A análise e o resultado – duas faces da mesma moeda

Não será novidade para ninguém que nem sempre a equipa que está mais perto de fazer golo ao longo dos 90 minutos, acaba por ganhar o jogo. Este facto despoleta, não raras vezes, muita confusão entre aquilo que é a causa e consequência no resultado. Se com isto, o desfecho for de encontro às nossas convicções previamente estabelecidas, nem sentimos a necessidade de nos confrontar com aquilo que aconteceu em campo.

Vem esta reflexão a propósito do último Liverpool vs Barcelona. Na opinião geral, os catalães foram amorfos, sem ideias nem propósito que não colocar a bola em Messi (subitamente desaparecido, para completar a tese da inferioridade blaugrana), tendo na titularidade de Vidal o expoente máximo da renuncia à identidade, todos estes factores redundam naturalmente na eliminação . Os reds extremamente competentes e competitivos, levados essencialmente na emoção de Anfield conseguiram inverter o que parecia inevitável. Seria uma óptima forma de justificar a reviravolta mas um olhar mais atento ao jogo, desmente alguns destes factos.

Na verdade, e até ao minuto 54, momento do 2º golo, o Barcelona não só equilibrou o jogo como esteve muito perto de marcar várias vezes, sendo talvez a equipa que melhor conseguiu jogar e assentar o jogo no meio-campo adversário em Anfield este ano (o City foi especialmente cauteloso e de risco mínimo principalmente em zonas mais adiantadas). Terá sido um dos melhores jogos da época do Barça até ao primeiro golo de Wijnaldum. Faltou maior eficácia ou a sorte que teve em Camp Nou.

Após o golo madrugador do Liverpool, o Barcelona conseguiu várias vezes superar a primeira pressão adversária na fase de construção. Boa utilização da largura para jogar nas costas dos extremos adversários que pressionam muito por dentro (ligação interior-lateral), sem medo de ir recuando para chamar adversários com utilização de Ter Stegan, variações de corredor, e, novidade relativamente à 1ª mão, utilização de Messi como apoio frontal nesta fase do jogo (e não só em transição) para 3º homem receber com espaço e definir. Evoluíram relativamente à 1ª mão, sendo clara a intenção de procurar as costas da linha defensiva do Liverpool, que arriscava neste aspecto ao máximo. E foi assim que, entre várias ocasiões, chegaram em 4×2 à área contrária.

Outro aspecto criticado nas escolhas de Valverde é a utilização de Vidal. Neste contexto, é um jogador útil. O Barcelona quando defende baixo utiliza 8 jogadores (Messi e Suarez raramente se juntam aos colegas), e o chileno tem maior capacidade defensiva que os seus opositores directos para fechar à direita e foi importante na transição defensiva. É de uma recuperação sua que surge uma das melhores oportunidades na primeira parte. Apesar de não ser o primeiro jogador quando pensamos na filosofia Barça, neste modelo de jogo a sua utilização é coerente com aquilo que se espera dele e das necessidades da equipa.

O Liverpool fez aquilo que lhe competia. A pressão não foi tão efectiva porque Shaqiri não é Salah, e principalmente Origi não é Firmino. A equipa sentiu-se desconfortável quando o Barcelona conseguiu ultrapassar as suas primeiras armadilhas de pressão e se viu obrigada a baixar. Alguma falta de critério em transição ofensiva, nomeadamente no momento de fazer soltar a bola fazendo -se sentir as ausências já referidas, e também pela pressa em virar o resultado mostraram o Liverpool um pouco mais inofensivo que habitualmente. Acabam por chegar ao 2-0 num golo clássico com recuperação alta e cruzamento. Nota estratégica, para a 2ª parte o Liverpool pareceu mais interessado em circular a bola de modo a atrair dentro para acabar jogadas com cruzamento onde tinha sempre boa presença na área. É assim que surgem os golos

Não nos equivoquemos, globalmente o Liverpool foi melhor na eliminatória. O acaso, ou azar se preferir, questões de pormenor (e Messi), são a principal razão para não ter saído em vantagem de Camp Nou. E também é verdade que este Barcelona foge à matriz que é a imagem de marca do clube. Ainda assim, e após a estrelinha da primeira mão, estiveram a um passo da final da Champions. Mas a criticar a equipa será pela quebra emocional após o segundo golo (que o Liverpool sofrera uma semana antes nos minutos finais que poderia ter redundado em consequências desastrosas) e não pelo que se passou até aí. Apesar de nem sempre controlar a transição do Liverpool, o Barcelona fez mais que o suficiente para ter marcado pelo menos uma vez, e houve momentos em que se sentiu confortável com bola, já dentro do meio-campo adversário. Qualquer análise que ignore este ponto parecerá sempre, no meu entendimento, incompleta.

As meias-finais da Champions são naturalmente marcadas pelo equilíbrio e a eliminatória não foi excepção dentro de campo, apesar de os resultados terem sido desnivelados. Frases definitivas sobre a capacidade de levar os jogadores para o lado emocional de Klopp, (numa equipa que mostrou competência em vários momentos do jogo) ou direccionar toda a responsabilidade da eliminação para o modelo de Valverde, quando podia ter a eliminatória resolvida ao intervalo, parecem francamente redutoras

Sobre Lahm 42 artigos
De sua graça Diogo Laranjeira é treinador desde 2010 tendo passado por quase todos os escalões e níveis competitivos. Paralelamente realiza análise de jogo tentado observar tendências e novas ideias que surgem no futebol. Escreve para o Lateral Esquerdo desde 2019. Para contacto segundabola2012@gmail.com

1 Comentário

  1. Concordo!
    Como já tinha dito, o Barcelona podia ter marcado entre o 1o e 2o golos do Liverpool.
    Por outro lado, aquela segunda parte fez muitos serem do Liverpool mesmo que por minutos.

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