Jesus é o Senhor – Fla tritura no Brasileirão

Impacto imediato. Ao primeiro jogo, a maior goleada de um Brasileirão que leva já cerca de 100 jogos disputados.

O impacto que Jorge Jesus poderá ter no Brasileirão só não foi adivinhado por quem não conhece o jogo e o treinador português. O Brasil ainda vive na era do individual (uma espécie de pré-modelo… quanto mais estratégia, se ainda nem modelo há). Onde tudo o que é colectivo é apenas no geral sem qualquer detalhe. O homem que mudou a Liga Portuguesa só não mudará o Brasileirão que vive tacticamente onde Portugal estava há 10/15 anos atrás, se os seus próprios jogadores não lhe derem oportunidade de o fazer, por não quererem mudar hábitos.

é que os movimentos defensivos são sempre colectivos, não é individual… Eu como zagueiro achava que sempre saía no combate, que isso era a função do zagueiro, jogar no mano a mano, mas não é só isso, todo um sistema defensivo… quando um zagueiro sai, o que o outro tem de fazer, o que a linha tem de fazer, tou a aprender bastante com ele…

Leo Duarte

No primeiro jogo do Brasileirão, o Maracanã vestiu-se de gala para ver uma equipa que embora com apenas dias de trabalho, já caminha para ser a melhor tacticamente de todo o campeonato.

O bloco alto da linha defensiva, aproximando-se dos médios encurtou o espaço entre estes sectores, e deixou o Goias sem espaço para jogar, obrigado a colocar sucessivamente bolas na frente sem critério, a perder a posse e a ser engolido e remetido ao seu meio campo defensivo.

Mas, o impacto das ideias de Jorge Jesus no Brasil estão muito para além dos momentos defensivos. Com bola, e perante (des)organizações que não fecham os espaços vitais (corredor central entre médios e defesas), as rotas ofensivas do Flamengo, quer em Organização Ofensiva (ataque organizado) quer em Transição Ofensiva (segundos que se seguem após a recuperação da posse da bola), tornam a equipa um sério candidato a somar sempre vários golos.

BLOCO JUNTO – COMPACTOS – Equipa não parte e elementos não ficam afastados uns dos outros
Chegada Junta em ORGANIZAÇÃO OFENSIVA Com espaço e com boas decisões, Flamengo monopoliza o jogo e chega ao último terço com facilidade e presença ofensiva!
Em TRANSIÇÃO OFENSIVA – Procura do ESPAÇO CENTRAL só de frente para os defesas (porque ai ataca contra menos – só defesas – e com possibilidade de escolher três caminhos diferentes para chegar à baliza adversária

No momento defensivo, o Mengão a fechar o espaço defensivo, onde ofensivamente tanto gosta de furar. Convite a adversários para irem por fora do seu bloco (corredor lateral), e ai apoio de um dos médios a fechar o espaço entre lateral e zagueiro, oferecendo cobertura defensiva, tapando o caminho para a baliza. Tudo, enquanto no corredor central, os defesas que ficam permanecem alinhados, preparados para responder a cruzamento.

Na hora da recuperação da bola, o movimento característico da saída em contra ataque das equipas de Jorge Jesus que defendem com 2 como avançados. Portador da bola conduz para o corredor central, e um dos avançados movimenta-se para o corredor de onde vem a bola.

Fla a defender – Fecho de Espaços; Saída em Contra Ataque – Movimento habitual dos Avançados

A entrada no Brasileirão foi de um impacto tremendo, e percebem-se facilmente como as ideias vêm sendo passadas. Por agora a maior dificuldade prende-se com a dificuldade que os Zagueiros têm sentido para não errar. Foram erros individuais sucessivos, que fazem Jorge Jesus ansiar pela chegada de Pablo Mari.

Voltaremos com análise ao individual (Jogadores)


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Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

3 Comentários

    • Excelente estudo, aguardando pelo próximo material. Aguardando também a análise do posicionamento nas bolas paradas

  1. Não vi o jogo e não vou poder ver os futuros jogos, tirando uma ou outra excepção, mas tenho acompanhado dentro do possível (e também o Santos do Sampaoli – o JJ é melhor treinador do que o argentino, na minha opinião). Pelos vídeos que publicaram e daquilo que vejo, muitos jogos podem virar um autêntico passeio. Até porque o Flamengo tem um grande plantel, pelo menos Rafinha, Rodrigo Caio, Cuellar, Diego, Everton Ribeiro e Arrascaeta são excelentes jogadores em qualquer parte do mundo. E sabem muito sobre o jogo. E ainda vão chegar mais, o Gerson tem uma habilidade incrível e confio nas vossas dicas sobre o defesa espanhol. Engraçado como naquele contexto as dificuldades com bola das equipas do JJ talvez não se façam notar tanto. Dois pormenores do que vou lendo e ouvindo:

    – Muitos jornalistas e adeptos estão preocupadíssimos com a defesa alta, ou seja, estão todos borrados pela falta de conhecimento que carregam. Suspeito que em determinados jogos os adversários do Flamengo vão bater os recordes de foras-de-jogo (já começou no jogo contra o Athletico, que teve três golos invalidados por essa razão);

    – Muita curiosidade para ver o que o JJ vai fazer com a gestão dos jogadores, comunicação social e adeptos. Ele não tem feeling para estas coisas – apesar da experiência que carrega e que de certeza já o fez reflectir e mudar algumas práticas – e está num contexto muito agressivo. Os jogadores são bastante próximos dos jornalistas, os jornalistas são próximos de toda a gente e têm muito espaço para trabalhar (é um grande elogio porque é assim que deve ser) e os dirigentes brasileiros são altamente populistas. Tomam decisões com foco na torcida e no bolso, o resto é resto.

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