(J)amor por Bruno

Confundir o resultado com a exibição, ou com o feito que o resultado cria, é comum nas análises. E por isso será normal que o tom de quem questiona, questionou ou questionará, Marcel Keizer – depois da vitória sobre o Benfica e a consequente passagem à Final da Taça de Portugal – seja bem diferente do tom com que se questionará Bruno Lage que, recorde-se, havia criado na Luz com o seu Benfica uma vantagem que, em Alvalade, não conseguiu segurar. E não conseguiu porque a sua equipa andou, nesta 2.ª mão das meias-finais, sempre mais longe das zonas de decisão do que aquilo que nos habituou desde que Lage pegou no comando das águias. Ora, dizemos “andou mais longe do que aquilo que nos habituou” mas também poderemos acrescentar que andando também bastante longe do seu meio-campo ofensivo na maior parte do tempo, a equipa de Bruno Lage viu o Sporting bem mais perto de Svilar do que certamente os seus adeptos esperariam. E daqui, de um Sporting mais autoritário (mas nem por isso com muita qualidade em organização ofensiva), e de um Benfica mais expectante, pode nascer a ideia de uma exibição leonina de encher o olho e o campo todo. Mas, se há algumas coisas a elogiar, elas não passam pelas rotas que Marcel Keizer definiu para chegar ao(s) golo(s), mas sim pela facilidade de remate de um sniper de classe mundial, que consegue fazer esquecer que o Sporting mesmo com muita bola não é muito mais do que a ida constante ao corredor lateral para de lá… ficar sem ela.

Criar um grande golo a partir daqui? Bruno Fernandes explica

Valeu por isso Bruno Fernandes e a sua capacidade de encontrar golos como muito pouco se vê na Liga (e até na Europa). Valeu também, ao plano de Marcel Keizer, que o Benfica, mais uma vez, se queira sentir bastante confortável organizando-se defensivamente e tentando soltar rápido. Algo que tornou o jogo bastante perigoso, pela fragilidade da vantagem e pela hipótese, sempre muito forte em Alvalade, de os leões poderem encontrar um golo caído de algum dos pés de Bruno. E com esse, a acontecer num brilhante remate de pé-esquerdo, tornou-se escasso que o Benfica esperasse pelo Sporting no ‘conforto’ do seu meio-campo defensivo e soltasse as já por demais conhecidas transições que metem Félix num plano oposto de Seferovic, ou são levadas às costas por Rafa. Mas a essas [transições] surgiu um inimigo de peso já visto na Final da Taça da Liga com o FC Porto. Uma pressão fortíssima que, ainda que anárquica, conseguiu evitar as entradas encarnadas e a tentativa de, fazendo golo por via dessas, levar o jogo para um conforto que nunca aconteceu.

Como já dito, ainda que o Sporting seja pouco mais ofensivamente que enjaular-se no corredor lateral, há sempre a hipótese de Bruno sacar um dos seus tiros certeiros (ele que também já havia levado a bola a bater no travessão através de um livre directo). E Bruno é hoje a variável numa rota que se encosta às cordas sem ser tão forçada a isso como Keizer gostaria. E por ser essa variável, esse ponto de vantagem, é que Bruno perde mais bolas que os restantes e se mete por caminhos e decisões não tão ortodoxas como outros médios da Liga. Das suas características procura o golo a cada jogada, porque sabe que se entregar a bola ortodoxamente, o mais provável é que ela vá parar ao corredor lateral… para de lá não mais sair.

Dados: FPF

Dessa possibilidade infinita que Bruno dá (ainda mais a uma equipa que só precisa de um golo), fica difícil perceber que o Benfica passasse tanto tempo à espera e em negação de que ela, neste jogo, pudesse acontecer. Fica difícil que Lage não o sentisse dando tanto tempo ao Sporting no seu meio-campo ofensivo, como mais difícil fica perceber que a solução para isto não acontecer é um dos pontos mais fortes que o Benfica mostra desde que Lage foi promovido: a reacção à perda, a pressão à saída, evoluíram imenso desde que as ideias saem da boca de Bruno e não de Rui, mas foram trocadas neste jogo por uma expectante negação que deixa uma sensação de vazio em relação ao que o Benfica pode e sabe fazer por via da sua organização, pelas rotas que escolhe e por deixar o Sporting mais longe do seu ponto de vantagem (que é Bruno Fernandes). Ficaria difícil ao Benfica não marcar, mesmo que haja sempre o argumento do par de oportunidades que teve para fazê-lo ao longo dos 90′. Fica difícil, como já dito, até porque pela proximidade do período das decisões (onde o fluxo se inverte e a ideologia fica muitas vezes à mercê das emoções) surgirá sempre a dúvida na mente do treinador, no seio da equipa ou na onda de adeptos. E bem sabemos o que foi o Benfica quando a dúvida não se fez sentir, mas agora que há algo a defender e há muito a perder, mais imperativo se torna que seja de novo a ideologia a controlar a mente e a emoção e não o contrário que nasce da expectativa lógica de que o Benfica, jogando de qualquer maneira e feitio, conquistará os seus objectivos. Há mais a ser feito. E o jogo em casa contra o Tondela, assim como esta presença expectante em Alvalade entram directamente para o capítulo dos jogos onde o que o Benfica mostrou foi demasiado escasso para as suas pretensões e expectativas.

Sporting-Benfica, 1-0 (Bruno Fernandes 75′)

18 Comentários

  1. Li esta analise neste site que muito prezo e fiquei pasmado.
    Segundo o escriba só existiu uma equipa em campo, equipa essa que apenas pecou por estar na expectativa, equipa essa que se deparou com um conjunto de individuos desgarrados em que apenas um joga á bola, e que sozinho resolveu o jogo, caiu lhe uma bola em cima dentro da area e marcou ( deve ter sido o Felix que a passou) . Confesso que depois de ler N analises sobre como bem joga o Braga (por exemplo) pejadas de elogios para o Abel (a alma fica parva?!??!) ler a analise deste jogo é com beber um copo de fel, O sporting é mesmo uma equipa terivel, sem rei nem roque, só o Bruno fernandes joga e no entanto derrotou o FCP e o Braga na taça da liga e agora o Benfica… É a chamada tactica da sorte… francamente se não tivesse visto o jogo depois de ler esta analise chegaria á conclusão de que o Benfica quis perder por pena do sporting. Exige-se um analise séria ao que se passou porque estiveram duas equipas em campo, porque existiram marcações, variantes tacticas que determinaram grande parte do que foi o jogo, porque o benfica esse portento invencivel foi bloqueado pelos incompetentes de verde e branco, exige se saber como ou foi sorte? Anteriormente era o jesus que era o maior e os outros treinadores uns zeros agora é o Abel e o Laje,eu nem gosto do Kaiser mas ele tem todo o merito neste jogo, tenham paciencia, espero imparcialidade do Lateral esquerdo, lugares comuns vazios é para comentadores televisivos, vocês conseguem mais.

    • “um conjunto de indivíduos desgarrados em que apenas um joga á bola”

      Tiago, mas o caso é mesmo esse. Se fosse diferente o Laudrup di-lo-ia. Seria bom para o Sporting que não fosse, mas é. O que as duas equipas fizeram no mesmo relvado para o campeonato espelha o desnível de competências que os jogadores de uma e outra equipa exibem. As insuficiências do Sporting são de resto evidentes todas as semanas, especialmente nos jogos em casa. Mas claro isso não significa que o Sporting não merecesse o Jamor. Claramente mereceu. Teve a felicidade de fazer um golo na Luz e em Alvalade o Bruno Fernandes castigou a ausência da equipa de Lage.

      • Ou seja sorte e um jogador a mesma “analise” .pois… nesse caso vou mandar curriculos para os 3 grandes pode ser que ganhe derbies uma vez que o sporting ganha sem tatica sem trabalho sem treino . Enfim i rest my case …

        • Sim, quando os adversários são melhores é preciso felicidade e o Sporting teve-a, primeiro na Luz onde o Benfica fez 2 golos quando poderia ter feito 3 ou 4, ou 5, e na 2ª porque por algum motivo tentou passar a eliminatória sem jogar o que podia. Ser-se melhor sem jogar o que se deve às vezes chega mas noutras não chega. Felizmente para o Sporting o Bruno Fernandes fez a diferença e puniu a falta de comparência do melhor Benfica. Agora em 10 jogos, em condições normais, quantas vitórias consegue o Sporting frente a este Benfica? Se calhar nem uma …

  2. Laudrup, de acordo. O Sporting tem muitos problemas e tê-los-á até ao fim da época e durante a próxima. Nesse sentido tanto a vitória na Taça da Liga como o Jamor terão o efeito perverso de garantir Keizer mais um ano bem como as maleitas que o jogo do Sporting exibe. É assim o futebol. No entanto, a vitória de ontem é muito saborosa e mais saborosa se torna quando do outro lado estão os fregueses /os pequenotes do costume. O Benfica abordou o jogo como se já tivesse a eliminatória conquistada, preferindo não jogá-la, e no fim frustrados pela sua falta incapacidade em superar um Sporting cheio de problemas decidiram descarregar o desaire nos jogadores e no público adversários. Lamentável o mau perder que aquela gente exibe e lamentáveis as declarações de Lage com a conversa do “O Jamor é um troféu lindo mas o sonho é o campeonato”, como se a presença no Jamor os afastasse ou aproximasse do título. “Não faz mal perder um braço porque o meu sonho era mesmo vencer a maratona.” Triste. O sucesso na Taça não afastaria evidentemente o Benfica do título de campeão. Pelo contrário, tratar-se-ia de uma injecção de moral importante para o que falta jogar na época.

    Grande Sporting, a demonstrar que no momento da verdade os pequenos saem (como sempre saíram) de Alvalade de joelhos e que mesmo uma equipa mal preparada pode vencer o Benfica castigando-o pela sua arrogância e incapacidade. Seguiu em frente a melhor equipa no conjunto das duas mãos. Agora é ter um bocadinho de sorte e repetir o resultado de Braga derrotando o FCP, no Jamor, oferecendo uma grande alegria aos 70 mil adeptos que estarão presentes nas bancadas do majestoso estádio Nacional, frustrando ainda os pequenotes do Sporting que anseiam por desaires que comprometam a liderança do seu presidente. A vitória de ontem serve também para calar esses badamecos / brunecos.

    Há muito tempo (décadas) que o Sporting não tinha um jogador como Bruno Fernandes, uma bela prenda que Jorge Jesus deixou em Alvalade.

    • “70 mil adeptos que estarão presentes nas bancadas do majestoso estádio Nacional”? Em que país?
      Um pequeno apontamento. Tiros do SCP no alvo: um único, o do golo. Descontamos o livre na parte superior do poste.
      O Brian tem toda a razão no que escreve.

    • Nunca vou perceber a necessidade de denegrir os outros para elogiar os nossos. Como adepto do Benfica fico triste quando perdemos e ainda mais triste quando não jogamos bem, independentemente do resultado. Acho incrível que os adeptos de um clube português, principalmente dos 3 grandes, falem dos outros como se tivessem uma superioridade moral. Basta olharmos para o nosso clube que rapidamente encontraremos motivos para nos envergonhar. Eu, pelo menos, encontro. Não me revejo em atitudes de dirigentes, jogadores, treinadores e até adeptos. Não desta ou daquela época em específico mas, provavelmente, em quase todas. O futebol deveria apenas ser a superação do adversário nos 90 minutos que dura um jogo. Depois é o lidar com o resultado, seja a euforia ou a azia. Com a certeza que do outro lado está o reverso da medalha. O clima que se vive no futebol em Portugal, neste momento, é tóxico. Culpa dos dirigentes, comunicação social e dos adeptos. Eu não quero saber se no jogo de A a mão foi marcada e no meu não. Posso reclamar durante os 90 minutos mas acaba aí a minha irracionalidade. Acho que como nunca temos condições para fazer do futebol português um futebol de topo europeu. Somos campeões europeus, as equipas Bs lançam jogadores tremendos todos os anos, o treinador português dá cartas fora e dentro e temos informação sobre o jogo de luxo, como é exemplo o Lateral Esquerdo. Os grandes não têm motivos de queixa. Nunca. No somatório final de uma época ganhará o melhor. E caminhamos para um jogo cada vez mais justo, com VAR e outras tecnologias. Sendo prejudicados hoje e beneficiados amanhã. Chega de ruído de presidentes, dirigentes, mal-dizentes. Vive-se mal no futebol em Portugal, hoje. Não há mérito de mais ninguém que não dos nossos. E infelizmente até a caixa de comentários do LE tem sofrido. Eu, como Benfiquista, quero é perceber o que o LE tem a dizer sobre o que o Benfica pode melhorar. E não tenho problema em admirar Olivers, Brunos, como não tinha com Falcão, James, Moutinho, Nani. Só temos a ganhar, todos, se o nos voltarmos mais para dentro, para a melhoria do nosso clube. E com isso valorizarmos a nossa liga. Acho que só temos todos a ganhar

      • Assino por baixo . O futebol é o que interessa, as fintas os golos a arte. O meu obrigado pelo seu comentário pleno de lucidez.

      • Ricardo Abreu, és o maior. Ainda assim, que eu saiba isto não é uma câmara esterilizada onde é preciso pedir licença para comentar. Provocações fazem parte do que envolve este tipo de jogos e se palavras o incomodam tanto, mude de canal.

  3. Vergonha um blog desta dimensão, que considero uma verdadeira Bíblia, dar espaço a esta pessoa que não entende a essência do jogo.

    Nem me vou aventurar a fazer nenhuma análise de estatística baseada em números e infografias que têm muito se que lhe diga.

    Brian, vou partilhar uma coisa contigo reflete como e se quiseres

    No final do dia quem joga são eles, e eles no fundo não deixamos de ser nós.

  4. O Sporting teve muita bola? Em que jogo?

    No geral até concordo com o texto, só me parece que entram por uns caminhos que são inexplicáveis – o da sorte/azar, conforto/desconforto, bla, bla, bla.

    Eu vi as coisas de forma simples: de um lado esteve uma equipa tranquila no seu jogar, confiante e que durante 60 minutos até parecia que não estava em vantagem e que recuperou algumas vinte bolas logo no primeiro passe do adversário. Várias oportunidades de golo/jogadas perigosas (a maioria em transição ofensiva mas não só!) que podiam e deviam, a este nível, ter outra qualidade na definição/decisão. O Benfica esteve péssimo na decisão em posse de bola. Toda a gente bate palmas ao remate do Fejsa mas aquela bola era claramente para ser endossada ao Pizzi, o Rafa só sabe driblar, de resto é um jogador abaixo de zero, não acerta um único passe (o Svilar fez melhores passes do que ele) e deve ter prejudicado a equipa praí em cinco ou seis jogadas com potencial de golo. São apenas alguns exemplos.

    Do outro lado apresentou-se uma equipa com as emoções ao rubro, com a energia toda possível pela menor carga de jogos e por defrontar o inimigo número 1 no jogo da década.

    Uma equipa que não se importou de manter sempre 4 ou 5 atrás – mesmo na segunda parte e em desvantagem – e onde a grande estratégia foi a agressividade ao máximo e o bater em tudo e todos, no meio de uma desorganização total. Era proibido deixar o adversário receber/enquadrar, desse por onde desse. Isto com o apoio do árbitro, já que começou por não mostar cartão amarelo em duas jogadas sem perdão e que não deixam qualquer espaço para debate – cacete do horrível Gaspar (não consegue dominar uma bolinha que seja…) a cortar uma transição sem meias medidas e entrada violenta de Coates no Rafa, para depois mostrar o primeiro cartão do jogo ao Felix numa jogada perfeitamente corriqueira. Condicionar agora é assim?

    O Sporting não criou qualquer frisson até ao golo, excepto de bola parada ou remates de longe (quase todos para a bancada). Antes do golo o Benfica começou a cair um pouco em todos os quesitos (por várias razões e até pelo resultado em si e pelo contexto) e foi assim que surgiu o golaço do B. Fernandes.

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