O feito do Liverpool na 2ª Mão da Meia-Final da Liga dos campeões comprova a dificuldade que é lidar com esta pressão alta dos Reds… a insistência do Manchester City é mais do que uma teimosia, é uma necessidade transformada em cultura, onde são mais as certezas do que as dúvidas.
Importa reforçar que a dinâmica é sempre orientada por princípios (sejam eles mais colectivos ou mais individuais) que procuram dar sentido ao que envolve a equipa e, no fundo, levar a bola a progredir no campo e chegar perto da baliza em boas condições. Como os princípios estão antes da dinâmica posicional e das trajectórias da bola, é natural que os jogadores tenham que agir uns em função dos outros (interacção) como necessidade de não se desviarem dos tais princípios orientadores. Isto que facilita enormemente a auto-organização e a cooperação, conceitos que só são possíveis quando todos se orientam pelos mesmos valores do jogo.
Se no vídeo da publicação anterior (aqui) se via Stones (também Fernandinho) a pedir a bola “cravado” na 1ª linha de pressão do adversário e Walker a criar superioridade desde trás como opção para o GR sair curto, libertando Bernardo para uma “zona morta”, neste vídeo vemos que a dinâmica do jogo e a necessidade de ajustar não impede a manifestação dos princípios, bem pelo contrário (tal como que referimos acima esse ajuste é crucial para que eles se manifestem e dêem sentido à dinâmica). É como se a equipa fosse um organismo vivo onde cada parte se coordena com as restantes para manter o normal funcionamento em função da necessidade e da circunstância.
– Walker em “zona morta” (entrelinhas);
– Bernardo+Fernandinho “incorporados” na 1ª linha de pressão do adversário (quase como que para a “espremer”, obrigando-os a fechar mais, para libertar espaço por fora, mas também são uma possibilidade de progressão, com um toque podem deixar essa linha para trás);
– Stones a criar superioridade desde trás, com Ederson e Laporte – atrair a 1ª linha de pressão do Liverpool e libertar jogadores numa “zona morta” (passe para o “2º andar”) – Homem Livre
No próximo vídeo dá para perceber como o atraso ao Guarda-Redes é uma necessidade de ganhar tempo, para que toda a gente da equipa se oriente de forma a poder receber a bola com uma visão ampla do campo e com o corpo orientado para poder dar vários seguimentos à bola e assim reduzir o risco de ser completamente limitado e ainda criar dúvida na pressão adversária . Este “jogar para trás” nunca pode ser um passe como quem passa um problema e “diz”: “Resolve tu!”
Todos estão envolvidos na resolução do problema e o passe vai para quem nos garante mais tempo para voltarmos a ver tudo o que se passa no campo, para ter a bola em segurança e/ou para quem está em condições para a fazer progredir. O GR, neste caso, é mais um que coopera nesta tarefa de progredir em segurança.
Para além de todos estes princípios e sub-princípios, de que fomos falando, que na repetição sistemática dá confiança a toda a gente para se guiar por eles, é importante perceber que o erro não pode ser o medidor do certo e do errado no que aos princípios diz respeito, ou seja o erro e mais precisamente a sua correcção não pode acontecer no sentido de alterar a essência do jogo que a nossa equipa joga e por isso é que uma perda de bola atrás que quase dá golo não altera nada, por isso a jogada seguinte leva a aprendizagem das experiências anteriores sem perda daquilo que nos orienta. Como os skaters, que depois de uma queda voltam a tentar 1001 vezes até acertarem com a “acrobacia”, como nós quando aprendemos a andar e como qualquer outro processo de aprendizagem.
Impressiona a crença e o orgulho na forma como tentam disputar o jogo e consequentemente o resultado, algo que se transmite na enorme serenidade com bola… de todos, até do GR que é onde (tantas vezes) tudo começa.
Porque é nos momentos de aperto que se vê o que é cultural (o que é hábito e nos sai espontaneamente) e o quão entranhados estão determinados princípios.
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