É possível ganhar estando mal preparado? A explicação táctica para o mau jogo luso

A partida de ontem no Estádio do Dragão ajuda a perceber algumas das ideias que tenho vindo a tentar passar por cá:

a) A importância da Construção / Impedir a Construção como catalizador da toada do jogo – Enquanto a Suiça esteve bem preparada para o encaixe táctico em todas as zonas do campo, Portugal nunca foi capaz de dar respostas positivas. Foi a má preparação portuguesa na sua 1ª fase defensiva versus boa preparação suiça na sua 1ª fase defensiva que determinou que uma equipa fosse melhor do que a outra;

b) O quão determinante, cada vez mais, é a preparação estratégica do jogo. Portugal foi péssimo do ponto de vista táctico, por impreparado do ponto de vista estratégico. A selecção nacional não se mostrou capaz de responder aos posicionamentos da Suiça – Posicionou-se para pressionar (Equipa Longa no Campo, mesmo sem bola), mas pressionou sempre em inferioridade na zona da bola, guardado demasiada superioridade nas zonas afastadas. Ou seja, ia pressionar e era batido por estarem em larga inferioridade, o que possibilitou à Suiça sair consecutivamente em direcção às zonas de criação com espaço. Das duas uma: Estar bem tacticamente obrigaria a uma pressão em igualdade numérica (tal como fez a Suiça), ou o não ir pressionar e manter a equipa mais junta a controlar nos espaços mais baixos. Assim limitou-se a ver jogar e a correr atrás dos seus opositores.

Sim, venceu. Mas venceu apesar do lado táctico e não graças ao lado táctico. Venceu porque teve Ronaldo enquanto do outro lado jogou Seferovic, porque naquilo que deveria ter sido a preparação de casa, Portugal foi sempre uma equipa à deriva. A final exigirá um plano táctico / estratégico bem mais pensado do que aquele que vimos na meia final.

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Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

14 Comentários

  1. É tudo verdade o que foi escrito no post, mas acrescento o seguinte, neste momento Ronaldo precisa de um jogador diferente do Félix , Félix precisa de um jogador diferente do Ronaldo (não quer dizer que ambos não possam “evoluir” e compatibilizarem se) e sou o único a pensar que neves e William são demasiado iguais? Naquela posição do William precisamos de mais intensidade, mais capacidade para queimar linhas, contei uns quantos lances em transição ofensiva em que o William contemporizava porque simplesmente não é este tipo de jogador

  2. Excelente análise. Haja alguém.

    A primeira linha defensiva esteve ao nível de uma distrital e a Suiça saiu quase sempre com facilidade da pressão alta do engenheiro, que é INCAPAZ de corrigir um comportamento colectivo…

    Assusta perceber que com Guedes as coisas melhoraram nesta vertente FUNDAMENTAL do jogo (tendo em conta que a estratégia aparentemente passava por pressionar alto) e que foi possível ver o nosso treinador a corrigir o posicionamento de Guedes.

    Quando sais da tua zona de conforto (defesa zonal a meio campo) e tentas criar uma estratégia sem dominar conceitos básicos…os resultados são maus demais para este nível.

    Que ninguém pense em queixar-se de falta de qualidade individual nesta geração para justificar o que quer que seja.

    P.S – Ganhando hoje a Holanda, e se pressionarmos alto (não me parece) da mesma forma desarticulada, vai ser uma passeio para o Frenkie… Medo.

  3. Ao fim de não sei quantos anos parece que descobriram a pólvora. A equipa portuguesa é genericamente horrível mas só hoje (entre aspas) deram o braço a torcer. Pudera, foi mau demais! Mas não tão mau quanto alguns jogos do mundial do ano passado em que a vossa justificação era mais ou menos – mas ganhamos, bla, bla, bla. Mesmo assim ainda foram a tempo de aviar uma farpa no Seferovic. Já vi gente no divã por menos. Haja paranóia.

  4. Carlos Carvalhal!!
    (não sei bem se já tinha dito… 10 vezes ?)

    Podemos ganhar o nosso segundo título de seleções senior com o mesmo treinador.
    As minhas perguntas são:

    1. Ganharíamos, a jogar assim, se as seleções tipicamente fortes não estivessem em mudança de ciclo e/ou em crise?

    2. Porque não jogamos e evoluimos em limha com a qualidade de jogo que tivemos na primeira fase da Liga das Nações?

    3. Ganhamos jogos porque temos o FS ou apesar de termos o FS?

    • Viste a seleção a evoluir em qualidade de jogo na 1º fase da Liga das Nações? Eu o que vi foram exibições deprimentes, como por exemplo em Itália ou cá com a Polónia, em que não levámos 4 ou 5 apenas por sorte.

      Quanto a ti Pedro B. não te preocupes, que mais ano menos ano ele deixa a seleção e depois volta ao que ela era pre-Ronaldo, ou seja, apuras-te num ano para um Euro e no outro não te consegues apurar para o Mundial e vice-versa e já ficas todo contente.

      • Não tenho dúvidas algumas em afirmar que o melhor futebol praticado pela seleção com FS foi na primeira fase da Liga das Nações.
        Detesto o futebol que praticámos no europeu, no mundial e na qualificação para o europeu.
        Temos talento para mais. É o trabalho do selecionador para o qual é bem pago e como tal deve haver exigência de mostrar capacidade de dar espaço para o talento, em vez de vir para as conferências de imprensa dizer que não entende o porquê de os jogadores estarem muito juntos ou muito afastados ou dizer que não tem tempo para treinar mas que um bom jogador tem que se adaptar a qualquer modelo que afinal não é treinado por falta de tempo se não não em lugar para ir jogar para clubes maiores. A meu uma clara alusão ao João Felix para justificar a saida dele do 11 quando o largou no onze sem uma lógica que potencie as qualidades dele e de outros.
        Terá algum sentido nunca usar o Bernardo no meio para agora o fazer quando põe o Felix no onze que naturalmente procura o meio para depois vir queixar-se que os jogadores estavam muito juntos, sabendo também que o Ronaldo está sempre a procurar estar nas mesmas zonas? Até parece que só pôs os 4 óbvios pela pressão da opinião pública e que agora já pode voltar à retranca habitual.
        Ele que se queixe mas é das ideias obsoletas que mostra ter e que nos surpreenda finalmente pela positiva!

  5. Quero acreditar que é possível ter um seleccionador que consiga imprimir um modelo de jogo que concretize na seleção o talnto que temos, incluindo a capacidade de concretização do Ronaldo mas sem que a sua presença funcione como um eucalipto que seca parte do redor e que ‘obrigue’ a outra parte a jogar para ele.
    Na organização ofensiva, não se vê apoios de forma consistente, não se vê jogo entre linhas consistente, não se vê a busca de roturas de forma consistente. Vê-se Ronaldo a querer pedir sempre a bola em todo o lado onde esteja e o selecionador tem que saber gerir isso pela via do modelo.

  6. A minha opinião sobre o jogo de hoje:

    Sem Felix (embora eu ache que Felix/Bernardo/Ronaldo foram muito mal distribuídos posicionalmente pelo selecionador no campo no jogo com a Suíça), faz-me sentido o FSantos pôr o Bernardo a poder ir mais ao meio como também foi na primeira fase desta prova (agora o que o FSantos fez no jogo com a Suíça não me faz sentido nenhum).

    Hoje soubemos jogar muito mais como um todo e até procurámos o meio (raro com o FSantos). Desra vez o FSantos soube pôr o Ronaldo com papéis mais claros e a não andar a pedir a bola em todo o lado. É essencial saber integrar o Ronaldo no todo e não ser o todo adaptar-se ao Ronaldo, e hoje viu-se isso finalmente. 

    Acho que falta muita evolução na organização ofensiva. Criar dinâmicas entre linhas e para isso o FSantos terá, por exemplo, que saber compatibilizar Felix/Bernardo/Ronaldo, à medida que o Felix se vá integrando na seleção e sem que o Ronaldo apareça a secar o seu redor.

    Posso até voltar atrás na minha opinião de substituir o FSantos, se ele quiser fazer evoluir esta via de hoje e se quiser fazer evoluir (muito) a organização ofensiva para uma maior busca de jogo entre linhas, apoios frontais, ruturas. Se quiser voltar ao costuema anterior é que já é mais complicado para mim…

    De resto, ganhámos um segundo título e isso é muito bom!!

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