O “Melhorar” não é obrigado a dar a mão à “estatística”

  • 2017/2018
    Man. City 100 pts
  • 2018/2019
    Liverpool 97 pts
    Man. City 98 pts

Será possível melhorar piorando os resultados?


Se no futebol profissional, reformulando (porque parece-me que o exemplo é ainda mais impactante e esclarecedor), se num clube que está seguramente no top 10 Mundial se pensa assim, o que é que se anda a fazer na formação? Porque é que justificamos e julgamos o processo de aprendizagem como bom ou mau SÓ pelo sucesso/insucesso do resultado final?

Então?! Mas é possível tornarmo-nos melhores sem ter como referência o resultado passado? Sem colocar uma meta “matemática”? Sem elevar o número de pontos? Sem atingir uma melhor classificação do que o treinador anterior ou da que fizemos na última época? CLARO QUE SIM!

Quando foi que caímos no erro de medir o desenvolvimento (algo tão complexo) pelo resultado e pelos pontos acumulados? Julgava que a pontuação tinha sido criada no sentido de aumentar a competitividade, tornando assim a competição algo mais entusiasmante (como auxílio ao desenvolvimento e não como validação do processo). Como é que se medem desenvolvimentos (individuais/colectivos) numa tabela classificativa?

Olhar para pontos acumulados e dizer que quem teve mais pontos corresponde à equipa que mais evoluiu é claramente usar linearidade para avaliar algo super complexo.

A “novidade” é (não digam a ninguém)… fazemos isto em tudo na vida, em tudo (por exemplo):

  • forma como se avalia nas escolas segue esta forma de pensar;
  • a selecção de jogadores que é feita em função do resultado imediato sem perspectivar sequer quem tem mais talento ou melhor mentalidade, algo que com certeza influencia de sobremaneira o desenvolvimento;
  • quem tem mais golos é melhor jogador (causa-efeito linear/única)

Esta lógica está espalhada por toda a sociedade… como um vírus… não nos escandalizemos que isto não é de agora. Curas? Primeiro perceber que isto é um problema, porque ninguém tem necessidade de se curar quando pensa estar bem e saudável. Depois é mudar este paradigma e levar os jogadores a olharem para aquilo que é o seu crescimento e o da equipa, e não para números, que podendo ser usados, não devem ser o essencial para se aferir a qualidade do processo, nem deveriam abalar a “crença” daquilo que se vai fazendo de bom.

Refiro essencialmente os jogadores, porque são eles que mais ganham com esta forma de olhar o processo de desenvolvimento, pois é na sua formação/educação desde pequenos que se poderá mudar esta cultura onde o importante aparece numa folha de cálculo, numa tabela classificativa, que nos diz que somos melhores do que os outros no presente, mas não diz nada sobre o nosso desenvolvimento para o futuro, ou numa pauta cheia de números que são uma média tantas vezes baseada em aprendizagens mecanizadas e desprovidas de contexto dentro de quem as engole sem entendimento ou sentimento.

a) programa da Sky Sports (vídeo retirado do canal do youtube “Sky Sports Football”) emitido antes do início da época 2018/2019 (Agosto de 2018), entitulado “Premier League Launch 2018-2019”

Sobre João Baptista 19 artigos
A paixão por Futebol conduziu-o até à FCDEF (Universidade do Porto), onde o Professor Vítor Frade viria a ser uma grande influência na busca constante da essência do jogo e do treino. Com passagens por FC Porto B, FC Porto (Dragon Force), Valadares Gaia FC (feminino), AD Sanjoanense e EF Hernâni Gonçalves, desde 2016 que se encontra na China, de momento num projecto de formação ao serviço do Zhichun FC. A página/o blog "Bola na Árvore" são reflexões de quem vai à procura da essência do jogo, da formação, do treino e da vida que se manifesta no futebol... na busca incessante vai-se aprendendo.

2 Comentários

  1. No contexto do que escreves, acho interessante o que se faz, por exemplo, no Dortmund (espero eu que seja uma realidade também em outros clubes) com os miúdos na formação, em que vão propondo diferentes desafios aos miúdos ao invés de olhar para o resultado final dos jogos, para o número de intercepções feitas por um defesa central ou de remates enquadrados feitos por um avançado. Em vez disso, pode um jogador do sector mais avançado, num determinado jogo, ter como desafio o maior número de recuperações de bola que conseguir em vez de ser medido o desempenho pelo número de golos que marcou, concorrendo assim para a sua evolução individual como jogador num aspecto em que revela maiores dificuldades.

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