E depois de João Felix? O ataque dos miúdos – Um Trabalho Diário de Notícias com o Lateral Esquerdo

Hoje, no Diário de Notícias, um artigo (completo aqui) com as opiniões de Carlos Dinis e Pedro Bouças.

“A aposta na formação está na moda. Os rostos mais visíveis desta tendência são os jogadores que têm tido um papel importante na equipa principal do Benfica, como Rúben Dias, Ferro, Florentino e sobretudo João Félix, que vai ser transferido para o Atlético de Madrid por uma soma recorde de… 126 milhões de euros. Mas a vitória no FC Porto no campeonato de juniores e sobretudo na UEFA Youth League, espécie de Liga dos Campeões jovem, provam que também há talento no Olival. Nesta temática, é necessário não esquecer que o Sporting é um clube que tradicionalmente catapulta muitos jovens para a equipa principal, com destaque para os Bolas de Ouro Luís Figo e Cristiano Ronaldo. E ainda há o Sp. Braga, que tem vindo a desenvolver infraestruturas e a criar condições para não se atrasar nesse aspeto.

Da baliza ao ataque, há jogadores em todas as posições na forja para despontarem na liga portuguesa em 2019-2020. O DN consultou o antigo selecionador nacional nas seleções jovens Carlos Dinis e o treinador e autor do blogue Lateral Esquerdo, Pedro Bouças, que acompanham regularmente o futebol de formação, para conhecer as promessas do futebol português que estão prestes a aparecer nas equipas principais dos respetivos clubes.

Guarda-redes

Para Carlos Dinis, o guardião portista Diogo Costa, de 19 anos, “é uma grande promessa”, mas que depois de mais de 50 jogos no FC Porto B “precisa de confirmação” e “para isso precisa de outro tipo de oportunidades”. “Dificilmente vai jogar na equipa principal do FC Porto, mas terá de ter a possibilidade de jogar num nível elevado para que venha a ser um guarda-redes de grande futuro. As suas principais qualidades são o posicionamento, a serenidade, a presença e a capacidade de decidir de uma forma determinante e rápida”, considera o antigo selecionador de sub-17, sub-18, sub-19, sub-20 e sub-23, sobre um guardião que foi campeão europeu de sub-17 em 2016, de sub-19 no ano passado e que neste ano ganhou a UEFA Youth League.

Pedro Bouças, por sua vez, aposta em Luís Maximiano, dos quadros do Sporting que, com a saída de Salin, passará a ser o segundo da hierarquia dos leões, apenas atrás do titular Renan. “É o grande sucessor de Rui Patrício na formação leonina”, acredita Bouças, em relação a outro elemento da geração de 1999, que foi campeã da Europa de sub-17 há três anos. “Qualidade técnica, de decisão e até de personalidade evidentes fazem de Maximiano o futuro guarda-redes do Sporting. Apenas precisará de tempo de jogo, e de tolerância para que no erro continue a jogar e a crescer, para poder ser um dos melhores em Portugal”, vaticina o treinador.

Defesas centrais

Uma posição que em termos de seleção nacional está algo envelhecida, mas com uma dupla portista a gerar grandes expectativas e que poderá aproveitar as saídas de Éder Militão e Felipe para ganhar espaço na equipa de Sérgio Conceição nesta temporada: Diogo Queirós e Diogo Leite. “Têm qualidade, poderão integrar o plantel do FC Porto e vão com certeza fazer uma boa carreira. São jogadores fortes, consistentes, fortes no jogo aéreo, com capacidade de passe e boa leitura de jogo. Se tiverem oportunidades, podem vingar no futebol sénior”, resume Carlos Dinis.

Diogo Queirós, além de bicampeão europeu sub-17 e sub-19, tem capitaneado as equipas da sua geração no FC Porto. “Articula defensivamente com grande qualidade com Diogo Leite. Menos audaz nos momentos ofensivos, mas mais forte nos duelos defensivos. O FC Porto tem qualidade nos seus jovens para refazer o centro da sua defesa. Tudo o que Queirós precisa é de minutos ao mais alto nível para disparar o seu valor”, frisa Pedro Bouças, sobre um central de 20 anos que leva mais de 50 jogos pelos bês azuis e brancos.

Quem já mereceu oportunidades por parte de Sérgio Conceição foi Diogo Leite, utilizado em seis jogos dos dragões na época passada e um jovem central “dos mais requisitados na Europa do futebol porque com ele traz qualidade técnica e de tomada de decisão de excelência”. “Tem no seu perfil traços de jogador de grande clube pelo que acrescenta ofensivamente, mas ainda precisa de melhorar no controlo do ‘um contra um’ defensivo para poder ser olhado de outra forma por Sérgio Conceição”, acredita Bouças.

Porém, os centrais promissores não se esgotam no Olival. No Benfica há Pedro Álvaro, da geração posterior (2000), mas que vai chegar ao primeiro ano de sénior já com uma dúzia de jogos na equipa B das águias. “É um central que prima pela concentração mental e capacidade para ser eficaz quer no momento defensivo quer no ofensivo. Assume com qualidade a posse, liga o jogo ofensivo, e sem bola para lá da qualidade no posicionamento e deslocamento, também é forte nos duelos. Poderá ser uma ótima quarta opção à espera do seu espaço”, crê Bouças, sobre um defesa que vai integrar a pré-época da equipa principal.

Lateral direito

Garantido por Sérgio Conceição na pré-época do FC Porto, Tomás Esteves terá em 2019-2020 o seu primeiro ano de… júnior. Por isso, “não é expectável que tenha impacto imediato”, embora vá trabalhar com o plantel principal no período preparatório. “É um lateral direito de grandes qualidades físicas, técnicas e cognitivas. Não é o vulgar ‘acelera’, mas antes alguém que pensa o jogo e progride pelos espaços adequados ligando ofensivamente a equipa. É o futuro lateral do FC Porto!”, vinca Pedro Bouças, sobre um miúdo nascido em 2002 e que foi importantíssimo nas conquistas da UEFA Youth League e do título de juniores.

Lateral esquerdo

Nuno Tavares é outro jogador do Benfica que vai entrar no primeiro ano de sénior, mas que já soma mais de uma dúzia de jogos na equipa B das águias, estando confirmado que vai integrar a pré-época às ordens de Bruno Lage. “Lateral esquerdo com capacidades físicas tremendas. Tem o perfil para fazer todo o corredor esquerdo dos encarnados sempre a grande velocidade. Terá de melhorar ainda a decisão para se poder impor no onze, mas o potencial é evidente, e um dia mais tarde estará preparado para assumir o lugar na equipa”, acredita o autor do Lateral Esquerdo.

Médios

Numa posição em que Portugal está bem servido, Romário Baró foi um dos destaques da equipa portista de sub-19 que conquistou o título nacional e a UEFA Youth League. Elogiado tanto por Carlos Dinis como por Pedro Bouças vai entrar no primeiro ano de sénior pela porta da equipa principal, depois de mais de 40 jogos pelos bês. “É um jogador de grande talento e que se espera que atinja outros patamares. É um jogador com grande margem de progressão, que causa desequilíbrios no meio-campo, que é uma coisa importante para um médio. É importante que os jogadores de meio-campo não sejam só jogadores de passe mas também que sejam capazes de criar alguns desequilíbrios”, frisa o antigo treinador nas seleções jovens.

“É muito elegante no trato da bola e consistente na sua tomada de decisão, é um médio capaz de definir com muito critério todo o jogo”, acrescenta o blogger, que ainda receia dificuldades na adaptação à forma de jogar da equipa principal. “O modelo de Sérgio Conceição, porque contempla médios de maior agressividade e capacidade para fazer longas distâncias, parece não ser o mais adequado para Romário, que ainda assim poderá, defendendo no corredor lateral, encontrar espaço para singrar no FC Porto, pois o seu talento é uma evidência.”

Outro médio nascido em 2000 é o benfiquista Tiago Dantas, apontado como um dos principais craques da geração dele, levando já cerca de duas dezenas de encontros pela equipa B das águias. “É um médio com uma qualidade técnica incrível. Não perde uma bola e passa sempre bem, quer na execução quer na decisão. Tem já qualidade para uma ideia de jogo grande. Poderá jogar na posição de Pizzi, ou num dos lugares do meio, embora aí tenha menos argumentos na reação à perda da bola”, considera Pedro Bouças, sobre um jogador de baixa estatura (1,69 m) que vai integrar a pré-época encarnada.

Extremos

Não só dos três grandes se faz o futuro do futebol português. Campeão e melhor marcador do Europeu sub-19 do ano passado, o extremo bracarense Francisco Trincão é uma das maiores promessas do futebol português, tendo participado já em oito jogos da equipa principal dos minhotos. “Há alguma expectativa em torno daquilo que ele poderá fazer. É um jogador com grande potencial, que tem capacidade de decisão, é forte no um contra um e que pode resolver dentro da área, porque tem serenidade, mesmo jogando na ala”, salienta Carlos Dinis, sobre um jogador que leva já perto de 50 encontros ao serviço do Sp. Braga B.

Por outro lado, também não são apenas jogadores portugueses a gerar grande expectativa. Em janeiro, o Sporting contratou o extremo equatoriano Gonzalo Plata, eleito pela FIFA o terceiro melhor jogador do Campeonato do Mundo de sub-20 que terminou a 15 de junho na Polónia e no qual a seleção sul-americana conquistou a medalha de bronze. Nascido em 2000, ou seja, prestes a entrar no primeiro ano de sénior, “Plata tem um drible verdadeiramente desconcertante, ao qual alia uma velocidade quer de execução quer de passada capaz de desequilibrar por completo todo um corredor”, caracteriza Pedro Bouças. “Ainda tem dificuldades normais na definição no último terço, mas essas serão ultrapassadas com tempo de jogo num contexto de nível elevado. Poderá perfeitamente ter tempo de jogo e impacto já na presente época”, acrescenta o autor do Lateral Esquerdo.

Uma aposta, não tão para o imediato, é Tiago Gouveia, que em 2019-2020 vai para o segundo ano de júnior. Ainda não se estreou pela equipa B, mas já contabiliza 19 jogos e seis golos pelos sub-23 na Liga Revelação. “Potência e velocidade incrível e sobretudo uma perceção dos movimentos e timings para enquadrar as suas ruturas no jogo da equipa que o tornam um definidor capaz de resolver jogos no último terço. Poderá ser a surpresa da formação encarnada na época vindoura”, crê Bouças.

Avançados

O benfiquista Nuno Santos não é ponta-de-lança, mas “no modelo da equipa sénior”, com a qual vai trabalhar pelo menos durante a pré-época, “encaixaria na posição de ala ou de segundo avançado”, considera Bouças. O jovem médio ofensivo/extremo/segundo avançado esteve na conquista do Europeu sub-19 no ano passado e, depois de quase meia centena de jogos pelo Benfica B, é candidato a estrear-se na equipa principal das águias em 2019-2020. “É muito refinado tecnicamente e com grande capacidade para pensar o jogo. Não é tão desenvolvido do ponto de vista físico, e por isso chegará mais tarde à ribalta, mas o potencial é inegável”, acrescenta o treinador e blogger.

Ponta-de-lança puro é o portista Fábio Silva, de apenas 16 anos. Nascido em 2002 e filho do antigo central/médio defensivo boavisteiro Jorge Silva, foi o homem-golo da equipa júnior portista que venceu o título nacional e a UEFA Youth League na época passada e é presença confirmada na pré-época do plantel às ordens de Sérgio Conceição. “Tem uma facilidade tremenda para somar golos, fruto de uma leitura e inteligência nos movimentos e no encontrar de espaços absolutamente invulgar”, caracteriza Pedro Bouças, que diz estarmos perante um “jogador muito agressivo que também no momento defensivo ajuda a equipa a condicionar os adversários” e que “tem o perfil que Sérgio Conceição aprecia, embora seja ainda muito novo”.”