total do jogo, outros treinadores preferem trabalhar o « compasso » : basta lembra-se duma equipa actual que tem um treinador que fala em rock ou heavy metal e que tem na sua equipa uma banda rock formado dum trio que joga a cem a hora. Alguns me dirao que esses estao na frente e jogam na finalisaçao. Esses estao enganados e nao conhecem o meio. Dos nossos dias, os avançados jogam na linha do meio e da finalisaçao, e o nosso trio de Liverpool alterna no ritmo frenetico nesses dois momentos. A finalisaçao é um momento muito fugaz e nasce quando existe a possibilidade de alvejar a baliza.
    Hà também treinadores que trabalham muito a tonalidade para que o jogar seja justo mas deixando o improviso total aos solistas. Jazz ? Sim, isso mesmo. O tal Real do Zidane ? Sim.

    E como modelaram os treinadores portugueses « que nao entendem o meio » ? :
    Alguns principiantes do modelo como o Mourinho tiveram sucesso. Ele moldou os diferentes jogares das suas equipas graças aos modelo de treino integrado ao qual ele acrescentava a estrategia do jogo especifico. Ele continuou o sucesso graças a uma grande ciencia da estrategia e da psicologia humana para aceitar esses condicionamentos desse jogar mesmo se por isso, ele limitou a criatividade de alguns dos seus jogadores e que as suas equipas ficaram a ser conhecidos por « boring ».
    Outro que nao vem da universidade, inventou muita da estrategia defensiva e ofensiva que se vê em Portugal . Afinal a imitaçao ao JJ prove que ele teve mais influencia que toda a ideologia universitaria do jogo. Um dos seus defeitos é que como era um mestre da estrategia, ele também quis ser o mestre da tactica limitando os seus melodistas a jogadores-executantes. Como a tactica jà nao pertencia aos jogadores ou muito pouco, que os criativos foram ficados de fora, aquele treinador proclamou-se o mestra da tactica. A melodia do seu jogo ficou a ser pobre e insipida.
    Mesmo assim, esses dois foram dos melhores treinadores portugueses porque foram os melhores estrategas e quando de vez em quando souberam aliar esse talento com grandes jogadores criativos ( aimar, deco, sneijder, ozil, motta, jonas, ruiz, bruno fernandes) tiveram algum sucesso. O problema deles é que a estrategia omnipotente limitou também muitos jogadores ( bernardo silva, pogba, de bruyne, salah…)
    Aqueles que ainda sao os melhores para mim, sao aqueles que souberam integrar os melodistas no jogo ofensivo numa organisaçao inteligente e movél consoante os jogadores à disposiçao : esses sao o Leonardo Jardim e o Bruno Lage.

    E os « filhos » da periodisaçao tactica?
    Muito pouco a dizer e se eu fizesse um resumo em duas categorias: posse esteril baseado na organisaçao ofensiva sem a minima ideia da lei do meio (Paulo Fonseca, Miguel Cardoso,/Jorge Maciel…) e jogo modelado muito pobre baseado na transiçao/organisaçao (Vitor pereira, Luis Castro, Abel, SC, RV…).

    Entao mas se os treinadores portugueses sao tao maus porque hà tantos no estrangeiro ?
    Porque mesmo se eles nao entendem a alquimia do futebol, eles treinam equipas sem grandes jogadores e a organisaçao metodica é eficaz nessas equipas, seja na nossa liga e noutas menores ( a grega, ucrania,o medio oriente…) e também nas equipas fracas de ligas mais importantes. Benitez’s rule ?

    E o sucesso da formaçao portuguesa ?
    Refletem bem sobre os jogadores mais criativos do meio que temos : O Bernardo Silva foi salvo uma vez graças à transferencia prematura do Rony Lopes e renasceu com o Jardim ; o William Carvalho foi também salvo por Jardim ; o Ruben Neves nunca conseguiu vingar na nossa liga ; o Rafa passou despercebido muito tempo e o Pizzi safou-se mas escondendo muito a sua criatividade ; o Joao Felix nao vingou no Porto e foi preciso duma ajuda divina para o fazer jogar no centro.
    Esses ainda foram safos, e quando jogava na rua portuguesa, muitos criativos, fintadores nao se refletam na formaçao portuguesa que teve a inteligencia de especializar melhor os jogadores (a nossa antiga tara) mas limitou os criativos. Agora, olham para o lado a leste e vêem como nuestros hermanos formam um lote impressionante de melodistas. Nao me falam na populaçao do pais porque os criativos espanhois multiplicam-se mais que por 4! Ainda domingo, fiquei impressionado com o Luis Alberto da Lazio, e portanto banalissimo no meio de tantos criativos.

    Vou acabar com um exemplo contudente. Os universitarios portugueses gozam dum exercicio de treino tipicamente espanhol que é o toro espanhol porque, penso eu, eles nao vê nenhuma finalidade deste treino numa fase de jogo. Aqui estao eles enganados porque a essencia pura do futebol està no toro ; lembra-se do principio : o futebol é a conservaçao maxima da bola dentro dum espaço movente que se retracta…O toro é procurado para uma finalidade a outro objeto ou para si mesmo? Para si mesmo e unicamente pela beleza e arte do movimento.
    E entao, quando é que uma coisa supera tudo : se ela é procurada para si proprio ou para uma outra ? Claro, para si propria.
    Por isso, quem despreza o toro, ignora o futebol !

  3. Mas antes de tudo, como se define o meio ?
    O meio é o momento da criaçao e a parte mais crucial do jogo porque vence quem reina no meio. A resposta defensiva é de reduzir ao maximo os espaços neste momento e por isso, é a parte do jogo mais povoada. E o momento mais vivo do futebol porque està sempre em ebuliçao. Todos os jogadores (excepto o guarda redes que por enquanto so joga na abertura) participam naquele momento do jogo. A abertura é somente o pretexto para jogar no meio ; claro que o tipo de abertura condiciona a minha entrada no meio, e as posturas ofensivas ou defensivas verificam-se desde a abertura. Quanto à finalisaçao, é o fruto do meio e serve a saborear a criatividade do meio. Mais o meio é criativo, mais a finalisaçao é facil.
    Para vencer é preciso manter no meio o seu equilibrio defensivo conseguindo desequilibrar aquele do adversario.
    Para jogar no meio, hà duas maneiras: depois duma abertura ou depois duma perda de bola adversa no meio.
    E desta visao, estamos perto das noçoes organisaçao/transiçao dos nossos amigos portugueses mas portanto bem longe porque sao duas noçoes erradas por duas razoes :
    1/ porque eles falam duma maneira de jogar global em vez da maneira de abordar os três momentos das jogadas ; o meio fica a ser o sub-momento dessas noçoes e nao o momento mais importante do futebol. Eles nao definem em nada a ideia do meio que predomina o futebol. Eu relembro que para os nossos amigos tudo està ligado e eles nao querem estudar o meio separando dos outros momentos e nem hierarquizar como um vulgar Descartes, inimigo imaginario do Frade. Quem nao entende o momento crucial do meio, nao entende a seiva do futebol.
    2/ porque a transiçao significa de passar da nossa jogada à resposta da jogada adversa e nao se pode opor à ideia da organisaçao; imagino que a ideia genial para os nossos amigos era a oposiçao ordem/caos e pensar que hà sempre espaços na transiçao seja para atacar ou seja para colmatar recompondo as linhas e e fazendo campo pequeno mas a transiçao nao é obrigatoriamente caos e até pode haver bem poucos espaços na mudança da possessao de bola.

    Voltando à conversa da maneira de enfrentar o meio (abertura/recuperaçao de bola no meio), eu falaria de estrategia global para evocar o tipo de abordagem privilegiada : aqueles que favorecem a abertura (Guardiola), aqueles que trabalham mais a recuperaçao da bola ( Simeone) e os pragmaticos consoante o adversario ( Ancelotti).
    Estamos longe das noçoes de organisaçao/ transiçao ofensiva porque o meio condiciona a minha ideia ofensiva e também defensiva. Ideia que serà refletido na estrategia e no modelo.

    E falando de modelo, a escola portuguesa que é sistemista também vai modelisar até na exageraçao. Eles vao modelisar todas as accoes de jogo com a ideia da transiçao/organisaçao. Por exemplo, os alinhamentos defensivos em organisaçao vai ser de encurtar o espaço entre as três linhas e eles vao inserir essa estrategia defensiva zonal na sua ideia de modelo global. Uma das qualidades é de organisar bem os comportamentos individuais dentro de uma ideia coletiva. Um dos defeitos é de confundir estrategia e modelo/tactica; nao se vê quando estamos numa liga com equipas algo desorganisadas e com poucos jogadores criativos. Outro dos defeitos do jogo modelado é de ser visivél e previsivél para o adversario que pode facilmente aplicar a estrategia adequada para anular as jogadas modeladas. Claro, o modelar do jogar nao é unicamente a propriedade da periodizaçao tactica mas nunca foi tao forte e basta lembrar-se do slogan: “jogo como eu treino”. Em verdade, a maior parte da incoerencia das suas modelisaçoes globais vem daquela mania de dividir o futebol em organisaçao/transiçao e de nao respeitar a lei do principal momento do jogo: o meio. O meio, como jà dito, é o momento da criaçao e claro, a criaçao nao se modeliza mesmo com a variabilidade de modelos. Antes de continuar, relembro para nao haver confusao que o modelo devia ser a organisaçao com bola ao contrario da estrategia que é organisaçao sem bola.

    O momento do jogo mais modelado é a abertura porque ela requer segurança e nao criaçao. E entao nao se modela o meio ? Sim, claro senao os jogadores seriam perdidos neste territorio e eles tem preciso de um mapa ; um modelo que serve de estrutura e que garante uma estabilidade defensiva. Atençao que a estrutura tem que ser movel e pouco rigido para nao inibir a criatividade.
    Podemos fazer uma analogia com a musica e comparar o modelo com a secçao ritmica. E aqueles que vao tocar a melodia sao os jogadores, os verdadeiros criadores do espaço. Podemos visualisar o espaço como um som. A secçao ritmica é assim a modelisaçao , a entrada à jogada do meio antes de esperar os melodistas que vao compôr em cima deste ritmo. Se pensarmos bem, o modelo é a ciencia de bem modular. Os treinadores portugueses trabalham somente a secçao ritmica com jogadores a fazer as escalas memorizados durante o treino; e um jogador que faz as escalas, nao sabe improvisar nem compôr. Là voltaremos mais tarde às equipas desses treinadores.

    Como os jogadores-melodistas criam o espaço?
    Em primeiro, com a finta que permite ganhar o espaço e ja fiz um longo comentario falando disso; ela nao é a tecnica e cria-se no presente do jogo, e por isso é sempre instantânea; ela esconde-se e nunca se declara antes. Faziamos uma analogia à musica mas aqui a finta é uma dança que tenta escapar ao corte dos espaços para sobreviver na posse da bola.
    Em segunda, na visualisaçao da futura abertura de espaços e o o jogador-melodista é o compositor do som/espaço. Sem o fora de jogo, o espaço seria tuda em frente das ultimas linhas e a melodia seria sempre a mesma.
    Nesta ordem de ideia e de analogia musical, o melodista nao pode estar sozinho com a secçao ritmica e mesmo se compoe a linha melodica principal, tem que haver o acompanhamento de outros jogadores. O melodista muda sempre na jogada porque é aquele que tem a bola e os acompanhamentos que se agregam à melodia principal sao aqueles jogadores que propoem o espaço jogavel. Temos também os grandes solistas que conseguem criar espaços sem muitos apoios. O mais dificil é de encontrar a harmonia que é a organisaçao dos melodistas e dos « acompanhantes ». Se o modelo/secçao ritmica é trabalhado pelo treinador, a harmonia pode ser organisado pelo treinador. O maior harmonista da historia do futebol chama-se Guardiola. Ao contrario da escola portuguesa, o Guardiola conhece a lei do meio e ele quis dominar totalmente aquele momento do jogo ; ele juntou dos melhores melodistas, o melhor solista e conseguiu uma sinfonia total. O seu segredo nao foi a posse de bola maxima mas a criatividade maxima no mais tempo possivél. Claro, a lei do meio tem os limites da estrategia e quando baixaram-se as linhas adversas, que o territorio do meio aproximou-se de forma constante da grande area sem centro de gravidade e com menos espaços de profundidade, as melodias (lembram-se, um som é um espaço) foram mais raras. Ele perdeu o maior solista do futebol mas a sua inteligencia permitiu que ele repensasse a sua sinfonia total : recuar o jogo criado no centro do terreno para abrir os espaços nas alas, essas que vao jogar proxima da grande area. Nas alas, eles pôs os fintadores da linha que jogam a melodia nos meios espaços entre o centro e ala, e como a profundidade do espaço foi cortado, o Guardiola vai mandar jogar no espaço horizontal com os cruzamentos ; os cruzamentos sao passes horizontais, e sempre fizeram parte do momento da jogada crucial, o meio. E jà vemos um ala sem pés trocados ( Sané e às vezes o Sterling) no sistema do Guardiola.
    Se o Guardiola modelou a harmonia dos seus melodistas e queria a sinfonia total do jogo, outros treinadores preferem trabalhar o « compasso » : basta lembra-se duma equipa actual que tem um treinador que fala em rock ou heavy metal e que tem na sua equipa uma banda rock formado dum trio que joga a cem a hora. Alguns me dirao que esses estao na frente e jogam na finalisaçao. Esses estao enganados e nao conhecem o meio. Dos nossos dias, os avançados jogam na linha do meio e da finalisaçao, e o nosso trio de Liverpool alterna no ritmo frenetico nesses dois momentos. A finalisaçao é um momento muito fugaz e nasce quando existe a possibilidade de alvejar a baliza.
    Hà também treinadores que trabalham muito a tonalidade para que o jogar seja justo mas deixando o improviso total aos solistas. Jazz ? Sim, isso mesmo. O tal Real do Zidane ? Sim.

    E como modelaram os treinadores portugueses « que nao entendem o meio » ? :
    Alguns principiantes do modelo como o Mourinho tiveram sucesso. Ele moldou os diferentes jogares das suas equipas graças aos modelo de treino integrado ao qual ele acrescentava a estrategia do jogo especifico. Ele continuou o sucesso graças a uma grande ciencia da estrategia e da psicologia humana para aceitar esses condicionamentos desse jogar mesmo se por isso, ele limitou a criatividade de alguns dos seus jogadores e que as suas equipas ficaram a ser conhecidos por « boring ».
    Outro que nao vem da universidade, inventou muita da estrategia defensiva e ofensiva que se vê em Portugal . Afinal a imitaçao ao JJ prove que ele teve mais influencia que toda a ideologia universitaria do jogo. Um dos seus defeitos é que como era um mestre da estrategia, ele também quis ser o mestre da tactica limitando os seus melodistas a jogadores-executantes. Como a tactica jà nao pertencia aos jogadores ou muito pouco, que os criativos foram ficados de fora, aquele treinador proclamou-se o mestra da tactica. A melodia do seu jogo ficou a ser pobre e insipida.
    Mesmo assim, esses dois foram dos melhores treinadores portugueses porque foram os melhores estrategas e quando de vez em quando souberam aliar esse talento com grandes jogadores criativos ( aimar, deco, sneijder, ozil, motta, jonas, ruiz, bruno fernandes) tiveram algum sucesso. O problema deles é que a estrategia omnipotente limitou também muitos jogadores ( bernardo silva, pogba, de bruyne, salah…)
    Aqueles que ainda sao os melhores para mim, sao aqueles que souberam integrar os melodistas no jogo ofensivo numa organisaçao inteligente e movél consoante os jogadores à disposiçao : esses sao o Leonardo Jardim e o Bruno Lage.

    E os « filhos » da periodisaçao tactica?
    Muito pouco a dizer e se eu fizesse um resumo em duas categorias: posse esteril baseado na organisaçao ofensiva sem a minima ideia da lei do meio (Paulo Fonseca, Miguel Cardoso,/Jorge Maciel…) e jogo modelado muito pobre baseado na transiçao/organisaçao (Vitor pereira, Luis Castro, Abel, SC, RV…).

    Entao mas se os treinadores portugueses sao tao maus porque hà tantos no estrangeiro ?
    Porque mesmo se eles nao entendem a alquimia do futebol, eles treinam equipas sem grandes jogadores e a organisaçao metodica é eficaz nessas equipas, seja na nossa liga e noutas menores ( a grega, ucrania,o medio oriente…) e também nas equipas fracas de ligas mais importantes. Benitez’s rule ?

    E o sucesso da formaçao portuguesa ?
    Refletem bem sobre os jogadores mais criativos do meio que temos : O Bernardo Silva foi salvo uma vez graças à transferencia prematura do Rony Lopes e renasceu com o Jardim ; o William Carvalho foi também salvo por Jardim ; o Ruben Neves nunca conseguiu vingar na nossa liga ; o Rafa passou despercebido muito tempo e o Pizzi safou-se mas escondendo muito a sua criatividade ; o Joao Felix nao vingou no Porto e foi preciso duma ajuda divina para o fazer jogar no centro.
    Esses ainda foram safos, e quando jogava na rua portuguesa, muitos criativos, fintadores nao se refletam na formaçao portuguesa que teve a inteligencia de especializar melhor os jogadores (a nossa antiga tara) mas limitou os criativos. Agora, olham para o lado a leste e vêem como nuestros hermanos formam um lote impressionante de melodistas. Nao me falam na populaçao do pais porque os criativos espanhois multiplicam-se mais que por 4! Ainda domingo, fiquei impressionado com o Luis Alberto da Lazio, e portanto banalissimo no meio de tantos criativos.

  4. Vou acabar com um exemplo contudente. Os universitarios portugueses gozam dum exercicio de treino tipicamente espanhol que é o toro espanhol porque, penso eu, eles nao vê nenhuma finalidade deste treino numa fase de jogo. Aqui estao eles enganados porque a essencia pura do futebol està no toro ; lembra-se do principio : o futebol é a conservaçao maxima da bola dentro dum espaço movente que se retracta…O toro é procurado para uma finalidade a outro objeto ou para si mesmo? Para si mesmo e unicamente pela beleza e arte do movimento.
    E entao, quando é que uma coisa supera tudo : se ela é procurada para si proprio ou para uma outra ? Claro, para si propria.
    Por isso, quem despreza o toro, ignora o futebol !

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