Comportamento visual exploratório: um fator decisivo para o sucesso no futebol moderno

Na sequência de um texto neste blog sobre João Félix, “Descodificar um génio”, propomo-nos a abordar a importância do comportamento visual exploratório como contributo para a elevação do futebolista a um patamar de rendimento superior.

A utilização de informação visual está dependente da combinação do movimento ocular e da rotação da cabeça. Neste sentido, a rotação da cabeça permite a todo o momento expandir o cenário visual e, deste modo, dirigir o foco visual para diferentes áreas do contexto que inicialmente estariam inacessíveis. Por sua vez, isso permite ao jogador explorar o cenário visual de forma mais efetiva no sentido de identificar a informação mais importante para resolver uma dada situação de jogo (ex: oportunidade de explorar o espaço entretanto disponível no corredor oposto mediante variação do centro do jogo).

A evolução do jogo de futebol tem criado desafios cada vez mais exigentes ao jogador dado que o espaço cada vez mais reduzido para “jogar” e o tempo cada vez mais limitado para “decidir”, obrigam a que a inteligência e a criatividade se constituam como elementos diferenciadores no perfil de jogador. Assim, os jogadores que forem capazes de antecipar aquilo que vai acontecer no momento a seguir estarão sempre um passo à frente dos demais pois terão mais tempo para ajustar as suas ações ao momento presente e ao futuro cenário de jogo, aumentando o sucesso das suas ações.

Importa ainda notar que alguns estudos têm demonstrado que os jogadores de nível superior tendem a apresentar uma maior exploração do cenário de jogo (medida através do nº de rotações da cabeça por segundo) e que a eficácia de passe aumenta em paralelo com um aumento da frequência deste comportamento visual exploratório (Jordet, 2013).

Em síntese, ao treinador caberá planear as tarefas de treino no sentido destas estimularem comportamentos visuais exploratórios que dependam de um uso criterioso de: 1) foco visual  centrado nas variáveis informacionais de referência (ex: bola “coberta”, bola “descoberta”); 2) rotação da cabeça para expandir campo visual e integrar variáveis informacionais de  referência (ex: posição da bola e colega mais próximo da linha defensiva).

Possivelmente muitos dos treinadores já incorporam no seu processo de treino estas preocupações. Parece-nos mesmo assim oportuno colocar este tópico em discussão de forma a que se sublinhe a importância de se criarem espaços de oportunidade para a melhoria do comportamento visual exploratório como base para um maior rendimento a nível individual, grupal ou coletivo.

O sucesso pode estar já “ali”, logo após mais um varrimento do cenário visual que permita identificar a informação crítica para uma tomada de decisão mais eficaz.

Artigo redigido por:

Pedro Tiago Esteves, Diretor da Licenciatura em Desporto no Instituto Politécnico da Guarda. Treinador e investigador com diversas publicações centradas na análise do comportamento táctico no jogo e no desenvolvimento de abordagens potenciadoras do processo de treino e, por consequência, do sucesso desportivo.

2 Comentários

  1. Pedro Tiago, um bocadinho ‘off topic’ mas não podemos não deixar uma palavra pela desaparecimento de Kelly Catlin, atleta de ciclismo (pista) que morreu aos 23 anos fruto (presumo) de doença mental muito severa. Recorde-se que além de lésbica (não tem mal nenhum), Kelly assumira em diversas entrevistas o desejo de se tranformar num homem (já tem mal), proclamando não pertencer ao corpo com que nasceu. Pois bem, o resultado está à vista …

    Recordo-me há muitos anos (meados dos anos 70) o fenómeno muito idêntico de Carlos Pedro, futebolista juvenil do Benfica que tomou durante anos a fio para cima de 50 litros de doeses / injecções de estrogénio, como forma de se transformar gradualmente numa mulher para dessa forma agradar ao seu namorado, também ele jogador do Benfica, e claro, injecções patrocinadas pelos médicos do Benfica.

    Sobre os movimentos oculares e rotações da cabeça, sim, são importantes, razão pela qual invisuais teriam (por exemplo) muita dificuldade em jogar futebol.

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