Liderança partilhada e conhecimento empírico

“Um dia perguntei-lhe (José Maria Pedroto): Mister, qual é o segredo do seu sucesso? E ele riu-se e disse-me: Ter bons jogadores… e trabalhar muito e ser muito mais esperto que os outros” – Jesualdo Ferreira em entrevista ao Porto Canal

Através desta citação, falaremos de liderança e de conhecimento empírico. Um dos 4 tipos de conhecimento.
É através da nossa interpretação do mundo que fazemos a diferença nela e nos outros. Como outros, tendo o conhecimento empírico, científico, filosófico e teológico/religioso, se tornam líderes de referência em qualquer tipo de área.

Com todos os treinadores que falo, entendo a importância de haver uma dupla que conjugam os tipos de conhecimento anteriormente mencionados. Podemos falar de Klopp-Buvac, Guardiola-Estiarte, Ferguson-Queiroz, Clough-Peter Taylor, Robson-Mourinho, Mourinho-Rui Faria, etc. É na esperteza que Jesualdo menciona na conversa que teve com Pedroto que podemos ver o conhecimento empírico. É o dar espaço, é o entender que não se sabe de tudo sobre tudo, o conhecimento intrapessoal, e que se tem de dedicar tempo a outros factores essenciais para o alcance do sucesso de uma equipa de futebol que se vê a liderança. E é nessa liderança partilhada que se vê os maiores líderes. Porque vê-se a importância de uma relação win-win.

Luís Lourenço em “Mourinho, a descoberta guiada” fala da liderança do treinador português. Mourinho posiciona-se dentro do círculo e não no topo da pirâmide. Mourinho, inúmeras vezes, referiu que Rui Faria era o seu treinador de campo. Mourinho era o líder que se ocupava das dinâmicas de grupo fora e dentro dele.

“Fomos diretos para um clube noturno de chamado Euro Palace, nos arredores de Mainz. Klopp estava no meio da festa. Queria estar connosco e não ficar em casa sentado no sofá. Às 10 da manhã, lá estava a trabalhar. Ele era o nosso treinador mas queria estar presente quando era o nosso momento da celebração e isso era óptimo” – Sandro Schwarz em “Klopp: Bring the Noise”

Klopp ocupou-se desde muito cedo de ter uma liderança partilhada com Buvac. Desde os primeiros tempos de Mainz. Mas desde muito cedo que procurou controlar o seu espaço que não era apenas o treino e o jogo. Havia mais por dar e mais por receber.

“Sarri trabalha 15 horas por dia e para ele só existe o relvado. Não tem tempo para criar laços, pelo menos no local de trabalho. Em três anos aqui acho que ele nunca participou num jantar de equipa. Pensa só no trabalho de campo, na gestão dos jogadores e nos jogos. Tudo o resto é um mundo que não lhe pertence e isso pode ser bom ou mau.” – Aurelio Di Laurentiis, Presidente do Nápoles

Maurizio Sarri é o oposto ao que anteriormente foi referido.

“A minha mulher estava na clínica e nós íamos jogar em casa nessa noite frente ao Sassuolo. Estávamos a ver uns vídeos e o meu telemóvel não parava de tocar. Sarri era o nosso treinador, um tipo muito intenso. Decidi não atender. No final, saí da sala a correr e liguei. ‘Tens de vir, o nosso filho vai nascer’, disse a minha mulher. Fui ter com o treinador e disse-lhe: ‘Mister, tenho de ir, o meu filho vai nascer’. Ele respondeu: ‘Não, não. Preciso de ti, não podes ir’. Expliquei-lhe: ‘Suspenda-me, multe-me, não quero saber. Eu vou. Às 16 horas, voltou a ligar-me… É louco! No bom sentido, claro, mas é louco! Fui a ‘voar’ para o estádio e estava preparado para jogar. Estou eu a vestir-me e Sarri entra com a folha que mostrava a equipa. Eu olho, olho e o meu número não está lá. Disse-lhe: ‘Mister, está a brincar comigo?’ Ele respondeu-me que era a opção dele. ‘Mister, o meu filho, a minha mulher! Disse-me que precisava de mim!’. Sarri só me disse: ‘Sim, preciso de ti no banco'”, disse o internacional senegalês, Kalidou Koulibaly

Para se ser treinador, é necessário ser esperto. Para se ser pessoa num mundo altamente competitivo, é necessário ser inteligente. É importante SER em vez de parecer. E quando não se é, é importante termos alguém perto de nós para se SER em vez de nós próprios. Liderança é dar e receber. Mais dar do que receber. Quando nos afundamos num labirinto de pensamentos negativos, é importante que alguém nos saiba direccionar. Estamos sempre perante alguém que precisa de nós. Em casa ou no trabalho. O nosso sucesso advém dessa liderança. Dar um feedback positivo ou negativo da melhor forma a não prejudicar ninguém. Haverá melhores e mais líderes se houver partilha. Ontem e hoje estou perante verdadeiros líderes e com carisma. Que num momento de aparição, fazem a diferença na disposição de uma pessoa. É nesses momentos de liderança pessoal do seu líder máximo que estão as equipas de sucesso de forma constante. Ninguém nasce líder ou carismático, aprende-se. Com esperteza, claro.

“Para ser grande sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. 
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive”
Fernando Pessoa, poema do heterónimo Ricardo Reis, 1933

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