A tarde de Arrascaeta

A entrada de Jorge Jesus no Brasileirão foi avassaladora. Maracanã contagiado, golos e exibições individuais que porque suportadas por um colectivo que prepara o individual, pela forma como permite que todos saibam onde estarão e o que farão os colegas de equipa, de nível elevadíssimo. Ao longo da última década foram dezenas os jogadores que se viram extremamente valorizados por integrarem o modelo de Jorge Jesus. Um modelo que facilita a tomada de decisão porque garante mais opções ao portador da bola.

Na tarde no Maracanã, o uruguaio De Arrascaeta deslumbrou, mas não foi o único jogador do Mengão a alto nível.

Aqui fica uma análise ao individual.

De Arrascaeta. Tão importante quanto os golos que lhe deram a notoriedade e o epíteto de melhor em campo, Arrascaeta primou pela qualidade de decisão e do gesto técnico. A forma como orientou sucessivamente o jogo para o corredor central e encontrou os colegas em melhor situação, fosse em zonas de criação (espaço entre defesas e médios do Goias), ou em zonas de finalização, fez recordar o porquê de ser um “velho conhecido” do Lateral Esquerdo (aqui). Porque não se precipita e define bem os espaços por onde progredir, tem condições para ser o homem do Brasileirão no jogar de Jesus.

Everton Ribeiro. Jogou na ala contrária, e também foi capaz de ter acerto em posse muito elevado. Paulatinamente os alas de Jesus percebem que não é aceleração constante que o treinador pretende no seu jogo, mas antes uma pausa que permita a toda a equipa chegar junta à frente. Everton apresentou-se sem erros técnicos, com boa decisão e ainda a sair bem do drible para definir.

Rafinha. A experiência Europeia trouxe-lhe discernimento na decisão. Não é vulgar nos laterais tanta capacidade para não perder a bola e não acelerar apenas porque sim, mas antes ser capaz de entender o timing ideal para acelerar ou guardar a bola. Também a exigência no posicionamento defensivo é algo vivenciado anteriormente e Rafinha para lá de se ter imposto nos duelos defensivos, e da forma como discerniu quando sair em drible para o desequilibrio, demonstrou que a sua cultura táctica terá um peso muito grande na temporada do Mengão.

Gabriel Barbosa. Foi uma das figuras da partida pelos golos que somou, mas Gabriel é um dos elementos que precisa ainda de bastante evolução cognitiva para dar ao jogo o que Jorge Jesus pretende. Ainda demasiados impulsos individuais, e correria no momento em que se deve abrandar e guardar a posse. Porém, a sua qualidade técnica e facilidade para definir no último terço na hora da ultima decisão, com um colectivo forte por trás, promete deixar uma marca muito forte na presente edição do Brasileirão. Podem esperar golos e uma importância crescente, também nas saídas para o contra ataque, quer pelos movimentos quer pela qualidade de execução quando encontra espaço.

Diego. Porque não tem a agressividade e reactividade defensiva que tanto exige Jorge Jesus, acabará por alternar o lugar no 11 inicial com os colegas. Nos jogos cujo ritmo se preveja mais baixo, Diego deverá ser aposta, porque ninguém como ele pensa tão bem o jogo. Ninguém como Diego define tão bem a rota ofensiva do Flamengo. Fabuloso a encontrar os colegas no espaço entre linhas (entre defesas e médios do Goias), é o primeiro jogador do Flamengo a desequilibrar em cada jogada. É um facilitador, responsável por muito do sucesso que os colegas têm no último terço.


MAIS CONTEÚDOS EXCLUSIVOS  na página de patronos deste projecto. Recordamos que 1 dollar mês será desde logo uma grande ajuda, e suficiente para poder ver tudo o que é por nós produzido


Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

4 Comentários

  1. Obrigado pelos artigos que seguem a evolução do futebol no Brasil.
    Muito obrigado pelo conteúdos didácticos para estou leitor habitual.
    Obrigado pelos conteúdos so nosso JJ.
    CC
    continuem por favor.

    Um pergunta:
    Será que o Jesus vai encontrar rivais tácticos à altura?
    Será que vai enfrentar treinadores que vão organizar as suas equipas com defesas compactas como em Portugal?

    • Teremos confrontos de escolas. Os jogos contra o Palmeiras de Luís Felipe Scolari, que tem um time reativo, defesa sólida, contra ataque muito veloz serão jogos interessantes de assistir se o Flamengo conseguirá encaixar o seu jogo. Jorge sampaoli no Santos também irá gerar confrontos táticos, pois e técnico que analisa seus adversários nos mínimos detalhes. Com Renato gaúcho do Grêmio, Roger do Bahia são os técnicos que pelo trabalho e elenco podem gerar mais dificuldade. Além do athetico PR próximo jogo, será um confronto direto de eliminação. Athetico e um time bem treinado e que neste jogo usará ainda mais a velocidade. Olho no Bruno Guimarães armando o jogo

  2. O que achou do jogo do Arão e do trauco?
    Diego está em evolução, pois está soltando a bola mais rápido, ele tem este problema.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*