
Há duas / três épocas que tenho vindo a abordar a agora incontornável era da Estratégia no futebol mundial. Depois do boom do modelo de jogo, e no centrar de todo o processo de treino e até de plano de jogo no “eu”, os melhores deram o passo seguinte no sentido de perceber os traços colectivos do adversário (Diferente da estratégia pré-modelo, que se existia antes do modelo, não incidia sobre os comportamentos colectivos adversários) e integrarem no seu plano semanal e sobretudo no de jogo, as nuances (ajustes) necessárias para uma melhor preparação para dar respostas aos problemas que já se sabia iriam ser colocados.
Hoje o Jornal “A Bola” conta-nos a maravilhosa história sobre como o Liverpool e Klopp procurou um adversário (No caso a equipa B do SL Benfica, embora a primeira opção para o tal jogo que se realizou até foi uma equipa do Vitória de Guimarães) e lhe deu instruções para que replicasse comportamentos do Tottenham.
Quando se fala na Era da Estratégia, não se trata de não ter uma identidade ou um modelo bem definido. Isso (quase) todos o têm, mas antes de adoptar determinados comportamentos em determinados jogos / fases / momentos por forma a precaver os pontos fortes do adversário, ou por forma a surpreende-lo nos pontos fracos.
Quando Onana em Munique pontapeou algumas dezenas de bolas longas, o Ajax não estava a inferiorizar-se. Estava antes a maximizar as possibilidades de vencer o jogo, perante um pressão agressiva do Bayern que se preparava para roubar bolas na construção, e ao mesmo tempo, abria espaço entre médios e defesas (pelo subir dos médios na dita pressão)
Repare na origem do golo dos holandeses (a bola longa de Onana coloca o Ajax a atacar apenas contra linha defensiva bávara:
O Liverpool na preparação estratégica para o jogo de uma vida foi mais longe. Ao video e ao treino, acrescentou-lhe um jogo perante um adversário que replicasse os comportamentos do seu oponente na grande final.
Klopp não trocou o 4x3x3, não trocou as características gerais do seu jogar, não trocou a primazia que sempre dá à “intensidade física” do seu jogo (à semelhança do que faz em Portugal Sérgio Conceição, embora com “artistas” de muito menor qualidade). Apenas procurou que o seu modelo estivesse preparado para um encaixe estratégico que o favorecesse.
Nos dias de hoje, impera a minuciosidade. Se tantas vezes o jogo se decide num detalhe, o plano estratégico é cada vez mais o que prepara o detalhe, quando modelos e forças se equivalem não em termos de similaridade mas de qualidades.
Com mais jogos e menos tempo para treinar, a pré temporada é hoje determinante para o passar das ideias próprias, e as semanas da competição oficial cada vez mais momentos para consolidar comportamentos ao mesmo tempo que se prepara pormenorizadamente cada partida.
Essa preparação estratégica pormenorizada não perdendo a identidade base, que há algum tempo por cá se fala, terá sido a maior lufada de ar fresco que Bruno Lage trouxe à Liga NOS. Em Portugal, a cada um dos dezanove jogos dos quais dezoito foram vencidos por Lage, e na Final da Liga dos Campeões, a Estratégia como a cereja em cima do bolo.
Não ignorando nunca que sem o bolo (modelo)… não há cereja que possa ser colocada.
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