Segue o líder – Maturidade e qualidade em Moreira de Cónegos

Depois de desperdiçada vantagem de dois pontos, e depois de FC Porto assumir provisoriamente a liderança da Liga NOS, a expectativa para perceber como se comportaria o Benfica no campo de uma das equipas mais interessantes da Liga era elevada.

Não poderia ter dado resposta com maior maturidade e qualidade, a equipa de Buno Lage. Uma vitória assente em vários pontos chave:

  • Qualidade táctica! Benfica muito bem preparado dentro do seu modelo habitual de posicionamentos, mas com alternativas nos seus movimentos de ataque ao espaço nas costas da defesa adversária. Preparou-se para mesmo tendo um avançado pouco profícuo a atacar profundidade, não perder essa capacidade.
  • Plano de jogo de Bruno Lage bem expresso na forma como preparou a sua equipa para não só ludibriar dificuldades dos dois jogos anteriores (em controlo e rotas ofensivas), como para contrariar um adversário muito capaz em posse;
  • Rafa e João Felix marcaram precisamente em bolas que entraram nas costas, enquanto Jonas baixou para tocar e trazer adversários, os portugueses surgiram a explorar os espaços que se abriam para que a bola pudesse passar e chegar aos seus movimentos de ruptura;
  • Duplo pivot do meio campo com um rendimento bastante elevado. É o melhor Samaris de que há memória! Tranquilo e confiante com bola, como poucas vezes antes, e muito menos imprudente nas abordagens defensivas. Gabriel roubou uma quantidade infindável de bolas no primeiro período, e com isso não só iniciou contra ataques potencialmente perigosos, como foi fazendo a equipa de Moreira de Cónegos perder conforto habitual com bola;
  • É a melhor época de Rafa com a camisola do Benfica. Tornou-se eficaz, não perdeu a capacidade que sempre teve para surgir situação vantajosa na zona de finalização, e ainda assume bola em zona de criação, driblando e servindo colegas;
  • Sem erros técnicos ou tácticos, transição defensiva dos encarnados nunca permitiu que o Moreirense encontrasse Chiquinho para acelerar transição à procura de Bilel.
  • Resposta importante quer do ponto de vista técnico, táctico, mas até emocional.

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8 Comentários

  1. Concordo!
    Excelente reação a mostrar saúde tática, física e psíquica.
    De facto interessante a procura de alternativas para a profundidade.
    De facto muita boa a regeneração de Rafa e de Samaris.

    O Bruno Lage teve até ao momento dois percalços e meio: na primeira mão com o Dínamo, com o Belenenses e na primeira parte da segunda mão com o Dínamo, onde, além dos resultados, a equipa jogou menos às vezes até mal.

    De resto, o Lage parece ser a lufada de ar fresco no futebol pt de alta competição; demonstra uma grande capacidade de retirar o sumo dos jogadores e adicionar-lhe algo. Capacidade de avaliar, reagir e adaptar com identidade.

  2. Um treinador sozinho não faz o jogo, e até pode vir a não ganhar o campeonato até porque não esteve numa parte importantíssima da época ( pré época para a definição da equipa em todos os sentidos). Mas o que está a fazer e o momento delicado em que pegou na equipa faz dele um caso muito sério de competência

  3. Sinceramente fico espantado com as apreciações ao Samaris. É para mim evidente – e aqui estamos de acordo – que o homem andava a jogar de forma horrível. Certo. Mas os jogos que tem feito estão na mesma linha do que apresentava com o JJ. Lembro-me muito bem de uma publicação onde, na altura, apontavam o Cristante como o futuro 6 do Benfica. E recordo de ter respondido Samaris, Samaris. Eu gosto do Fejsa e sempre gostei mas o Fejsa é péssimo com a bola e o Samaris está muito longe de ser péssimo com a bola. Numa equipa como o Benfica isto não é um pormenor qualquer. Só que o Samaris é daqueles – há bué deles – que dependem do que lhes pedem para fazer e em que contexto. Obviamente! Porque gajos que jogam brutalmente mesmo em modelos e ideias de jogo horríveis são apenas os génios, portanto, dois ou três camaradas por geração (às vezes nem isso). Olhem para o Rafa, cheio de problemas no cérebro mas o contexto, sobretudo os colegas mais próximos e com mais linhas de passe, e o que lhe pedem para fazer marca a diferença… O Raul Jimenez, porra, o que escreveram aqui durante anos a fio sobre o homem agora parece patético (nunca concordei com o que diziam dele, é um atleta subvalorizado, na minha opinião). O Jimenez é um jogador muito mais completo do que 99 por cento das pessoas gosta de pintar. O que diziam aqui da falta de qualidade do plantel do Benfica sempre me incomodou, juntando equipa A e equipa B são/eram inúmeras as opções para jogar o triplo do que andavam a jogar. Um plantel que está anos-luz à frente dos outros. O sr. Vitórias é que não tinha nem unhas, nem nervos para esta função. Basta lembrar o que andava a fazer ao Félix, aquele ordinário e mentecapto. Só que como para vocês, agora, não há maus treinadores portugueses, a culpa (digamos assim) passou a ser sempre da falta de qualidade dos jogadores. Só que é uma justificação perneta e facilmente desmontável.

    • Percebo o raciocínio, o que me faz pensar que o Jonas faz parte do lote restrito dos “génios” que carregou o Benfica às costas nas épocas de RV.

  4. Edson, grande…100% de acordo…este modelo do Lage, me encanta, o seu discurso, a leitura e a estratégia.
    Quem será que avalia e pensa o futebol do Benfica?…é que o Lage, também é um manifesto de incompetência a um passado recente, com um registo impressionante de erros….mas na realidade não é tema para este blog.

  5. Edson,

    nao conheço a tua paixao real pelo Pelé mas morreu, hà poucos dias, o seu irmao gemeo do ataque do Santos, o Coutinho.

    Està aqui o URL para o artigo: https://esportes.estadao.com.br/noticias/futebol,memoria-coutinho-o-pele-do-pele,70002752560

    O que eu prefiro neste artigo é a oralidade brasileira do Coutinho que refresca a lingua portuguesa e que parece viva comparada com a “linguagem” pobre dos universitarios do desporto que se refletem nos nossos jornais. Ai que tempos dos velhos artigos d’”A Bola” e que borrice dos inglecismos! Essa lingua reflete muito mais a liberdade do futebol que todas as esquematisaçoes…

    Aqui umas dicas:

    Morou com Pelé, primeiro na Vila e depois na pensão da finada dona Georgina, à rua Euclides da Cunha. Dividiam o mesmo quarto. A quem pensa que no silêncio da noite eles tramavam grandes jogadas para o dia seguinte, Coutinho faz uma confidência. “O Pelé dormia muito, não dava tempo de conversar. A gente não combinava nada. O Pelé tinha sonambulismo, ele levantava de madrugada e ficava gritando é gol, é gol. Tinha que ser o rei mesmo, até sonhava com gol. Nasceu pra isso.”

    A tabelinha, que os notabilizou, também veio sem ajuste prévio. Não foi de caso pensado, afirma Coutinho. “Quando o Pelé jogava com o Pagão era assim, o Pelé na frente e o Pagão vinha de trás. Quando eu cheguei, o Pelé é quem vinha trazendo a bola, olhava prá mim e eu sabia o que ele ia fazer. Era coisa de jogadores inteligentes.” Jogavam tão harmoniosamente, e até se pareciam dentro daquele uniforme branco, que os oponentes muitas vezes se perdiam e se confundiam – cercavam Coutinho imaginando que ele era Pelé.

    O porte, imprópio para um homem de área, não o impediu de marcar muitos gols de cabeça – mesmo quando enfrentava aqueles becões do seu tempo, que aliavam raça à categoria. “Cansei de fazer gol de cabeça”, ele diz. Conta mais de 100. “É questão de saber sair do chão, no momento certo. Não precisa de muita altura, tem que ter impulsão. Subi com o Carabina, o Aldemar, o Djalma Dias, o Bellini, o falecido Mauro, o falecido Ditão. Ganhei deles muitas vezes.”

    Sua arma era o oportunismo. Ficava ali à espreita, perto da pequena área, tocaiando o goleiro. Impiedoso na hora de finalizar. Chutava com a precisão de um perito, o tiro calculado, indefensável no mais das vezes. “Eu jogava com um objetivo. Sabia como dominar, como prender a bola e como girar. Ninguém nota a movimentação do goleiro. Tem que olhar o movimento de corpo do goleiro. Ele não faz que vai para um lado? Prá ele fazer isso ele muda o pé. No que ele muda o pé eu toco.”

    Arrematava com os dois pés, a mesma pontaria e sutileza com o direito e o esquerdo. Também fazia gol bonito. “Fiz grandes gols.” Destaca o segundo contra o Benfica, no primeiro duelo da final pelo mundial interclubes, em 1962, para um Maracanã tomado por 100 mil. O Santos ganhou de 3 a 2 do time que tinha Eusébio e Coluna e que havia desbancado o Real de Di Stéfano e Puskas. “Fui dando chapéu, dei 4 chapéus até ficar na cara do goleiro e aí eu bati.”

    Muito depois, em 1992, quando foi dirigir o Bonsucesso do Rio, viu-se questionado sobre gols de boa feitura em sua carreira. Aproveitou para reivindicar honraria igual à que deram a Pelé por aquele tento inesquecível contra o Flu, em março de 1961: “Eu também fiz um gol de placa, quero minha placa no Maracanã”, protestou Coutinho. “Gol espetacular o Pelé fazia todo dia, driblava 5 ou 6 todo jogo e fazia gol. Fez isso a vida toda. Mas eu também fiz gol assim, é só passar o teipe do segundo contra o Benfica.”

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