O amanhã em que nunca se sabe?

Porto's Brazilian defender Alex Telles reacts during the UEFA Champions League quarter-final, first leg football match between Liverpool and FC Porto at Anfield stadium in Liverpool, north-west England on April 9, 2019. (Photo by LLUIS GENE / AFP) (Photo credit should read LLUIS GENE/AFP/Getty Images)

Tomorrow Never Knows é um clássico dos Beatles. Não tão apreciado e bajulado como devia, mas ainda assim parte de um revolucionário e vanguardista Revolver que, hoje por hoje, descreve muito melhor o Liverpool de Jürgen Klopp do que a já gasta metáfora do heavy-metal. E para o FC Porto, ter de frente o Liverpool do germânico pela frente, não é bem ter um Amanhã Em Que Nunca Se Sabe mas sim um Amanhã que Nunca Chega. Desde aquele remate ao poste de Otávio, há já mais de um ano, desde aquela reposição de José Sá e transição dos reds para o 0-1 no Dragão que esse [amanhã] nunca chega. E ontem, terça-feira e desta feita nos quartos da Liga dos Campeões, o esperançoso 0-0 como começam todos os jogos, durou… 4 minutos. 240 segundos de pura ilusão, com o FC Porto no meio-campo do Liverpool, virado para a Kop, à espera que os reds fossem uma vez à baliza de Iker Casillas…



Mas, até lá, muito se passou nos bastidores. Brahimi ficou no banco, como tem sido hábito, Otávio permaneceu no onze, deslocando Corona para uma lateral-direita que foi um limbo para o mexicano. Com Maxi tipo Borja e com Sérgio tipo Keizer, o FC Porto fazia linha-de-cinco na defesa (Corona, Maxi, Felipe, Militão e o regressado Telles) para criar uma expectativa que durou 4 minutos. E durou 4 minutos porque, apesar das cautelas nas alas, o espaço central (maioritariamente ocupado por Óliver e Danilo, nesta mesma ordem) voltou a abrir crateras quando a bola se desloca para a ala. E se Bruno Lage o aproveitou, lançando por aí o sonho da reconquista, mais o sabido Liverpool – que não é o saco de emoções das transições que era no ano passado – aproveitou.



Numa espécie de 5x3x2 o FC Porto foi vendo o Liverpool trocar a bola no seu meio-campo defensivo, com Marega descaído para a esquerda, Soares ao meio e Otávio mais subido pela direita, a filmarem saídas-de-bola que quando atingiam o último terço iam provocando calafrios e o revisitar de um resultado que marcou o FC Porto e todas as antevisões desta nova eliminatória. E se a normal sobranceria dos adeptos, e comentadores mais afectos aos, reds arrelia um pouquinho quem sabe do valor do FC Porto, ver o Liverpool a arranjar espaços, a circular e a mostrar porque as cinco unidades na linha defensiva deveriam sim ser cinco unidades no meio-campo, não surpreende que depois do golo de Firmino (com Corona em terra de ninguém – a defender para depois não atacar) essas previsões sejam aceites com normalidade.


Sim, o Liverpool é mais forte. E contra equipas deste nível, de real topo Europeu (quantas andarão acima?) todas as falhas dos portistas se iriam notar, todos os espações, espaços e espacinhos e todas as dificuldades com bola que, com o Liverpool de frente, ora saía mais longa, ora saía mais curta ou então… nem sequer saía. De maneira que, mesmo assim sendo, o FC Porto poderia sonhar com alguma transição que saísse, por algum momento de inspiração e por alguma circulação que fosse bem aproveitada. E antes e depois de Bobby Firmino e Salah falharem, de forma algo surpreendente o 0-3, o FC Porto apareceu, a espaços num jogo tremendamente difícil para os dragões. Ainda assim, repetimos, os azuis-e-brancos criaram chances para o tão ansiado away-goal que ombreava com o não sofrer mais na tabela das ansiedades e prioridades de Sérgio. E ainda que com uma 2.ª parte bem mais interessante quer em 5x3x2 (com a equipa bem mais compacta e a não ceder tanto pelo corredor central), quer em 4x3x3 (depois de Brahimi) ou em 4x4x2 (depois de Fernando Andrade), com o FC Porto a forçar presença no meio-campo ofensivo sem se atemorizar com o que daí pudesse vir, pelo menos o objectivo de manter viva a esperança de que aquele amanhã chegue se conservou. Avisamos é que, infelizmente, é capaz de se basear em duas ou três ilusões sendo que a maior é a de que o Liverpool ficará em branco no Dragão. Isto mantendo-se os já recorrentes espaços que o FC Porto teima em dar aos adversários (ou a habitual oferenda que neste jogo saiu do pé de um, ainda assim, suficiente, esforçado e um furinho acima dos outros, Otávio). E mantendo-se esses espaços, dizíamos, o Liverpool não caminhará sozinho para as meias-finais mas com a presença de mais 3 colossos, num grupo restrito ao qual um bom FC Porto (mas não excelente como o de 87, 2002/04 ou 2011) não poderá augurar. Assim, ou Sérgio descobre, numa semana, a fórmula para transmutar bronze em ouro (na ocupação de espaços à frente da defesa, numa circulação que emperra no corpo emocional, numa finalização que visou mais a bancada do que a baliza) ou a campanha portista estará ao nível da equipa: boa, competitiva até um certo nível, mas não excelente como a perspectiva daquele Amanhã que infelizmente…

Liverpool-FC Porto, 2-0 (Sané 5′ e Firmino 26′)

8 Comentários

  1. Obviamente, o Porto sentiu as dificuldades que as equipas pequenas sentem frente a um adversário mais forte: abafado, sem grande poder de reação, poucas ou nenhumas chances de golo, jogadores medíocres em comparação com os que estão a enfrentar.

    Para além disso, sentiu na pele o que todos os outros sentem em Portugal: uma arbitragem miserável, um penalti claro (como o de Santa Maria da feira e não assinalado por mão na bola) e um vermelho por mostrar (por entrada idêntica à várias de Filipe e Pepe).

        • Arrisca a que lhe caia em cima.

          Infelizmente, muita migração do Visão de Mercado para aqui… Ultimamente tem havido comentários que destoam completamente de quem quer saber de futebol mas prefere falar de bola

          • Eu acho que até foi bem pertinente. Falar de bola é assim tão diferente de falar de futebol? Um e outro não serão a mesma coisa? Ou um é para o povo e o outro para uma elite intelectual?

        • João Quadros pode ter sido pertinente a pergunta, mas das duas uma:

          Curiosa escolha de erros de arbitragem, tendo ocorrido na jornada anterior uma pavorosa em que os árbitros envolvidos não são novatos

          Não mencionou um único lance de jogo, resumindo o seu comentário a uma constatação (todas as equipas portuguesas são um alvo preferencial para os colossos), sendo que o Porto tem sido historicamente o ‘osso mais duro de roer’ e a falar de arbitragem. Se fosse um comentário sobre futebol, podia dizer que as descidas do Firmino para receber e tocar de primeira / rodar e tomar decisões de grande qualidade foram, para mim, o que decidiu o jogo.

          Compreende a diferença entre bola e futebol? É que no primeiro, os interlocutores podem ser os Rui Gomes, Serrões e os Pedro Guerras desta vida, no segundo os interlocutores são os atletas e treinador dentro de campo.

          Infelizmente, este fenómeno Visão de Mercadismo a que assistimos, com menos e menos futebol (até já vão buscar selectivamente declarações ao Twitter vejam lá) e mais e mais de bola. Ainda bem que aqui pode haver discussão civilizada e com direito a resposta, começa a ser raro.

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